Com este poema de António Ramos Rosa, encerro este ciclo de poesia dedicado ao Companheiro Vasco - a figura maior da Revolução de Abril.
DAQUI DESTE DESERTO EM QUE PERSISTO
Nenhum ruído no branco.
Nesta mesa onde cavo e escavo
rodeado de sombras
sobre o branco
abismo
desta página
em busca de uma palavra
escrevo cavo e escavo a cave desta página
atiro o branco sobre o branco
em busca de um rosto
ou folha
ou de um corpo intacto
a figura de um grito
ou às vezes simplesmente uma pedra
busco no branco o nome do grito
o grito do nome
busco
com uma fúria sedenta
a palavra que seja
a água do corpo a corpo
intacto no silêncio do seu grito
ressurgindo do abismo da sede
com a boca de pedra
com os dentes das letras
com o furor dos punhos
nas pedras
Sou um trabalhador pobre
que escreve palavras pobres quase nulas
às vezes só em busca de uma pedra
uma palavra
violenta e fresca
um encontro talvez com o ínfimo
a orquestra ao rés da erva
um insecto estridente
o nome branco à beira da água
o instante da luz num espaço aberto
Pus de parte as palavras gloriosas
na esperança de encontrar um dia
o diadema no abismo
a transformação do grito
num corpo
descoberto na página do vento
que sopra deste buraco
desta cinzenta ferida
no deserto.
Aqui as minhas palavras são frias
têm o frio da página
e da noite
de todas as sombras que me envolvem
são palavras
são palavras frágeis como insectos
como pulsos
e acumulo pedras sobre pedras
cavo e escavo a página deserta
para encontrar um corpo
entre a vida e a morte
entre o silêncio e o grito
Que tenho eu para dizer mais do que isto
sempre isto desta maneira ou doutra
que procuro eu senão falar
desta busca vã
de um espaço em que respira
a boca de mil bocas
do corpo único no abismo branco
sou um trabalhador pobre
nesta mina branca
onde todas as palavras estão ressequidas
pelo ardor do deserto
pelo frio do abismo total
Que tenho eu para dizer
neste país
se um homem levanta os braços
e grita com os braços
o que mais oculto havia
na secreta ternura de uma boca
que era a única boca do seu povo
Que posso eu fazer senão
daqui
deste deserto
em que persisto
chamar-lhe camarada
António Ramos Rosa
DAQUI DESTE DESERTO EM QUE PERSISTO
Nenhum ruído no branco.
Nesta mesa onde cavo e escavo
rodeado de sombras
sobre o branco
abismo
desta página
em busca de uma palavra
escrevo cavo e escavo a cave desta página
atiro o branco sobre o branco
em busca de um rosto
ou folha
ou de um corpo intacto
a figura de um grito
ou às vezes simplesmente uma pedra
busco no branco o nome do grito
o grito do nome
busco
com uma fúria sedenta
a palavra que seja
a água do corpo a corpo
intacto no silêncio do seu grito
ressurgindo do abismo da sede
com a boca de pedra
com os dentes das letras
com o furor dos punhos
nas pedras
Sou um trabalhador pobre
que escreve palavras pobres quase nulas
às vezes só em busca de uma pedra
uma palavra
violenta e fresca
um encontro talvez com o ínfimo
a orquestra ao rés da erva
um insecto estridente
o nome branco à beira da água
o instante da luz num espaço aberto
Pus de parte as palavras gloriosas
na esperança de encontrar um dia
o diadema no abismo
a transformação do grito
num corpo
descoberto na página do vento
que sopra deste buraco
desta cinzenta ferida
no deserto.
Aqui as minhas palavras são frias
têm o frio da página
e da noite
de todas as sombras que me envolvem
são palavras
são palavras frágeis como insectos
como pulsos
e acumulo pedras sobre pedras
cavo e escavo a página deserta
para encontrar um corpo
entre a vida e a morte
entre o silêncio e o grito
Que tenho eu para dizer mais do que isto
sempre isto desta maneira ou doutra
que procuro eu senão falar
desta busca vã
de um espaço em que respira
a boca de mil bocas
do corpo único no abismo branco
sou um trabalhador pobre
nesta mina branca
onde todas as palavras estão ressequidas
pelo ardor do deserto
pelo frio do abismo total
Que tenho eu para dizer
neste país
se um homem levanta os braços
e grita com os braços
o que mais oculto havia
na secreta ternura de uma boca
que era a única boca do seu povo
Que posso eu fazer senão
daqui
deste deserto
em que persisto
chamar-lhe camarada
António Ramos Rosa
13 comentários:
"chamar-lhe camarada"
Não será muito, mas vai carregado de amor!
Escolheste o caminha certo! Um abraço camarada!
Amigo do nosso amigo
Não termines a poesia
Lsmento, mas estou em total discordância.
Sim! Logo eu que estudei profundamente a obra e vida de Leon Trotsky, aqui te exclamo, camarada: a figura maior da nossa pátria só poderá ser, e será sempre, o camarada ÁLVARO CUNHAL!
E sabes que mais? Tu SABES porque vou riscar o carro todo da jornalista Alexandra Lucas Coelho do Público/$onae: porque essa mulher é uma anticomunista primata e porque cola têm os aderentes!
Foi duro, mas é verdade: o cartaz mais criativo, ainda que não o mais consciêncioso (e daí porque não?) da Manif ia no sector comunista.
E isso eles não nos podem tirar
E claro! Percebo o que pretendes politicamente transmitir poeticamente! Mas meu discurso está agora demasiado pautado por pontos de esclamação e semicolcheias de vinho
tmabém de gralhas
Belíssimo poema.
Encerra mas, temporariamente!
Camarada Vasco, Sempre!
(nunca é demais)
GR
Honrando a sua memória, seremos sempre A MURALHA DE AÇO!
Um beijo grande
Vasco era maior que ele!
Vasco é um povo que se levantou do chão!
Levantados do chão,
Vasco fomos e Vasco seremos!
Haja sempre Poesia e Liberdade...
Abraço
Impressionante.
A revolução é hoje!
samuel: carregadíssimo...
Um abraço.
amigona avó e a neta princesa: obrigado, camarada.
Um beijo.
O Puma: como sabes (bem) a poesia nunca tem fim...
Um abraço.
F: se foi ou não o mais criativo, não sei: mas lá que era bonito, era.
Um abraço grande.
GR: mais Abril, menos Abril, voltará...
Um beijo.
Maria: e bem precisamos ser...
Um beijo grande.
ze manel: Bonito!
Um abraço.
Cheira-me a Revolução: Poesia, liberdade e luta!
Um abraço.
CRN: belo, não é?
Um abraço.
Belissimo!
beijos
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