Cantar de amigo*
O tempo passa, amor, correm os diasE as ruas em silêncio à nossa espera
À hora em que as palavras não são ditas
E as mãos entrelaçadas são poemas.
O tempo passa, amor, ventos arrastam
Cada segundo de vida que ofertamos
À luta consciente a que nos damos
E as horas para amar já não nos bastam.
Por cada dia fica em nossos rostos
Mais uma ruga do mapa dos caminhos
Que percorremos juntos, mas distantes
Ombro a ombro, sempre, mas sozinhos.
Quilómetros de noite nos separam
Meu corpo já cansado pede tanto
A ternura de um beijo sempre adiado
Enquanto beijo aqueles p’ra quem canto.
Deixa dizer-te apenas uma vez
Esta saudade enorme que me habita
Mas crê que em cada dia em que me vês
Minha coragem renasce e ressuscita.
Deste sofrer distante, desta ausência
Ficarão as sementes que lhe damos
E no coro das vozes que cantamos
Encontro a tua voz, distintamente.
(Maria Eugénia Cunhal)
*Adriano musicou este poema, mas a obra nunca chegou a ser editada.
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