SOEIRO PEREIRA GOMES

Nasceu há 100 anos: em 14 de Abril de 1909. Em Gestaçõ, concelho de Baião.
Depois de concluído o curso de regente agrícola, em Coimbra, e de ter trabalhado cerca de um ano em Angola, foi viver para Alhandra, como empregado de escritório da fábrica Cimento Tejo.
Aí, no contacto com a brutal exploração e as desumanas condições de trabalho dos operários, inicia a sua actividade política, vindo a aderir ao PCP em meados dos anos 30 e integrando a célula da Cimento Tejo e o Comité Local de Alhandra.
Ao mesmo tempo, participa activamente na vasta e intensa acção cultural impulsionada pelo Partido na região, designadamente nas colectividades populares.
Em 1941 publica o seu primeiro romance - Esteiros - com capa e desenhos de Álvaro Cunhal.
Trata-se de um dos mais belos romances da literatura portuguesa, que marca o aparecimento do neo-realismo e que Soeiro dedica aos «filhos dos homens que nunca foram meninos».

Pela sua participação na organização das históricas greves de 8 e 9 de Maio de 1944, a PVDE monta-lhe o cerco - e na tarde de 14 de Maio, Soeiro mergulha na clandestinidade, assumindo importantes responsabilidades partidárias que conduziram à sua eleição para o Comité Central, no IV Congresso do PCP, realizado em 1946.
Por essa altura, adoece com uma doença grave - que se agravará tanto mais quanto as condições de clandestinidade em que vivia não lhe permitem o acompanhamento médico necessário.

Na clandestinidade, escreve os Contos Vermelhos - que são os primeiros textos de ficção em que é abordada a vida clandestina dos militantes comunistas.
Dedica-os «aos meus companheiros - que, na noite fascista, ateiam clarões de uma alvorada».
Começa a escrever, depois, Engrenagem - «Para os trabalhadores sem trabalho - rodas paradas de uma engrenagem caduca» - romance que introduz o mundo do trabalho operário na temática da literatura portuguesa e que a morte não lhe deixou acabar - mas cujo esboço «é um esboço extraordinário!», nas palavras de Augusto da Costa Dias que, sobre a obra de Soeiro Pereira Gomes diz que ela «nasceu do seu empenhamento na luta ao lado dos trabalhadores, de todos os explorados. Nasceu da sua militância no Partido, ao qual consagrou por completo a sua vida. A beleza dessa obra, o seu rigor, a sua força mobilizadora, que convidam à solidariedade e à luta os que a lêem, são fruto, em grande parte, de tal empenhamento e tal militância. Por isso é uma obra de liberdade e libertadora»

Soeiro Pereira Gomes morreu em 5 de Dezembro de 1949, com 40 anos de idade.
O seu funeral constituiu uma expressiva manifestação de pesar e de admiração pelo revolucionário exemplar caído na luta.
O povo de Alhandra exigiu a passagem pela localidade do carro funerário que o transportava para o cemitério de Espinho, de modo a prestar a última homenagem ao «querido, inesquecível amigo Joaquim Soeiro Pereira Gomes».


É assim - recordando alguns aspectos da vida e da obra do grande revolucionário e romancista - que o Cravo de Abril presta a sua homenagem ao camarada Soeiro Pereira Gomes.

15 comentários:

Crixus disse...

Homenagem bem merecida pelo Soeiro. Grande escritor, homem e comunista que nunca esqueceremos

zé malhado disse...

Que descanse em paz para um Grande Comunista. Mesmo passados 100 anos do nascimento e 60 da morte, a "tua" luta, Soeiro, mantêm-se. Nós que cá estamos lutamos contra a opressão, a injustiça, o capitalismo e a desumanidade. A favor dos direitos humanos e dos direitos dos trabalhadores e do marxismo. Nao temos medo. Sei que "tens", Soeiro, orgulho na luta sempre continua.
Estas em nossos corações, Soeiro

samuel disse...

Sempre me fascinarão estes homens e mulheres que "viveram a sua vida como velas ao vento" (plagiando o cantor inglês dos óculos disparatados) e aos trinta e tal ou quarenta anos, partiam, deixando uma obra, enquanto criadores ou simplesmente grandes seres humanos, absolutamente fora do alcance da esmagadora maioria das vidinhas mesquinhas da "gentinha" (para citar outro grande), exclusivamente preocupada com "o seu".

Abraço.

Sílvia disse...

Comovente este tributo a um homem que é uma referência não só literária e política, mas sobretudo humana para tantos de nós.
Alio-me a esta homenagem, sem dúvida.
beijo
Sílvia MV

Cheira-me a Revolução! disse...

Merecida Homenagem. Sempre em luta!
Abraço

salvoconduto disse...

Cedo li Esteiros que mão que nunca esqueço me fez presente.

Abraço.

GR disse...

60 anos depois a “sua gente” e camaradas de Alhandra, prestaram em Espinho (onde está sepultado), uma belíssima e emocionante homenagem ao grande escritor e resistente comunista.
Soeiro deve ter sido o primeiro escritor a debruçar-se sobre o “Trabalho Infantil”, nos Esteiros.


GR

Maria disse...

Uma mais que merecida homenagem.
Saio daqui muito arrepiada, e comovida...

Um beijo grande

Antuã disse...

por acaso a Antena-1 também recordou o Centenário de soeiro Pereira Gomes.

poesianopopular disse...

A melhor homenagem que podemos prestar ao camarada SOEIRO, é seguir-mos o exemplo da sua luta, é para isso que cá estamos!
Abraço

Ana Camarra disse...

Li os esteiros com 10 anos, aquela história dos meninos que nunca pederam ser crianças marcou-me, marcou-me "A Engrenagem".
Soeriro Pereira Gomes era um humanista, UM HOMEM.
Justa homenagem.

Beijos grandes

Hilário disse...

Bela homenagem!

Vamos continuar os seus pensamentos lutando.

Um Abraço

oasis dossonhos disse...

http://aguasdosul.blogspot.com/2009/04/unidade-sim-mas-com-os-que-nao-nos.html

Fernando Samuel disse...

Crixus: Soeiro é um exemplo de todos os dias.
Um abraço.

zé malhado: exactamente: nos nossos corações.
Um abraço.

samuel - lembrei-me, hoje, da «gentinha» - lembrança que me levou aos dois posts do dia...
Um abraço.

Sílvia MV: referência também de coragem, de entrega, do solidariedade fraterna, etc,etc...
Um beijo.

Cheira-me a Revolução: sempre em luta, como o Soeiro.
m abraço.

salvoconduto: quando quem oferece é inesquecível, tudo é melhor.
Um abraço.

GR: foi também o primeiro a abordar o trabalho operário; e foi também o primeiro a tratar, em ficção, a vida dos funcionários clandestinos...
Um beijo.

Maria: o Soeiro é muito grande!
Um beijo grande.

Antuã: e vários jornais também.
Um abraço.

poesianopopular: sem dúvida é essa a melhor homenagem.
Um abraço.

Ana Camarra: e vale a pena relê-lo; se puderes experimenta...
Um beijo.

Hilário: essa é melhor homenagem.
Um abraço.

Fernando Samuel disse...

oásis dossonhos: já lá fui; gostei das águas do sul; voltarei.
Um abraço.