POÉTICA
Quando se nos acabam as palavras,
no momento preciso em que nos fartamos de Saint John Perse
e J.R.J.
(poetas decididamente respeitáveis)
quando vamos olhando as coisas, vivendo entre as coisas
com um amor profundo
e uma melancolia que deve qualificar-se ainda assim de
"profunda sem dúvida",
no instante em que recebemos uma estranha espécie de patada
no peito e as coisas nos correm bem e estamos bem,
quando estamos entre gente e estamos sós,
se estamos sós e todo o mundo está connosco,
se ficamos a olhar um ponto fixo -
há que continuar.
Apesar dos que prefeririam palavras mais tranquilas,
talvez por eles mesmos,
pelo que vale tudo para todos,
pelos que choram e não são ouvidos,
pelo que fazemos juntos, enquanto restem
tantos sofrimentos, tantas decepções -
há que continuar.
Digo: estender o pescoço, cerrar os dentes
e continuar
digam os comemerdas o que quiserem.
Ou para o dizer de uma maneira definitivamente mais clara:
cagar-se na notícia.
Guillermo Rodriguez Rivera
5 comentários:
Excelente!
"estender o pescoço, cerrar os dentes e continuar". É isto mesmo!
E mais um poema que não conhecia... Obrigada.
Um beijo grande
É uma gaita, isto de optar pela intranquilidade.
Abraço
...e continuar. Há que continuar, apesar de tudo!
Este é um poema-lição...
Fernando Samuel
Por acaso é que ando a fazer para as noticias...
beijos
Maria: «Há que continuar» - sempre.
Um beijo grande.
samuel: na verdade, é um raio de uma opção...
Um abraço.
Justine: sempre!
Um beijo.
Ana Camarra: e fazes bem...
Um beijo.
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