A TRADIÇÃO

TODOS BONS RAPAZES


Sobre o discurso de fim de ano do Presidente da República (PR), diz um jornal que ele é «aguardado com grande expectativa» e diz outro que «com grande ansiedade».

Isto porque, concluíram os analistas em uníssono, o PR vai retomar os temas que abordou há um ano (justiça, pobreza, etc, etc), mas desta vez fazendo balanço, que é como quem diz, «pedindo contas ao primeiro-ministro (p-m)» e «subindo a fasquia das exigências».

Confesso que não partilho esta «expectativa» e muito menos esta «ansiedade».
Na verdade, estes discursos de Natal e de Ano Novo não passam de representações do folclore oratório da política de direita e, ao fim de 31 anos, pode dizer-se que são, acima de tudo, uma tradição.

É assim todos os anos: no discurso do Natal, o p-m tece loas ao que fez, e diz que muito mais irá fazer no ano seguinte, para o que conta com a disponibilidade de todos os portugueses para fazerem os sacrifícios necessários, a bem da Nação - «todos os portugueses» significa, como sabemos, todos menos os chefes dos grandes grupos económicos e financeiros, os quais, porque a ordem natural das coisas assim o exige, estão isentos de sacrifícios e condenados ao aumento dos seus lucros.

No que toca ao discurso de fim de ano, foi - e vai ser- assim: O PR Cavaco Silva vai exigir ao p-m José Sócrates o mesmo que, por exemplo, o PR Mário Soares exigiu, em tempos, ao p-m Cavaco Silva.
E, tal como o então PR Mário Soares sabia que o então p-m Cavaco Silva não iria cumprir as suas exigências, também o actual PR Cavaco Silva sabe que o actual p-m José Sócrates não vai cumprir as suas exigências.

E, por tradição, não se zangam uns com os outros.
Porque, por tradição, todos conhecem e aceitam as regras do jogo.

E acima de tudo, porque, por tradição, são todos bons rapazes.

4 comentários:

Anónimo disse...

Então!!!O Faria de Oliveira na CGD foi a prendinha de Natal do DESgoverno para o PR, agora o PR não vai ser exagerado nas críticas, porque senão lá temos a história do (diz o roto ao nú)e este povo de boa fé, continua a acreditar que;-(desta vez é que vai)o tempo vai, o tempo vem e este povo que é solidário em tanta coisa...ainda não aprendeu a ser solidário na LUTA!
Quando será que: a maioria do povo português vai assumir a condução do seu destino, em vez de ficar á espera das promessas que não passam disso mesmo,PROMESSAS!
josé manangão

GR disse...

Discursos que não passam de palavras ocas. Já nada dizem ao seu eleitorado, muito menos a quem não votou neles.
Quando este novo ano entrar e o povo começar a sentir ainda mais, as medidas repressivas deste desgoverno, aí vai começar a “ganir” porque lhes tocam directamente.
A atitude repressiva do “não fumar”, apelando aos proprietários e clientes que sejam “pides” denunciando discretamente por telefone, que o vizinho do lado está a fumar.
Quando tiverem que pagar a luz 40% (!) mais cara, os transportes, os bens mais essenciais como o pão e o leite.
Quando um seu pai ou filho morrer, à porta das Urgências que já não existem. Penso não haver concelho nenhum onde já não tenha acontecido. Em Ovar Carlos Pardo, 61 anos morre em Ovar por falta de assistência médica, no dia em que as Urgências encerraram. Montalegre um idoso morre, o INEM levou 2:17 h a chegar ao Hospital mais próximo.
No site do PCP, vale a pena ouvir a intervenção de Jerónimo de Sousa!

GR

Anónimo disse...

Estes discursos fazem parte da grande farsa que é o Natal. Vêm todos falar em solidariedade mas o seu objectivo é explorar cada vez mais o Povinho. Não faltam os peditórios por tudo quanto é sítio. Já não bastava os impostos que pagamos!!!... Temos o Banco Alimentar que não passa duma imitação das Casas dos Pobres do tempo de Salazar e só possíveis em sociedades de extrema injustiça social.

Fernando Samuel disse...

josé manangão: é isso: a nossa tarefa é tudo fazermos para que a maioria do povo português decida «assumir a condução o seu destino«.

gr: como dizes, estes discursos são sempre uma espécie de anúncio dos brutais aumentos de bens essenciais no princípio do ano - e, é claro, é indispensável ouvir a intervenção do Jerónimo.

antuã: «fazer caridade» era uma expressão utilizada no tempo do fascismo, desde os anos trinta, e a situação actual também nesse aspecto se assemelha muito ao antigamente.

Abraços para todos.