POEMA

BURGUESES


Não tenho pena dos burgueses
vencidos. E quando penso que vou ter pena,
aperto bem os dentes e fecho bem os olhos.
Penso nos meus longos dias sem sapatos nem rosas.
Penso nos meus longos dias sem chapéu nem nuvens.
Penso nos meus longos dias sem camisa nem sonhos.
Penso nos meus longos dias com a pele proibida.
Penso nos meus longos dias.

- Isto é um clube. Aqui não pode entrar.
- A lista já está cheia.
- Não há quarto no hotel.
- O senhor não está.
- Rapariga precisa-se.
- Fraude nas eleições.
- Grande baile para cegos.
- A taluda saiu em Santa Clara.
- Tômbola para órfãos.
- O cavalheiro está em Paris.
- A senhora marquesa não recebe.

Enfim, recordo tudo.
E como recordo tudo,
que caralho me pede você que faça?
E além disso, pergunte-lhes.
Com certeza
que eles também se lembram.


Nicolás Guillén

7 comentários:

miguel disse...

obrigado!
bom 2009

Maria disse...

Hoje adiantaste-te tu...
Vou alterar o meu de amanhã.
Obrigada, este poema é belíssimo!

Um beijo grande

samuel disse...

Certamente que se lembram! Os crimes perseguem essa canalha como um "halo" de luz negra...

Grande poema!

Abraço

Anónimo disse...

Não se lembram, ou não querem lembar-se. Boa escolha. Abraço

Fernando Samuel disse...

pedras contra canhões: abraço grande e força para a luta.

Maria: desculpa lá, acontece...
um beijo grande.

samuel: iluminam-lhes a obra...
Um abraço.

Ludo Rex: lembrar, lembram, ma não gostam...
Um abraço.

Ana Camarra disse...

Olha o Nicolás é outro dos poetas da minha vida!
Quem te disse?

Fernando Samuel disse...

Ana Camarra: adivinhei...


Um beijo.