é nos muros de deus que esbarram todas as interrogações,
gumes do delírio na solidão sempre manca
notas gastas das músicas que sabemos de cor.
há uma ausência estridente que não me deixa dormir
ossos crepitantes privados já de carne
a tua morte.
os deuses só existem no nosso desconserto
vagas onde se desfazem todos os marinheiros ao sair
da barra da lucidez.
onde sombras, o nosso pavor, gritos onde esbarra
a luz do silêncio que habitava o mundo antes
dos bichos e dos estalos das plantas
negando às trevas o domínio absoluto do precário.
são de vagos dedos os meus segundos
tacteando os destinos dos caminhos ocultos
da condição que não pedi mas habito
contra a vontade de tudo o que é plausível ou explicável
na azeda explicação que o corpo oferece ao luto.
polifonia do desespero que os homens assimilam em rituais
onde o sangue das aves habita o grito
de tudo o que nasce para ser sacrificado à fome desconhecida
que só goya ainda soube aproximar.
todo o homem é um verso nunca lido
ladainha inútil mesmo para os deuses que inventamos
amaríssimo dedilhar de tudo o que já foi ou está para ser e não sabemos.
a maternidade é a única esperança
e mesmo essa, inexplicável... de tanto que percorre
os caminhos nauseabundos da beleza.
todo o homem é luz. toda a luz se apaga.
aljustrel, 16 de setembro de 2009. nos dias do meu luto
lains de ourém
3 comentários:
A maternidade,pois,e isto está para parir.
Um abraço,
mário
Como se tivesses que despir uma pele já tão tua...
Beijinho, António
"Todo o Homem é luz" mas precisa de condições para brilhar.
Um beijo.
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