POEMA

A LONGA ESPERA


Até onde chegará a nossa
resistência?
Até onde
suportaremos nós,
homens de carne e osso,
a tortura inumana?
Até onde, pacientes,
metódicos,
secretos,
seremos capazes de levar
as nossas palavras
firmes e consoladoras?
Até onde ecoarão elas,
e em que ouvidos?
Até onde teremos de mascarar-nos,
de mentir,
de fingir?

Revolução,
porque tardas?
Já escarva o chão,
pronto a investir,
o gigantesco toiro,
de baba espessa,
olhos chispantes
e frementes músculos.
Já desabrocham cravos
no silêncio contido.
Já as ocultas labaredas
se preparam para desfraldar-se,
resgatadoras,
ao vento solto.
Já as multidões,
com a sua ira,
quebram em estilhaços
o lavado cristal do dia atento.
Revolução,
porque tardas?

Desdobra, cotovia amável,
como um harmónio,
a tua alacridade,
sob o frio dos escombros.
Semeia, sol,
a luz e o calor fertilizadores
pelos campos lavrados.
Dai as mãos e anunciai,
trabalhadors de todo o mundo,
o grande recomeço.
Soldados,
quebrai com ímpeto
as vossas armas arrependidas
e pisai-as.
E tu, menino, proclama,
com a tua voz de alvorada,
para além dos teus desejos,
os teus desejos realizados.


Armindo Rodrigues

11 comentários:

Anónimo disse...

Ai se uma só voz chegasse

Se a ela se bastasse

Rouca que fosse

Silenciosa

Ai se em cada voz houvesse um grito

Vozes unissonantes

Sempre que indignadas

Vozes jamais caladas

Pelo absurdo da devassidão

E omnipotência da incúria


Ai se o seu eco atravessasse

A intransigência dos poderosos

A surdez dos cegos

Eram vozes de mudança

Vozes de um mundo novo

Vozes de esperança

De um povo!!!!

Ausenda

Ana Camarra disse...

Pois tarda a Revolução, mas chega!

beijos

Anónimo disse...

Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.

É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.



A revolução é hoje!

Anónimo disse...

Já estivemos mais longe do que estamos... A Revolução Vai chegar! Um Abraço

samuel disse...

"Ah... não me venham dizer
que é fonética a poesia!"

Abraço

Maria disse...

Às vezes penso até onde irá a nossa resistência. Há situações em que não tem limites... e resistimos, e resistimos, sempre...
A revolução é também hoje, e todos os dias.

Até já e um beijo grande

Anónimo disse...

As coisas que o Armindo Rodrigues sabia!
Que poeta enorme
Que HOMEM enorme
Que força têm as suas palavras
Que contributo tão importante para lá chegarmos.
Abraço grande.

Fernando Samuel disse...

Ausenda: são necessárias muitas, muitas vozes... de esperança...
Um beijo amigo.

crn: é Armindo Rodrigues , o Poeta, o Camarada.
Abraço grande.

ana camarra: chegará... chegaremos...
Um beijo grande.

momentosydocumentos: fá-la-emos chegar, com a nossa luta.
Abraço grande.

sanuel: «ela é vida, e luta e sonho»...
Um abraço grande.

maria: é resistindo que se avança...
Um beijo grande.

poesianopopular: e é também com poemas de luta que lá chegaremos.
Abraço grande.

Anónimo disse...

É resistindo dia a dia que lá chegaremos.

Anónimo disse...

É resistindo dia a dia que lá chegaremos.

Fernando Samuel disse...

antuã: a luta é sempre o caminho...
Um abraço.