POEMA

MENINA FÚTIL


A menina fútil deu um bodo aos pobres;
pela primeira vez pôs avental...
Falou do gesto e seus intuitos nobres,
com palavrinhas brandas, o jornal...

- Os pobres ficaram pobres
e a menina fútil nunca mais pôs avental...

A menina fútil tem um cão de raça
que nunca saiu do quintal
e nunca viu uma cadela...
- Para a menina fútil, o seu cão de raça
deixou de ser um animal
e é um cãozinho de flanela...

... e a menina fútil tem um namorado
e atira-lhe promessas da janela...
Promessas... porque o resto era pecado
e pecar não é com ela...
(Fica sempre na rua, o namorado,
e é tão distante a janela...)

Mas a menina fútil tem um namorado;
tem um cão como feito de flanela;
e anda feliz por dar um bodo aos pobres
e ter descido a pôr um avental...

Lê e relê os seus intuitos nobres;
recorta o seu retrato do jornal;

- e os pobres continuam pobres,
e a menina fútil nunca mais põe avental...


Sidónio Muralha

3 comentários:

GR disse...

Incrível, este grande poema parece ter sido feito este ano.
Afinal fúteis sempre existiram.

BJS,

GR

Maria disse...

Conheço algumas pessoas assim. Moram um pouco por todo o lado, mas concentram-se, de preferência, perto umas das outras. Para se protegerem, creio...

Um beijo grande.

Graciete Rietsch disse...

Quantas e quantas vezes este poema foi lido e utilizado por mim nos anos da minha juventude!!!
Grande Sidónio Muralha, um dos meus mestres.

Um beijo.