Relembrando textos mais actuais do que nunca: do nosso camarada Sérgio Ribeiro (Jornal Avante!, nº 1402, Outubro de 2000)

Eu, conservador, me inconformo
Há pouco mais de uma década – não foi há séculos... –, numa das curvas em que a História é pródiga e em que há que evitar o pânico da derrapagem, senti necessidade de escrever, em “o diário”, que “eu, ortodoxo, me confesso”. “O diário” era então dirigido por quem é, hoje, figura grada da SIC, tinha redactores que são, hoje, gradas figuras de diários económicos e de negócios e, então, os arautos da necessária, indispensável, inevitável renovação do Partido (comunista e português) eram militantes e dirigentes do partido que são, hoje, graúdos ministros e secretários de Estado, deputados com assento em bancadas centrais e tribunas VIP, autarcas de elite, “boys” com “jobs” excelentemente remunerados. Alguns com passagem, algo envergonhada, por plataformas de que fizeram trampolim. Por mim, continuo a ser o que era quando tal confessei. Era, e sou, militante de base do PCP. Logo, serei conservador.
(...) Com essa renovação que, dentro, tentaram e, de fora, tanto promoveram, ter-nos-ia acontecido o que se verificou pelas paragens onde partidos mudaram símbolos, esconderam nomes, abandonaram o marxismo e, logo depois, o marxismo, perderam a perspectiva de classe e, por isso, hoje os trabalhadores, por essas paragens, estão orfãos de organização partidária, procuram recuperá-la ou reconstituí-la, reencontram Marx e Lenine.
Passou só uma década, não duas nem séculos. O PCP está aí. Surpreendentemente, para alguns, vivo, incomodando como é fácil de comprovar. De classe, marxista-leninista, em renovação porque capaz de atrair jovens em busca de valores, de princípios, de causas por que valha a pena lutar.
Agora, passada uma década em que as pressões externas e, também!, internas não desarmaram, com o Congresso à porta, aí estão de novo a reclamar – de fora para dentro, dentro e de dentro através de fora – uma necessária, indispensável, inevitável renovação do PCP. Como sempre, anatematizando os que resistem a essa renovação por encomenda. Ontem ortodoxos, hoje conservadores (também ortodoxos e o que inovador vier às imaginativas cabeças).
Renovação necessária para quê?, indispensável para quem?, inevitável porquê? Eu, que conservador me confesso, também alinho com os inconformados e os insubmissos, também defendo uma necessária, indispensável, inevitável renovação. Mas necessária para melhor interpretarmos a História, apoiados no marxismo-leninismo como base ideológica e metodologia; indispensável para que a classe, os trabalhadores, o povo, não percam um colectivo que os defende, que é o seu lugar e arma de luta; inevitável porque só renovando-se pode o Partido continuar a ser o que sempre foi e a lutar pelo que sempre lutou.
A mudança que de fora nos aconselham, e empenhadamente promovem, não seria em favor dos trabalhadores, nem para melhorar a democracia, para a tornar menos burguesa. Como Partido, somos anti-capitalistas e eles são capitalistas, somos democratas a tempo inteiro – mesmo quando a luta pela democracia obriga a sacrifícios – e eles são democratas em tempo e espaços condicionados e nem pensar em democracia da porta das empresas para dentro.
A mudança que, de fora promovem, e/ou a que dão eco, não é para combater a exploração e as suas raízes, não é para ajudar a classe operária, que os tais conservadores em que me incluo insistem em afirmar que existe (e eles sabem que temos razão!). Classe operária que a todo o momento muda, porque a todo o momento muda a vida, e que, por isso, exige que sejamos o Partido que se renova para continuar a ser o que é necessário e indispensável que continue a ser.
Sérgio Ribeiro
Vila Nova de Ourém

«Avante!» Nº 1402 - 12.Outubro.2000

4 comentários:

Unknown disse...

Há muita coisa que se pode afirmar sobre oportunistas, divisionistas e outros "istas".
Uma das bases da teoria revolucionária e de um partido de novo tipo é a disciplina revolucionária e o centralismo democrático. Não entra nesse âmbito os textos de crítica, mais ao menos medrosa, mais ou menos explícita, sobre a situação política do partido.
Todas as citações descontextualizadas também não cabem na analise marxista da situação que devemos, e temos, de ir fazendo. O papel que um revolucionário deve ter neste momento, e se considera que o partido está num perigoso desvio, é intervir nesse mesmo partido, dar a opinião, contribuir para alterar as teses do partido mas deve contribuir sempre para a elevação da consciência dos trabalhadores e do povo, porque essa elevação irá contribuir para a elevação da capacidade de intervir dentro do Partido e de intervenção do Partido.
Nunca os desvios se corrigiram de fora, nem mesmo aqueles que estavam altamente impregnados dentro do partido.
Infelizmente vejo um fervor desconcertante no ataque taticista e cobarde ao partido, encapuçado de "reflexão e estudo", fervor que não se vê na valorização das lutas dos trabalhadores, do congresso dos sindicatos, não se vê esse fervor na intervenção na base pela alteração de questões concretas, pela tentativa de elevação da consciência dos colegas e de quem vive ao nosso lado.
É pena que se tentem usar de nomes, de mais ou menos prestígio, de desvirtuadas posições para promover a divisão no nosso seio, em lugar de contribuir para que a discussão seja enriquecida com o que vem da reflexão pessoal e da discussão com os outros.´
Este papel é muito útil, evidentemente, ao capital e à direita. Serve, acima de tudo para instigar a desconfiança e a divisão, e não contribui para a construção do Socialismo que estou convencido que todos queremos, mesmo a direcção do partido. Tenho esta convicção porque também li muitos clássicos, mas porque todos os dias entro no meu local de trabalho, converso, mobilizo para que avancemos todos.

Catarina Casanova disse...

Caro "Francisco Miguel" (antes era "Vasco"),
1. O Sr. é um provocador que procura encontrar polémica onde ela não existe.
Este é um artigo do Avante! O blogue "Cravo de Abril" não pega em nenhuma citação.
Apenas reproduz NA ÍNTEGRA o que foi publicado no jornal Avante!.
Para que fique claro: não se trata de nenhuma "reflexão e estudo" mas sim um artigo do órgão central do PCP;
2. Sobre o uso de nomes "de mais ou menos prestígio", como provocador que é e que tenta lançar a divisão entre militantes onde ela não existe, aconselho-o a mudar de pseudónimo (se não é esse o seu nome verdadeiro): usar o nome de "Francisco Miguel" para atacar artigos do Avante! e meter camaradas contra camaradas fica-lhe mal e este seu comentário é, de facto, visivelmente, útil à direita.

Unknown disse...

O meu nome é este, não é outro. Miguel é o apelido de meu pai, já o é faz 60 anos daqui a uns meses, e Francisco o nome que quiseram meter-me. Não uso outros pseudónimos, nem tenho hábitos de comentários nestes espaços.
Este texto seria apenas uma "reprodução" de um artigo se não levasse antes um comentário "Relembrando textos mais actuais do que nunca" dando a entender que a situação actual é igual, ou idêntica, aquela que se viveu em 2000, sem falar do texto anterior da mesma autora. As opiniões devem ser dadas em espaços próprios, e estes comentários, da reflexão própria sobre o momento actual do Partido também. Colocar análises que tentam colar o passado ao presente alem de não se uma técnica marxista-leninista, foge aquilo que nos deve servir o estudo, para analisar a situação presente e aplicar as ferramentas ideológicas ao serviço do povo e não do "acho pessoal". Analisar a situação política em blogues para potenciar comentários como: "Catarina, nós não desaparecemos. Nós estamos aqui. É importante que os Júlios Fogaças e os Carlos Britos dos novos tempos e dos novos impulsos, saibam que nós não vamos baixar os braços, apesar de estar sobre os nossos ombros a responsabilidade de ganhar a direcção do movimento e do partido para a linha revolucionária. Há medos e inércias, mas nós não vamos baixar os braços." ou "nao basta dizer isto,´´e preciso dar o nome aos touros,em portugal já esta a acontecer com a tentativa de conciliçao de classes por parte do pcp com o acordo com o ps" servem para a criação de uma linha de ataque ao Partido, que tens, tu pessoalmente, fomentado nestes artigos e comentárioszinhos. De qualquer forma fico-me por aqui, porque continuarei a dar a minha opinião no meu partido, na minha organização, a construir o congresso, a corrigir o que considero mal, e a mobilizar os que comigo trabalham. Os comunistas na minha empresa são a vanguarda, não dos textos cheios de citações de lenin, mas das lutas cheias do estudo dos clássicos e da aplicação do marxismo-leninismo. Iremos para a greve em breve, tentar tirar do patrão um pouco do que é nosso por direito, espero ouvir falar da luta onde és vanguarda em breve, porque ai sim me farás crer que não queres destruir o partido, mas construir a revolução com fotos de hoje e não do passado. De qualquer forma espero encontrar-te em breve e dizer-te quem sou, gosto pouco de ideias de que precisamos de nos esconder para afirmar o que somos. Sou o Francisco Miguel, trabalho numa fábrica, produzo, nunca precisei de destaques em lado nenhum, só preciso da força dos que verdadeiramente são comunistas, e esses vêm-se pouco nos blogues a produzir material desviantes, é mais nas empresas e nos locais de trabalho a desviar riqueza.

Catarina Casanova disse...

Caro “Francisco”,

Muito obrigada pela tua resposta. Vem dizer "Olá" se um dia me vires. Assim posso ver que não és aquilo que acho que és: um provocador armado em operário.

1. Todos os textos são actuais para lembrar ataques ao nosso Partido. Daí a querer dizer que a situação actual é igual à de há uns anos atrás, é uma conclusão abusiva da tua parte e que não está dita no texto, título ou no comentário ao texto. Esse paralelismo que referes é sim, um ataque ao Partido e onde tentas meter camaradas contra camaradas.
2. O meu texto anterior fala da identidade do Partido enquanto organização revolucionária. Que eu saiba somos um partido revolucionário e que eu saiba marxista-leninista. Desaprovas que eu leia e cite o Lenine? Pouco me importa. Era só o que mais faltava censurar o Lenine ou agora ser proibido citar.
3. Sobre o comentários de terceiros, há alguns que não merecem sequer resposta: o que citas é exactamente um caso desses. Quem está a tentar colar análises do passado ao presente (e comentários de terceiros à minha pessoa) és tu ao afirmar que há deliberadamente uma intenção da minha parte de o fazer com a postagem deste texto. Aqui não se dão opiniões que não tenham sido publicadas no órgão central do PCP. Como disse, sobre as opiniões de terceiros, ficam com quem as dá. O Cravo de Abril não censura comentários a não ser que sejam claros ataques pessoais e/ou contenham palavreado menos próprio. A não ser que faça como em outros blogues de “comunistas” que publicam e censuram quem lá vai escrever.

Em que fábrica trabalhas, camarada? Com 60 anos numa fábrica, ou és oficial de primeira, ou chegaste a contramestre. Será? Deve ser por isso que te contentas com “tentar tirar do patrão um pouco do que é nosso por direito”. De facto, há uma diferença entre os comunistas que querem mudar de sistema e aqueles que só querem alterar as correlação de forças mas continuar dentro da democracia burguesa (que é a ditadura do capital) desde que tenham direito a umas migalhitas.
Acho que fazes muito bem em dar a tua opinião nas reuniões. Farei o mesmo como sempre tenho feito. Quanto a futuros comentários, não voltarei a este espaço, sobretudo quando o que fazes é criar juízos de valores sobre as intenções dos outros. Não é isso que pauta a relação entre camaradas. E tu não o és. Caso contrário, não o farias. A troca de galhardetes fica por aqui. Boa noite.