REVOLUÇÃO
Havia uma palavra fundamental.
Dissemo-la uma noite perto da mulher
que soluçava junto do cadáver
do filho morto a tiro.
Dissemo-la uma tarde quando os sicários
lançaram sobre o cais o afogado,
porque estava nas pálpebras
e no vazio da boca.
Repetimo-la quando o sangue dos nossos camaradas
corria sobre os ladrilhos de San Lorenzo
arrastando pequenos fragmentos encefálicos,
filamentos de vísceras fugazes
urina e rum e alentos rancorosos.
Fomo-la repetindo nas enfermarias,
nos prostíbulos com ébrios e marujos,
nos cinemas e nas fábricas.
Dissemo-la um dia entre estampidos e clarins
à hora de uma das vitórias,
gritámo-la à porta dos escritórios,
das embaixadas e das escolas
até que vimos uma coluna de gente
erguida pela palavra persistente.
À nossa volta reinava o silêncio
que cerceia todo o som,
o silêncio sem parques,
sem escolas, sem fábricas,
o silêncio sem rotativas,
sem carabinas, sem crianças,
o silêncio sem recordações
sem quandos nem mais tardes,
em que começámos a repetir
a esclarecer a esgrimir a acariciar
essa ardente palavra.
Aldo Menéndez
9 comentários:
Este poema é especialmente bonito: acariciar uma palavra, acariciar revolução... só mesmo tu, Fernando Samuel.
Obrigada.
Um beijo grande
Comovente... Haja Revolução.
Abraços
E um dia a Revolução será uma realidade.
Forte!
Emocionei-me.
O poema é lindo, a Revolução é o desejo.
Bjs,
GR
Ela Virá!
Fernando Samuel
É assim em todas as coisas que se forja a vontade também.
beijos
E como a principal tarefa de um revolucionário é fazer a Revolução, o mais avisado é tratar de a fazer mesmo! Saudações.
Maria: só mesmo eu, isto é:só mesmo o poeta cubano...
Um beijo grande.
ludo rex: haja luta revolucionária...
Um abraço.
Antuã: é inevitável.
um abraço.
samuel: o belo é forte...
Um abraço.
GR: é isso mesmo.
Um beijo.
Hilario: sem dúvida.
Um abraço.
Ana Camarra: revolução é vontade...
Um beijo.
Julio Filipe: a principal tarefa SEMPRE... Vamos a ela...
Um abraço grande.
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