A excepção

Disse o primeiro-ministro que não aceita lições de liberdade dos comunistas portugueses. Ora, não consta que os comunistas portugueses queiram dar tais lições a José Sócrates: o que lhe exigem é que respeite as liberdades conquistadas pelos portugueses em 25 de Abril de 1974 - liberdades políticas, económicas, sociais e culturais, que o Governo PS/Sócrates, como vê quem não quer ser cego, viola todos os dias com a sua política de direita.
Os comunistas portugueses apenas dizem, dizendo a verdade, que, ao longo dos seus 86 anos de vida, o PCP sempre - em todos os momentos e em todas as situações - ocupou a primeira fila da luta pela democracia e pela liberdade: desde o tempo do fascismo, em que lutar por esses objectivos tinha como consequência mais do que previsível as perseguições, a prisão, as torturas e, em muitos casos, a morte - até aos tempos de hoje em que o regresso às limitações da liberdade e da democracia é a linha dominante da política do Governo presidido por José Sócrates.
Tudo indica, aliás, que Sócrates é um caso perdido em matéria de aprender lições sobre liberdade e democracia. Ele já aprendeu tudo a esse respeito, e os seus mestres foram os chefes dos grandes grupos económicos e financeiros ao serviço dos quais ele governa - com o mesmo empenho com que Salazar servia o grande capital do seu tempo. E tem sido um bom aluno, reconheça-se. Se não, veja-se como, através da sua governação, põe em prática, diligentemente, as lições recebidas: flexigurança; precariedade; desemprego; salários de miséria; pensões e reformas indignas; liquidação do SNS; criação de uma rede de bufos e delatores capaz de fazer inveja à do regime fascista; vigilância e perseguição policial a quem se atreve a criticar o Governo, e especialmente o primeiro-ministro - e tudo isto (e muito mais) tendo como pano de fundo a entrega da independência e da soberania nacionais ao grande capital europeu e norte-americano.
Um coisa há que reconhecer: por enquanto, Sócrates ainda não seguiu o exemplo de Salazar de decretar a dissolução dos partidos e mandar prender e torturar os que resistem à sua política antidemocrática. Lá chegará? Com tão bons mestres, é bem possível que sim.
Se isso acontecesse, lá se repetiria a história: todos os partidos acatariam a ordem de dissolução e iriam para casa aguardar melhores dias.
A excepção seria, naturalmente, o PCP. Que não se dissolveria e resistiria. A confirmar, uma vez mais, que é um partido diferente dos que são todos iguais.


1 comentário:

Anónimo disse...

A luta continua!, sempre e seja qual for a situação. Hoje, como nos últimos 86 anos. E nos próximos 86 anos.