POEMA

«DE CADA VEZ QUE UM GOVERNO...»


De cada vez que um governo necessita de segredos,
por segurança do Estado, ou para melhor êxito
das negociações internacionais, é o mesmo que negar,
como negaram sempre desde que o mundo é mundo,
a liberdade.

Sempre que um povo aceita que o seu governo,
ainda que eleito com quantas tricas já se sabe,
invoque a lei e a ordem para calar alguém,
como fizeram sempre desde que o mundo é mundo,
nega-se
a liberdade.

Porque, se há algum segredo na vida pública,
que todos não podem saber, é porque alguém,
sem saber, é o preço do negócio feito.
E, se há uma ordem e uma lei que não inclua
mesmo que seja o último dos asnos e dos pulhas
e o seu direito a ser como nasceu ou fizeram,
a liberdade
é uma farsa,
a segurança
é uma farsa,
a ordem
é uma farsa,
não há nada que não seja uma farsa,
a mesma farsa representada sempre
desde que o mundo é mundo,
por aqueles que se arrogam ser
empresários dos outros e nem pagam
decentemente senão aos maus actores.


Jorge de Sena

3 comentários:

Maria disse...

Não podia estar mais actual!
Também vou levar, porque é preciso ser lido por mais gengte.

Um beijo grande.

Graciete Rietsch disse...

É tudo uma farsa quando invocamos nobres sentimentos para levar à aceitação de medidas que apenas destroem.
Mas ainda há quem acredite.

Um beijo.

svasconcelos disse...

Grande poema!
Adequa-se perfeitamente à farsa destes governante!

Um beijo,