O primeiro governo constitucional, chefiado por Mário Soares, deu início, em 1976, a uma brutal ofensiva contra as conquistas da Revolução, tendo como objectivo destruir tudo o que de mais avançado e progressista tinha sido alcançado - ofensiva que foi prosseguida por todos os governos que lhe sucederam ao longo de 32 anos.
A Reforma Agrária foi o primeiro alvo dos inimigos de Abril.
Contra ela foi lançada uma operação cheia de ódio de classe que se desenvolveu através de ilegalidades, de roubos de terras e de gado, de sabotagens e de violenta repressão policial.
A resistência dos trabalhadores foi heróica.
No dia 27 de Setembro de 1979, uma força da GNR - comandada pelos capitães Martins e Faria e pelo sargento Maximino, todos conhecidos pelo seu ódio à Reforma Agrária - acompanhada por um grupo de agrários e por funcionários do Ministério da Agricultura, procedeu a um roubo de um rebanho de vacas na UCP Bento Gonçalves, no concelho de Montemor-o-Novo.
Os trabalhadores resistiram.
A GNR - agindo, como no tempo do fascismo, a mando dos agrários... - disparou, ferindo vários trabalhadores e assassinando dois:
ANTÓNIO CASQUINHA, de 17 anos e JOSÉ CARAVELA, de 54 anos - ambos militantes comunistas.
O Governo - na altura chefiado por Maria de Lurdes Pintasilgo - mandou instaurar um inquérito.
A principal conclusão desse inquérito também fazia lembrar as conclusões tiradas pelos ministérios do interior no tempo do fascismo quando as forças repressivas matavam:
a GNR disparou, sim, mas para o ar...
O Cravo de Abril assinala, hoje, o assassinato dos dois camaradas com um poema escrito no dia do seu funeral - que se realizou para o cemitério de Escoural e ao qual acorreram dezenas de milhares de pessoas.
(Em memória de José Caravela e António Maria Casquinha, mortos em Montemor-o-Novo pela Guarda)
1
Aqui
nesta planície de sol suado
dois homens desafiaram a morte, cara a cara,
em defesa do seu gado
de cornos e tetas.
Aqui
onde agora vejo crescer uma seara
de espigas pretas.
2
Quando os dois camponeses desceram às covas,
ante os punhos cerrados de todos nós,
chorei!
Sim, chorei
sentindo nos olhos a voz
do que há de mais profundo
nas raízes dos homens e das flores
a correrem-me em lágrimas na face.
Chorei pelos mortos e pelos matadores
- almas de frio fundo.
Digam-me lá:
para que serviria ser poeta
se não chorasse
publicamente
diante do mundo?
José Gomes Ferreira
15 comentários:
OS CALOS DA ALMA
Fustigada sementeira são os dias
Que levam o trabalho e o tempo
E deixam a semente no fruto
E maltratada a gente
Esfomeada e tanta canseira
É o produto
Choram o seu lamento
À cansada terra
Também ela de luto
João Sevivas
É um crime digno do tempo do fascismo, e que expressa bem o odio dos latifundiarios à democracia e justiça. Contudo ficou demonstrada a grandeza do povo alentejano na luta por um pais mais justo e fraterno. Por varias razões fomos derrotados, mas não vencidos.
Infelizmente, na nossa revolução, os actos de cobardia e ódio contra os que a defenderam, começaram bem cedo. Duram até hoje.
Apesar de ser miuda lembro-me perfeitamente.
Lembro-me igualmente do olhar tenso do meu pai, e da aflicção com que dizia "Agora, não se pode voltar para trás, porra!"
Voltou-se, aos poucos, infelizmente, por isso fazes bem em recordar, "porque nenhum de nós anda sozinho e até os mortos vão ao nosso lado".
VOZES AO ALTO
beijos
Porque não recordar outros tantos...tantos!!
(ainda ontem ouvi alguem dizer que a pide nunca fez mal a ninguém)
Não me calei... não me calo... nunca!
Militão Ribeiro (membro do Secretariado do PCP, é preso, torturado e morre nos calabouços da Pide em 1950, após escrever uma carta à Direcção do PCP, utilizando o seu próprio sangue como tinta)
Bento Gonçalves (Secretário-Geral do PCP, morreu no Tarrafal como algumas dezenas de outros tarrafalistas, comunistas e anarco-sindicalistas sobretudo, para ali deportados, em consequência das péssimas condições a que foram sujeitos)
Alfredo Caldeira (CCF do PCP, igualmente morto no Tarrafal pelas mesmas razões de BG)
Manuel Vieira Tomé (ferroviário e dirigente sindical, um dos dirigentes da greve geral de 18 Janeiro 1934, preso e assassinado pela polícia política em 1934)
Ferreira Soares (médico comunista de Espinho, assassinado a tiro pela Pide no seu consultório em 1942)
Germano Vidigal (operário da construção civil e dirigente sindical, assassinado pela Pide em 1945)
General Humberto Delgado (assassinado junto à fronteira espanhola por um comando da Pide)
Soeiro Pereira Gomes (escritor, membro do CC do PCP, morre em 1949, perseguido pela Pide e impossibilitado de se tratar)
José Morelra (operário e responsável pela ligação às tipografias do PCP, morre em 1950 após prisão e torturas, assassinado pela Pide)
Alfredo Lima (operário agrícola comunista de Alpiarça assassinado a tiro pela GNR em 1950)
Ribeiro dos Santos (estudante, assassinado pela Pide em 1972 - Universidade de Lisboa)
Cândido Martins (Capilé) -(operário comunista assassinado pelas forças repressivas em Almada em 1961 durante uma manifestação)
António Adângio (mineiro comunista de Aljustrel, assassinado pela GNR em 1962 durante uma manifestação)
Estevão Giro (comunista assassinado pelas forças repressivas durante a manifestação do lº Maio 1962, em Lisboa)
Alfredo Diniz (Alex) -(funcionário do PCP assassinado pela brigada da Pide comandada por José Gonçalves em 1945)
Catarina Eufémia (assassinada pela GNR em Baleizão em 1945)
José Dias Coelho (pintor, a quem José Afonso dedicou uma canção conhecida, funcionário do PCP assassinado pela Pide em 1961, em Lisboa)
João Arruda (assassinado no dia 25 de Abril de 1974 pelos pides acoitados neste edifício)
Fernando Reis (assassinado no dia 25 de Abril de 1974 pelos pides acoitados neste edifício)
José Barnetto (assassinado no dia 25 de Abril de 1974 pelos pides acoitados no edifício sede da data cuja.
A HISTÓRIA QUE MUITOS QUEREM ESQUECER ESTÁ ESCRITA COM O NOSSO SANGUE!
Ausenda
Deixei à solta a emoção. Alivia!
Uma data duplamente tremenda para mim...
Curioso o resultado do relatório pedido por MLPintassilgo...
(porque será que continuo alérgica a penas de pássaros?
Um beijo grande
Por estes e por todos os Camaradas que pereceram fisicamente na luta, para quem deu a vida para que a nossa voz, pelo menos, possa hoje ecoar e romper os muros que se continuam levantando, empunho e empunharei a vontade do povo numa bandeira, a do Partido Comunista Português!
Até à victória, sempre!
A revolução é hoje!
Nesse dia o Antuã e o Linha do Vouga encontravam-se no escoural em casa de familiares. O Linha do Vouga tinha 5 anos. Ficou de tal forma perturbado que quando via um GNRem qualquer parte do país fugia com medo.
maria teresa: são muitas as formas que assume o «luto da terra»...
crixus: as derrotas que (inevitavelmente) sofremos só seriam A DERROTA se deixássemos de lutar...
Um abraço grande.
samuel: esses actos começaram no dia em que a revolução começou...
Abraço grande.
ana camarra: muitos foram, certamente, os que reagiram como o teu pai...
Um beijo, camarada.
Ausenda: muitos dos nomes que referes já aqui foram recordados. Não podemos calar-nos...
Um beijo, camarada.
cs: se alivia!: é por isso que eles querem que escondamos as emoções...
Um abraço.
maria: há datas assim...
um beijo grande.
crn: um abraço, camarada.
antuã: impressionante, de facto.
Um abraço.
Aqueles que se percam no caminho
que importa! Chegarão ao nosso brado.
Porque nenhum de nós anda sózinho,
e até os mortos vão ao nosso lado.
Vozes ao alto!
um abraço
Estás a ver porque é que eu não consigo, falar deste chefe do iº governo constitucional? já estou a ficar com vómitos!
Abraço
hilário: ...«unidos como os dedos da mão/havemos de chegar ao fim da estrada/ ao sol desta canção».
Um abraço.
poesianopopular: estou a ver, estou...
Um abraço.
Que dizer?
Que o dia de amanhã não masi será igual.
Resistiremos. Lutaremos.
Não voltaremos atrás.
bjs
sal: lutaremos, sempre - e isso é o que mais importa.
Um beijo.
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