O QUE ESTÁ A DAR

Pelo que nos é dito, esta crise do capitalismo internacional vai ser pretexto para muitos sacrifícios - e também, isto digo eu, para muitos benefícios.

Os sacrifícios recairão sobre os mesmos de sempre: quem trabalha e vive do seu trabalho; quem já trabalhou e deveria ter, mas não tem, reformas e pensões dignas; quem quer entrar no mundo do trabalho e só vê à sua frente intransponíveis muros (ou, na melhor da hipóteses, uma espécie de emprego nessa modalidade sinistra e brutalmente violadora dos direitos humanos que é a precariedade)

Os benefícios recairão sobre os mesmos de sempre: os grandes grupos económicos e financeiros, para os quais o lucro está sempre assegurado - quer a situação seja de crise económica, quer seja de retoma económica, quer seja de alta económica.
É assim desde o longínquo ano de 1976, quando Mário Soares iniciou a política de direita, de então para cá praticada pela mesma família política - PS/PSD/CDS-PP - numa espécie de sucessão dinástica que faz lembrar uma monarquia de tipo novo...

Nas situações de aperto como a actual - que são, sempre, momentos em que a hipocrisia não tem limites para os verdadeiros responsáveis por essas situações - multiplicam-se os apelos à boa vontade de todos, à conjugação de forças e de esforços de todos, ao patriotismo de todos, até!...

O primeiro-ministro é um especialista na matéria: pediu sacrifícios (aos mesmos de sempre) quando assumiu o cargo - nessa altura alegando que o governo anterior tinha deixado o país numa desgraça, etc, etc; pediu sacrifícios, agora, alegando que a crise internacional, etc, etc; pedirá sacrifícios mais tarde, alegando que as consequências da crise foram devastadoras, etc, etc...
O Presidente da República dedicou parte do seu discurso de Ano Novo pedindo aos partidos (todos!) que juntem forças para responder à crise.

Tais pedidos, sempre amplamente difundidos pela comunicação social dominante, acabam por influenciar pessoas e entrar na linguagem corrente como coisa positiva, natural, enfim, o que está a dar.
E influenciam, até, quem era suposto não se deixar influenciar...
É o caso do BE que, num dos seus cartazes por aí espalhados, proclama a necessidade de
«Juntar forças
Responder à crise» - frase que nada diz, fingindo dizer tudo, e que, por isso mesmo, vai toda ela no sentido dessa nova forma de fazer política intitulada o que está a dar...

11 comentários:

Ana Camarra disse...

Fernando Samuel

Eu sacrificada lembro-me de muita coisa, lembro-me de terem tirado metade do subsidio de Natal em nome da crise, de me terem retirado vários direitos, laborais, sindicais, maternais, de saude, em nome da crise.
De outras crises, que são sempre a mesma, da mesma forma que eu sou sempre dos sacrificados, são mais que horasde terminar com isto!

Beijos

Crixus disse...

Camarada,

Eu já tinha pensado fazer um post sobre esse cartaz do BE, e neste caso concordo que não diz nada, mas olha que tem muito que se lhe diga...
1º Juntar forças. Com quem? Só vejo uma hipotese, é que há no BE quem esteja mortinho por sentar o rabo numa cadeira de ministro e se o PS não tiver maioria absoluta é a oportunidade deles.
2º Responder à crise. Isso é o que o Socrates, e o Santana, e o Barroso e, como lembras, todos desde o Soares têm feito. Responder à crise dando dinheiro aos bancos, transferindo as consequencias de politicas erradas e de ambição desmedida para os trabalhadores, cortando nos serviços publicos, privatizando, etc... Vamos ver o que vai dar, mas cá para mim o BE está-se a peparar para entrar na dinastia PS/PSD/CDS.

samuel disse...

"Juntar forças. Responder à crise"

Bela frase... suficientemente genérica para justificar seja o que for que se faça ou diga a seguir...

Abraço

Maria disse...

E porque não "Juntar forças. Nós. Para respondermos a todos estes gajos"?

Um beijo grande

Anónimo disse...

Isto está UM por todos, e todos contra UM, até quando companheiros?
O grande capital mesmo muribundo continua a mandar, através dos lacáios eleitos pelo povo, para traírem o povo.
Que fazer?
Arranjar forças para lutar, por todos e por cada um!
Abraço companheiro

Anónimo disse...

Fernando,

Demagogia esquerdista, sede de protagonismo, sem nada que vender e tudo por roubar.

A revolução é hoje!

Chalana disse...

A crise como "justificação teórica", pra juntar forças ao centro (Alegre), diluindo um programa de esquerda que não permitiria "juntar tantas forças". Berlinguer dejá vu

Anónimo disse...

Eles parecem novinhos, mas sabem-na toda...

Rui Silva

Anónimo disse...

eles vão à boleia da imprensa do capital seu grande apoiante.

Hilário disse...

Fernando,
O que vai dar, é nós juntarmos todas as nossas forças para acabar de uma vez por todas com este sistema.
NóS queremos alterar o sietema, não queremos pactuar com ele!

A luta continua!
Um Abraço

Fernando Samuel disse...

Ana Camarra: acabar com isto já, já é tarde de mais...
Um beijo.

crixus: para entrar oficialmente, é claro...
Um abraço.

samuel: exacto, dá para tudo.
Um abraço.

Maria: vamos a isso!
Um beijo grande.

poesianopopular: tu deste a resposta...
Um abraço.

CRN: e um apoio incondicional dos média dominantes...
Um abraço.

Chalana: é mais ou menos isso...
Um abraço.

Rui Silva: não são tão novinhos como isso...
Um abraço.

Antuã: e eles lá sabem porquê...
Um abraço.

Hilário: é claro que enquanto este sistema existis, existem estas coisas...
Um abraço.