MEU PRIMEIRO DE MAIO
Todos
que marchais pelas ruas
e deteis as máquinas e as fábricas,
todos
desejosos de chegar a nossa festa
com as costas marcadas pelo trabalho,
saí a 1º de Maio,
o primeiro dos dias.
Recebê-lo-emos, camaradas,
com a voz entrecortada de canções.
Primavera,
derretei a neve.
Eu sou operário,
este dia é meu.
Eu sou camponês,
este dia é meu.
Todos,
estendidos nas trincheiras
esperando a morte infinita,
todos
os que num carro blindado
atiram contra seus irmãos,
escutai:
Hoje é 1º de Maio.
Partamos ao encontro
do primeiro dos nossos dias,
enlaçando as mãos proletárias.
Calai vossos morteiros!
Silêncio, metralhadoras!
Eu sou soldado,
este dia é meu.
Todos,
das casas,
das praças,
das ruas,
encolhidos pelo gelo invernal,
todos
torturados de fome,
das estepes,
dos bosques,
dos campos,
saí neste 1º de Maio!
Glória à gente fecunda!
Desabrochai, primavera!
Verde campos, cantai!
Soai sirenes e apitos!
Eu sou de ferro,
este dia é meu.
Eu sou a terra,
este dia é meu!
Mayakovsky
MAIO MADURO MAIO
Há 35 anos, o 1º de Maio foi dia de confirmação da liberdade que havia sido alcançada no dia 25 de Abril, quando o MFA derrubou o governo fascista de Marcelo Caetano.
Mas o primeiro 1º de Maio foi mais do que isso: foi passo decisivo para o arranque do processo revolucionário que viria a derrubar o regime fascista e a construir uma democracia política, económica, social, cultural, ancorada na independência e na soberania nacional, e com uma ampla componente participativa - a democracia mais avançada alguma vez existente no nosso País. Foi Maio, Maduro Maio...
De então para cá, a política da contra-revolução - com, entre outros, Soares, Sá Carneiro, Freitas, Cavaco Silva, Guterres, Barroso, Sócrates... - destruiu a democracia de Abril e impôs a democracia burguesa hoje dominante: Portugal voltou a estar nas mãos do grande capital, com todas as graves consequências daí decorrentes.
Amanhã, os trabalhadores, em massa, encherão ruas e praças de meia centena de localidades exigindo uma «mudança de rumo» - exigindo mais emprego, mais salários, mais direitos, ou seja: exigindo o termo da política de direita que conduziu o País à dramática situação em que se encontra; exigindo Abril e a sua democracia avançada - que o era porque tinha como referência primeira o respeito pelos interesses e direitos dos trabalhadores, do povo e do País.
Amanhã é dia de irmos para rua - lutar e ganhar forças para as lutas de depois de amanhã, e do dia seguinte, e dos dias seguintes. Por Abril de novo, até à vitória.
Que é difícil mas é nossa.
Mas o primeiro 1º de Maio foi mais do que isso: foi passo decisivo para o arranque do processo revolucionário que viria a derrubar o regime fascista e a construir uma democracia política, económica, social, cultural, ancorada na independência e na soberania nacional, e com uma ampla componente participativa - a democracia mais avançada alguma vez existente no nosso País. Foi Maio, Maduro Maio...
De então para cá, a política da contra-revolução - com, entre outros, Soares, Sá Carneiro, Freitas, Cavaco Silva, Guterres, Barroso, Sócrates... - destruiu a democracia de Abril e impôs a democracia burguesa hoje dominante: Portugal voltou a estar nas mãos do grande capital, com todas as graves consequências daí decorrentes.
Amanhã, os trabalhadores, em massa, encherão ruas e praças de meia centena de localidades exigindo uma «mudança de rumo» - exigindo mais emprego, mais salários, mais direitos, ou seja: exigindo o termo da política de direita que conduziu o País à dramática situação em que se encontra; exigindo Abril e a sua democracia avançada - que o era porque tinha como referência primeira o respeito pelos interesses e direitos dos trabalhadores, do povo e do País.
Amanhã é dia de irmos para rua - lutar e ganhar forças para as lutas de depois de amanhã, e do dia seguinte, e dos dias seguintes. Por Abril de novo, até à vitória.
Que é difícil mas é nossa.
Poema
Com este poema de António Ramos Rosa, encerro este ciclo de poesia dedicado ao Companheiro Vasco - a figura maior da Revolução de Abril.
DAQUI DESTE DESERTO EM QUE PERSISTO
Nenhum ruído no branco.
Nesta mesa onde cavo e escavo
rodeado de sombras
sobre o branco
abismo
desta página
em busca de uma palavra
escrevo cavo e escavo a cave desta página
atiro o branco sobre o branco
em busca de um rosto
ou folha
ou de um corpo intacto
a figura de um grito
ou às vezes simplesmente uma pedra
busco no branco o nome do grito
o grito do nome
busco
com uma fúria sedenta
a palavra que seja
a água do corpo a corpo
intacto no silêncio do seu grito
ressurgindo do abismo da sede
com a boca de pedra
com os dentes das letras
com o furor dos punhos
nas pedras
Sou um trabalhador pobre
que escreve palavras pobres quase nulas
às vezes só em busca de uma pedra
uma palavra
violenta e fresca
um encontro talvez com o ínfimo
a orquestra ao rés da erva
um insecto estridente
o nome branco à beira da água
o instante da luz num espaço aberto
Pus de parte as palavras gloriosas
na esperança de encontrar um dia
o diadema no abismo
a transformação do grito
num corpo
descoberto na página do vento
que sopra deste buraco
desta cinzenta ferida
no deserto.
Aqui as minhas palavras são frias
têm o frio da página
e da noite
de todas as sombras que me envolvem
são palavras
são palavras frágeis como insectos
como pulsos
e acumulo pedras sobre pedras
cavo e escavo a página deserta
para encontrar um corpo
entre a vida e a morte
entre o silêncio e o grito
Que tenho eu para dizer mais do que isto
sempre isto desta maneira ou doutra
que procuro eu senão falar
desta busca vã
de um espaço em que respira
a boca de mil bocas
do corpo único no abismo branco
sou um trabalhador pobre
nesta mina branca
onde todas as palavras estão ressequidas
pelo ardor do deserto
pelo frio do abismo total
Que tenho eu para dizer
neste país
se um homem levanta os braços
e grita com os braços
o que mais oculto havia
na secreta ternura de uma boca
que era a única boca do seu povo
Que posso eu fazer senão
daqui
deste deserto
em que persisto
chamar-lhe camarada
António Ramos Rosa
DAQUI DESTE DESERTO EM QUE PERSISTO
Nenhum ruído no branco.
Nesta mesa onde cavo e escavo
rodeado de sombras
sobre o branco
abismo
desta página
em busca de uma palavra
escrevo cavo e escavo a cave desta página
atiro o branco sobre o branco
em busca de um rosto
ou folha
ou de um corpo intacto
a figura de um grito
ou às vezes simplesmente uma pedra
busco no branco o nome do grito
o grito do nome
busco
com uma fúria sedenta
a palavra que seja
a água do corpo a corpo
intacto no silêncio do seu grito
ressurgindo do abismo da sede
com a boca de pedra
com os dentes das letras
com o furor dos punhos
nas pedras
Sou um trabalhador pobre
que escreve palavras pobres quase nulas
às vezes só em busca de uma pedra
uma palavra
violenta e fresca
um encontro talvez com o ínfimo
a orquestra ao rés da erva
um insecto estridente
o nome branco à beira da água
o instante da luz num espaço aberto
Pus de parte as palavras gloriosas
na esperança de encontrar um dia
o diadema no abismo
a transformação do grito
num corpo
descoberto na página do vento
que sopra deste buraco
desta cinzenta ferida
no deserto.
Aqui as minhas palavras são frias
têm o frio da página
e da noite
de todas as sombras que me envolvem
são palavras
são palavras frágeis como insectos
como pulsos
e acumulo pedras sobre pedras
cavo e escavo a página deserta
para encontrar um corpo
entre a vida e a morte
entre o silêncio e o grito
Que tenho eu para dizer mais do que isto
sempre isto desta maneira ou doutra
que procuro eu senão falar
desta busca vã
de um espaço em que respira
a boca de mil bocas
do corpo único no abismo branco
sou um trabalhador pobre
nesta mina branca
onde todas as palavras estão ressequidas
pelo ardor do deserto
pelo frio do abismo total
Que tenho eu para dizer
neste país
se um homem levanta os braços
e grita com os braços
o que mais oculto havia
na secreta ternura de uma boca
que era a única boca do seu povo
Que posso eu fazer senão
daqui
deste deserto
em que persisto
chamar-lhe camarada
António Ramos Rosa
CRIATURA EXECRÁVEL
O homem não pára nem se cala: em todo o lado onde Abril é atacado (ou se faz a defesa do capitalismo), ele lá está a mentir, a aldrabar, a deturpar factos, a vomitar provocações, a defender o grande capital - e em todo o lado onde ele está, Abril é miseravelmente atacado (e o capitalismo é defendido com unhas e dentes).
Assim continua a cumprir esta criatura execrável, o seu sinistro papel de chefe da contra-revolução/mercenário do capitalismo - e sempre, sempre, arrotando democracia sem ponta de vergonha.
Falo de Mário Soares, como já devem ter percebido - e dele passo a transcrever parte do seu mais recente vómito sobre Abril.
Escreve a excerável criatura: «A revolução - esta é a verdade - não foi, nem é, a Reforma Agrária, que não chegou a muito mais do que um ensaio, nem as nacionalizações, feitas à pressa e mal, no seguimento do 11 de Março de 1975».
Aqui chegado, confesso que não tenho condições para comentar tão deprimente exibição de baixeza humana.
E termino já este post, para evitar ceder à tentação de chamar à criatura os nomes todos que lhe são devidos...
Assim continua a cumprir esta criatura execrável, o seu sinistro papel de chefe da contra-revolução/mercenário do capitalismo - e sempre, sempre, arrotando democracia sem ponta de vergonha.
Falo de Mário Soares, como já devem ter percebido - e dele passo a transcrever parte do seu mais recente vómito sobre Abril.
Escreve a excerável criatura: «A revolução - esta é a verdade - não foi, nem é, a Reforma Agrária, que não chegou a muito mais do que um ensaio, nem as nacionalizações, feitas à pressa e mal, no seguimento do 11 de Março de 1975».
Aqui chegado, confesso que não tenho condições para comentar tão deprimente exibição de baixeza humana.
E termino já este post, para evitar ceder à tentação de chamar à criatura os nomes todos que lhe são devidos...
POEMA
NOME DE VASCO
A tua voz excessiva tornava-os mais pequenos.
Eles exigiam-te palavras untuosas,
as secas flores da jactância,
seu sono e alimento.
A verdade saía da tua boca iluminada
e eles tinham os ouvidos postos na mentira
no bocejo intrigante, na fala camuflada.
A tua voz recuada na origem não se perdia
nos afazeres verbais da litigância
não sabia a ganância.
Era o vento dos pobres sobre os metais do luxo.
Não te punhas a embalar o povo
como à criança que tarda a adormecer.
Atiravas-lhe à cara as palavras abruptas
um rosto incorruptível por marés de ferrugem
e gestos de morrer.
A tua fronte vasta tornava-os mais pequenos.
Nela despertava o susto das mães familiares,
o trigo parco dos homens nas tabernas
que te olhavam ingénuos vendo a seara crescer.
Ao colo dos pais os meninos sorriam
e os velhos viam coisas saltar dos teus cabelos.
Mas eras tu que soltavas a vida
amarrada a um poste como um burro de carga
a vida desavinda que os enraivecia
e que lhes dava um coice na pança saciada.
Aqui perde-se o tempo a trabalhar as lendas.
Mas o teu rosto não pode adormecer
sobre a toalha tépida que tece a tua ausência
onde derramo o choro e os outros vão beber.
Porque o teu pulso não suportava a febre
e erguia-se no ar como um pássaro agudo
que respirasse os ventos antes de partir.
Sobre o ladrar dos cães a tua voz alteia
como a papoula que o tempo não desfolha
a coluna de fogo que cai sobre a alcateia.
És o lagar imenso onde as uvas fermentam
sob os pés descalços e vivos da memória.
És a boca que a História utilizou por boca
o corredor onde o orvalho cresce entre a juventude
e os homens se passeiam com trigo na cintura.
Neste lugar de inverno lembramo-nos de ti
como quem desperta.
Ninguém aqui precisa de recuar no tempo
nem das sereias que engolem o nevoeiro.
Ninguém aqui suporta que tu voltes
como um Desejado
com o seu cortejo de rotas feiticeiras
que gritem pelo teu nome junto aos becos do mar
com as suas luas gordas de saudade e preguiça.
Teu nome está de pé como um mastro
de cal rubra.
Estás aqui, entre nós, no meio do teu País.
Connosco vais contigo porque o povo assim o quis.
Armando Silva Carvalho
A tua voz excessiva tornava-os mais pequenos.
Eles exigiam-te palavras untuosas,
as secas flores da jactância,
seu sono e alimento.
A verdade saía da tua boca iluminada
e eles tinham os ouvidos postos na mentira
no bocejo intrigante, na fala camuflada.
A tua voz recuada na origem não se perdia
nos afazeres verbais da litigância
não sabia a ganância.
Era o vento dos pobres sobre os metais do luxo.
Não te punhas a embalar o povo
como à criança que tarda a adormecer.
Atiravas-lhe à cara as palavras abruptas
um rosto incorruptível por marés de ferrugem
e gestos de morrer.
A tua fronte vasta tornava-os mais pequenos.
Nela despertava o susto das mães familiares,
o trigo parco dos homens nas tabernas
que te olhavam ingénuos vendo a seara crescer.
Ao colo dos pais os meninos sorriam
e os velhos viam coisas saltar dos teus cabelos.
Mas eras tu que soltavas a vida
amarrada a um poste como um burro de carga
a vida desavinda que os enraivecia
e que lhes dava um coice na pança saciada.
Aqui perde-se o tempo a trabalhar as lendas.
Mas o teu rosto não pode adormecer
sobre a toalha tépida que tece a tua ausência
onde derramo o choro e os outros vão beber.
Porque o teu pulso não suportava a febre
e erguia-se no ar como um pássaro agudo
que respirasse os ventos antes de partir.
Sobre o ladrar dos cães a tua voz alteia
como a papoula que o tempo não desfolha
a coluna de fogo que cai sobre a alcateia.
És o lagar imenso onde as uvas fermentam
sob os pés descalços e vivos da memória.
És a boca que a História utilizou por boca
o corredor onde o orvalho cresce entre a juventude
e os homens se passeiam com trigo na cintura.
Neste lugar de inverno lembramo-nos de ti
como quem desperta.
Ninguém aqui precisa de recuar no tempo
nem das sereias que engolem o nevoeiro.
Ninguém aqui suporta que tu voltes
como um Desejado
com o seu cortejo de rotas feiticeiras
que gritem pelo teu nome junto aos becos do mar
com as suas luas gordas de saudade e preguiça.
Teu nome está de pé como um mastro
de cal rubra.
Estás aqui, entre nós, no meio do teu País.
Connosco vais contigo porque o povo assim o quis.
Armando Silva Carvalho
UM PAÍS DE SANTOS
Consumada a canonização de Nuno Álvares Pereira, o «Prefeito da Congregação para as Causas Santas», D. José Saraiva Martins não esconde a felicidade que lhe vai naialma.
Diz ele, triunfante, que esta canonização «é um acto de justiça e é uma página de ouro da História da Igreja e de Portugal».
E é capaz de ser, já não digo nada...
Quanto ao futuro, D. Saraiva Martins - que só pensa nas Causas Santas, que delas e para elas vive - também está confiante.
E tem razão para isso, já que «estão em Roma 33 causas de beatificação e canonização oriundas do nosso país», o que quer dizer que «Portugal vai, certamente, continuar a ter santos» - e, portanto, vai ter mais «páginas de ouro» na sua História que, assim, tende a transformar-se num verdadeiro tesouro...
Não há dúvida: o futuro de Portugal está nas canonizações.
E muitas serão elas, pois para além das já concretizadas e das 33 que se perspectivam, D. Saraiva promete muitas mais.
E porquê? Porque, garante ele, «somos um país de santos».
Atão não somos?...
Diz ele, triunfante, que esta canonização «é um acto de justiça e é uma página de ouro da História da Igreja e de Portugal».
E é capaz de ser, já não digo nada...
Quanto ao futuro, D. Saraiva Martins - que só pensa nas Causas Santas, que delas e para elas vive - também está confiante.
E tem razão para isso, já que «estão em Roma 33 causas de beatificação e canonização oriundas do nosso país», o que quer dizer que «Portugal vai, certamente, continuar a ter santos» - e, portanto, vai ter mais «páginas de ouro» na sua História que, assim, tende a transformar-se num verdadeiro tesouro...
Não há dúvida: o futuro de Portugal está nas canonizações.
E muitas serão elas, pois para além das já concretizadas e das 33 que se perspectivam, D. Saraiva promete muitas mais.
E porquê? Porque, garante ele, «somos um país de santos».
Atão não somos?...
POEMA
AO REVOLUCIONÁRIO VASCO GONÇALVES
Queria usar a língua em que escrevi
os versos mudos da poesia lírica
para o discurso prático
da revolução escrita.
Ninguém já entendia o vapor grave
e gasto da linguagem.
Durante a desejámos, canto enquanto
desejo, com o gasto
movimento dos versos. Quem entende
a voz da sua boca equivocada?
Desconheço o silêncio. Conheci-o
com o entendimento de quem vive.
Por isso este poema não é épico,
é um simples
poema em quadras íntimas:
um revolucionário
não cabe na política
mas cabe
nos metros úteis da poesia escrita.
Gastão Cruz
Queria usar a língua em que escrevi
os versos mudos da poesia lírica
para o discurso prático
da revolução escrita.
Ninguém já entendia o vapor grave
e gasto da linguagem.
Durante a desejámos, canto enquanto
desejo, com o gasto
movimento dos versos. Quem entende
a voz da sua boca equivocada?
Desconheço o silêncio. Conheci-o
com o entendimento de quem vive.
Por isso este poema não é épico,
é um simples
poema em quadras íntimas:
um revolucionário
não cabe na política
mas cabe
nos metros úteis da poesia escrita.
Gastão Cruz
MAIO DOS TRABALHADORES
No dia 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armados derrubou o governo fascista.
Nos dias e meses que se seguiram, o movimento operário e popular e os militares revolucionários derrubaram o regime fascista.
Entre um e outro destes dois tempos, ergueu-se o poderoso 1º de Maio de 74 - expressão da imensa força autónoma e independente do movimento operário e popular - a marcar o rumo e o ritmo da Revolução de Abril, a dizer-nos, de forma inequívoca, que a Revolução Portuguesa iria desenvolver-se pela acção conjugada das massas populares e do Movimento das Forças Armadas - a aliança POVO/MFA.
Comemorámos o 35º aniversário do 25 de Abril.
É tempo, agora, de comemorarmos Maio dos trabalhadores - fazendo do próximo Dia do Trabalhador uma poderosa jornada de luta.
De luta por Abril de novo.
Nos dias e meses que se seguiram, o movimento operário e popular e os militares revolucionários derrubaram o regime fascista.
Entre um e outro destes dois tempos, ergueu-se o poderoso 1º de Maio de 74 - expressão da imensa força autónoma e independente do movimento operário e popular - a marcar o rumo e o ritmo da Revolução de Abril, a dizer-nos, de forma inequívoca, que a Revolução Portuguesa iria desenvolver-se pela acção conjugada das massas populares e do Movimento das Forças Armadas - a aliança POVO/MFA.
Comemorámos o 35º aniversário do 25 de Abril.
É tempo, agora, de comemorarmos Maio dos trabalhadores - fazendo do próximo Dia do Trabalhador uma poderosa jornada de luta.
De luta por Abril de novo.
POEMA
PROVAVELMENTE
Provavelmente
não terei a força, o verbo, o tamanho para falar duma revolução
que rebentou no coração daqueles que, desde o primeiro vagido, a desejaram.
Provavelmente
esquecerei nomes, trocarei datas, falarei dos heróis que o não foram
e dos cobardes que tiveram a coragem de não puxar gatilhos,
de permanecerem poetas e não matarem
ainda que com essa negação da morte ficassem
com os corpos presos, que a alma não.
Provavelmente
louvarei demasiado os que me são queridos, cantarei as paisagens
onde nasci e chegarei mesmo ao despudor de gritar
que o Alentejo é o mais lindo país do mundo,
que uma papoila vermelha floresce diariamente
nos dedos dos que trabalham a terra.
Provavelmente
deixarei nas margens deste recado essoutros que em Marços
e Setembros saíram para a rua agarrados à estrela da manhã
para com ela (somente com ela) defenderem a liberdade.
Provavelmente
não saberei pronunciar os nomes das crianças
que num mês de Abril inventaram novos símbolos,
debruaram de cravos as redacções escolares, as paredes dos jardins,
os troncos dos abetos, e inundaram com as aguarelas da ternura
os olhos dos homens cansados.
Provavelmente
e porque não? direi que vi soldados vestindo a farda que o povo usa,
essa camisa lavada e branca dos nossos irmãos operários,
camponeses, trabalhadores de todos os misteres.
Provavelmente
trocarei as notas à melodia que semeou o luar, desvirtuarei
a cor da baioneta que defendeu o sol, não saberei agarrar
o espanto das mãos que seguravam o vento como quem
agarra essas bandeiras de carne a que chamamos filhos.
Provavelmente
não citarei nomes de capitães, dragonas de almirantes,
siglas dos partidos, as multidões dos comícios, as cores
dos panfletos, o eco dos gritos que rebentaram a veia tensa
deste quase meio século que sufocou o pulmão
da nossa Pátria sempre adiada.
Provavelmente
só vos falarei dum Homem com rosto de homem, palavra
de homem, o gesto simples do Homem simples e sincero
que todos esperámos na lonjura da esperança,
como o Criador esperou o nascimento do mundo.
Provavelmente
escreverei: Vasco Gonçalves.
Provavelmente
acrescentarei: - Por aqui passou um Homem!
Eduardo Olímpio
(Fevereiro de 1976)
Provavelmente
não terei a força, o verbo, o tamanho para falar duma revolução
que rebentou no coração daqueles que, desde o primeiro vagido, a desejaram.
Provavelmente
esquecerei nomes, trocarei datas, falarei dos heróis que o não foram
e dos cobardes que tiveram a coragem de não puxar gatilhos,
de permanecerem poetas e não matarem
ainda que com essa negação da morte ficassem
com os corpos presos, que a alma não.
Provavelmente
louvarei demasiado os que me são queridos, cantarei as paisagens
onde nasci e chegarei mesmo ao despudor de gritar
que o Alentejo é o mais lindo país do mundo,
que uma papoila vermelha floresce diariamente
nos dedos dos que trabalham a terra.
Provavelmente
deixarei nas margens deste recado essoutros que em Marços
e Setembros saíram para a rua agarrados à estrela da manhã
para com ela (somente com ela) defenderem a liberdade.
Provavelmente
não saberei pronunciar os nomes das crianças
que num mês de Abril inventaram novos símbolos,
debruaram de cravos as redacções escolares, as paredes dos jardins,
os troncos dos abetos, e inundaram com as aguarelas da ternura
os olhos dos homens cansados.
Provavelmente
e porque não? direi que vi soldados vestindo a farda que o povo usa,
essa camisa lavada e branca dos nossos irmãos operários,
camponeses, trabalhadores de todos os misteres.
Provavelmente
trocarei as notas à melodia que semeou o luar, desvirtuarei
a cor da baioneta que defendeu o sol, não saberei agarrar
o espanto das mãos que seguravam o vento como quem
agarra essas bandeiras de carne a que chamamos filhos.
Provavelmente
não citarei nomes de capitães, dragonas de almirantes,
siglas dos partidos, as multidões dos comícios, as cores
dos panfletos, o eco dos gritos que rebentaram a veia tensa
deste quase meio século que sufocou o pulmão
da nossa Pátria sempre adiada.
Provavelmente
só vos falarei dum Homem com rosto de homem, palavra
de homem, o gesto simples do Homem simples e sincero
que todos esperámos na lonjura da esperança,
como o Criador esperou o nascimento do mundo.
Provavelmente
escreverei: Vasco Gonçalves.
Provavelmente
acrescentarei: - Por aqui passou um Homem!
Eduardo Olímpio
(Fevereiro de 1976)
2 Anos a tomar Partido
Pois é meus amigos, faz hoje dois anos que decidi criar o Cravo de Abril e estender a participação aos restantes membros que nele contribuem, fazendo deste espaço uma referência no esclarecimento, na tomada de posições, de debate, de promoção de ideias, de transmissão de cultura e valores.
Como é habitual, alterámos o cabeçalho e a foto descritiva do Cravo de Abril. Ousámos a troca de cores mas mantemos o Cravo VERMELHO bem presente e tudo aquilo que ele representa.
Deixo-vos o vídeo de comemoração do II Aniversário do Cravo de Abril.
Obrigado a todos!
Abril de Novo
POEMA
(Fragmento do Poema «O Dia Mundial da Paz em Custóias e Caxias)
(...) Grande foi Vasco
e também o ódio, e também a mácula, e também a morte
(intelectual, seminal) de várias e desvairadas gentes
o destruíu. Ou
talvez não. A glória, a corrupção
em centros ciáticos sedimentada
outros corrompeu. Astutos pescadores de pégasos
em águas turvas. O vento passa. O povo porém
finca os pés na terra. Canto
para ti: Vasco igual a povo. Para que não se esqueça
a sábia floração
de um mar (mármore) jamais em repouso - a força, a determinação
do homem novo. Pobre. Dissolvido
em palavras de névoa. Pobre. Camuflado
em buracos de sótãos e caves; em bairros de lata; em arcos de ponte
e choupanas de palha; esterco; barcaças apodrecidas... Esse,
o proleta, o campesino
eleva-se na sombra, ouve, entende
a tua voz, a palavra Revolução; e transmite o fogo, a fábula
a seus camaradas mais descuidosos: ambulantes, desocupados...
Os próprios burgueses, os mais pequeninos, os que se vendem
por um prato de lentilhas
um dia compreenderão o fenómeno
da Independência Nacional; (tal qual és - Brecht,
sem ironia - não poderás continuar a ser) - um dia, dizia,
haveis de compreender que também os vossos filhos
serão a seu tempo devastados
pela Besta Imunda. Transparente
foi Vasco
em sua luta sem cálculo nem quartel
contra a garra imperial. A usura. A erosão. A
decadência pusilânime. Apenas o povo,
apenas o exército vulnerável
dos explorados
aceitou a claridade, entendeu a palavra límpida
do futuro. O búzio
da Revolução.
Casimiro de Brito
(...) Grande foi Vasco
e também o ódio, e também a mácula, e também a morte
(intelectual, seminal) de várias e desvairadas gentes
o destruíu. Ou
talvez não. A glória, a corrupção
em centros ciáticos sedimentada
outros corrompeu. Astutos pescadores de pégasos
em águas turvas. O vento passa. O povo porém
finca os pés na terra. Canto
para ti: Vasco igual a povo. Para que não se esqueça
a sábia floração
de um mar (mármore) jamais em repouso - a força, a determinação
do homem novo. Pobre. Dissolvido
em palavras de névoa. Pobre. Camuflado
em buracos de sótãos e caves; em bairros de lata; em arcos de ponte
e choupanas de palha; esterco; barcaças apodrecidas... Esse,
o proleta, o campesino
eleva-se na sombra, ouve, entende
a tua voz, a palavra Revolução; e transmite o fogo, a fábula
a seus camaradas mais descuidosos: ambulantes, desocupados...
Os próprios burgueses, os mais pequeninos, os que se vendem
por um prato de lentilhas
um dia compreenderão o fenómeno
da Independência Nacional; (tal qual és - Brecht,
sem ironia - não poderás continuar a ser) - um dia, dizia,
haveis de compreender que também os vossos filhos
serão a seu tempo devastados
pela Besta Imunda. Transparente
foi Vasco
em sua luta sem cálculo nem quartel
contra a garra imperial. A usura. A erosão. A
decadência pusilânime. Apenas o povo,
apenas o exército vulnerável
dos explorados
aceitou a claridade, entendeu a palavra límpida
do futuro. O búzio
da Revolução.
Casimiro de Brito
PASSADO, PRESENTE - E O FUTURO?...
Manuel António Pina, em crónica publicada há dias no JN - «Vital, o "amordaçado"» - depois de pertinentíssimas considerações sobre «o arrependido do PCP», remata assim:
«O que sempre me pergunto, em casos como o de Vital Moreira, é o que, se falasse, o seu passado diria do seu presente».
Isto trouxe-me à memória uma intervenção do «passado» Vital, que deixa claro o que ele «diria do seu presente», hoje cabeça de lista do PS ao PE e defensor acérrimo da União Europeia do grande capital.
Vital «passado», abordando a questão da «ofensiva generalizada das forças reaccionárias contra o regime democrático saído do 25 de Abril», ofensiva para a qual «a Constituição da República constitui um dos alvos principais», respondia assim a argumentos utilizados pelas «forças reaccionárias»:
«Dizem que a Constituição seria incompatível com o Mercado Comum - mas com isto apenas mostram o seu enfeudamento aos interesses das multinacionais europeias e tornam ainda mais evidente o desastre que constituiria a plena integração no Mercado Comum».
É fácil imaginar o que este Vital «passado» chamaria ao Vital «presente»...
E quanto ao futuro do dito Vital... tudo pode acontecer. Aguardemos.
«O que sempre me pergunto, em casos como o de Vital Moreira, é o que, se falasse, o seu passado diria do seu presente».
Isto trouxe-me à memória uma intervenção do «passado» Vital, que deixa claro o que ele «diria do seu presente», hoje cabeça de lista do PS ao PE e defensor acérrimo da União Europeia do grande capital.
Vital «passado», abordando a questão da «ofensiva generalizada das forças reaccionárias contra o regime democrático saído do 25 de Abril», ofensiva para a qual «a Constituição da República constitui um dos alvos principais», respondia assim a argumentos utilizados pelas «forças reaccionárias»:
«Dizem que a Constituição seria incompatível com o Mercado Comum - mas com isto apenas mostram o seu enfeudamento aos interesses das multinacionais europeias e tornam ainda mais evidente o desastre que constituiria a plena integração no Mercado Comum».
É fácil imaginar o que este Vital «passado» chamaria ao Vital «presente»...
E quanto ao futuro do dito Vital... tudo pode acontecer. Aguardemos.
POEMA
COMPANHEIRO VASCO
Além de tudo o mais
reiventaste a pureza das palavras
e fizeste com elas pedras e tijolos
de onde nasceriam pouco a pouco as casas.
Além de tudo o mais
tu foste o poeta da verdade
o homem que se bate corpo a corpo
sem medo, sem ódio, com ternura
com a força que o vento dá ao trigo
a força de quem pode estar de frente
e olhar de olhos nos olhos toda a gente.
Além de tudo o mais
tu és o companheiro
o camarada, o homem verdadeiro
o herói anónimo que nunca terá estátua.
Depois de tu falares
e mostrares que fazes o que falas
nenhum de nós se pode desculpar
ninguém pode dizer que não sabia
fomos todos carrascos da pátria
que tu querias libertada!
E ou enchemos as ruas
com o teu nome na ponta da espingarda
ou morremos aos poucos de saudade
desse cravo vermelho que arrancámos
raíz, tronco, semente, Liberdade!
José Barreiros
Além de tudo o mais
reiventaste a pureza das palavras
e fizeste com elas pedras e tijolos
de onde nasceriam pouco a pouco as casas.
Além de tudo o mais
tu foste o poeta da verdade
o homem que se bate corpo a corpo
sem medo, sem ódio, com ternura
com a força que o vento dá ao trigo
a força de quem pode estar de frente
e olhar de olhos nos olhos toda a gente.
Além de tudo o mais
tu és o companheiro
o camarada, o homem verdadeiro
o herói anónimo que nunca terá estátua.
Depois de tu falares
e mostrares que fazes o que falas
nenhum de nós se pode desculpar
ninguém pode dizer que não sabia
fomos todos carrascos da pátria
que tu querias libertada!
E ou enchemos as ruas
com o teu nome na ponta da espingarda
ou morremos aos poucos de saudade
desse cravo vermelho que arrancámos
raíz, tronco, semente, Liberdade!
José Barreiros
DESVERGONHA SEM LIMITES
Mário Soares é, hoje, um dos mais activos propagandistas da ideologia dominante, desenvolvendo intensa actividade falada e escrita - que, naturalmente, os média divulgam exaustivamente.
O DN de hoje dá nota de declarações por ele proferidas numa sessão sobre o 25 de Abril, onde, a dada altura, se saiu com esta tirada com a qual confirma que no seu caso a desvergonha não conhece limites:
«A revolução dos cravos foi um caso único, sem influência estrangeira. Foi uma revolução completamente original que foi feita em Portugal, por portugueses, sem interferência estrangeira de qualquer ordem».
É claro que quando Soares diz «revolução» está, essencialmente, a pensar em contra-revolução - e quando nega a «interferência estrangeira» está a sacudir a água do capote em relação ao papel que ele desempenhou enquanto agente do capitalismo internacional ao serviço dessa contra-revolução.
Na realidade, como Soares sabe melhor do que ninguém, a «interferência estrangeira» - apoiada nuns tantos homens de mão comprados por milhões e milhões de dólares, libras, marcos, francos, coroas... - foi crucial para travar e, posteriormente, vencer o processo revolucionário; foi crucial para pôr em prática a política de direita- a política da contra-revolução, a política do ódio a Abril - que há 33 anos flagela os trabalhadores, o povo e o País e é causa fundamental da grave situação em que o País se encontra.
E como Soares sabe melhor do que ninguém, ele foi o mais destacado - e certamente o mais bem pago - de todos esses homens de mão que foram os veículos da interferência estrangeira em Portugal.
O DN de hoje dá nota de declarações por ele proferidas numa sessão sobre o 25 de Abril, onde, a dada altura, se saiu com esta tirada com a qual confirma que no seu caso a desvergonha não conhece limites:
«A revolução dos cravos foi um caso único, sem influência estrangeira. Foi uma revolução completamente original que foi feita em Portugal, por portugueses, sem interferência estrangeira de qualquer ordem».
É claro que quando Soares diz «revolução» está, essencialmente, a pensar em contra-revolução - e quando nega a «interferência estrangeira» está a sacudir a água do capote em relação ao papel que ele desempenhou enquanto agente do capitalismo internacional ao serviço dessa contra-revolução.
Na realidade, como Soares sabe melhor do que ninguém, a «interferência estrangeira» - apoiada nuns tantos homens de mão comprados por milhões e milhões de dólares, libras, marcos, francos, coroas... - foi crucial para travar e, posteriormente, vencer o processo revolucionário; foi crucial para pôr em prática a política de direita- a política da contra-revolução, a política do ódio a Abril - que há 33 anos flagela os trabalhadores, o povo e o País e é causa fundamental da grave situação em que o País se encontra.
E como Soares sabe melhor do que ninguém, ele foi o mais destacado - e certamente o mais bem pago - de todos esses homens de mão que foram os veículos da interferência estrangeira em Portugal.
POEMA
O COMUM DA TERRA
(A Vasco Gonçalves)
Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.
Eugénio de Andrade
(A Vasco Gonçalves)
Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.
Eugénio de Andrade
TROCA POR TROCA
Afinal, o tão badalado acordo BE/PS - que levou à aprovação na generalidade, por ambos, de uma proposta sobre o fim do sigilo bancário - não é bem o que parecia ser, nem pouco mais ou menos.
Bem pelo contrário: de acordo com a tal proposta, o fim do sigilo bancário aplica-se apenas às contas dos contribuintes individuais, ou seja, a essa imensíssima maioria dos portugueses conhecidos por tesos.
Quem fica a beneficiar com a iniciativa do BE, que o PS apoiou, são... as empresas que, em comparação com a legislação actual, vêem o acesso às suas contas bancárias dificultado: só com autorização de um tribunal.
Entretanto, o acordo entre BE e PS em torno da célebre proposta já deu certamente alguns frutos. Isto porque,
- a proposta do BE (que, curiosamente, não se preocupa com os enriquecimentos ilícitos), revelou-se importante para o branqueamento do Governo PS e da sua política;
- e a aceitação entusiástica dessa proposta pelo PS, foi uma óptima acção de propaganda em favor do BE.
Foi troca por troca.
Bem pelo contrário: de acordo com a tal proposta, o fim do sigilo bancário aplica-se apenas às contas dos contribuintes individuais, ou seja, a essa imensíssima maioria dos portugueses conhecidos por tesos.
Quem fica a beneficiar com a iniciativa do BE, que o PS apoiou, são... as empresas que, em comparação com a legislação actual, vêem o acesso às suas contas bancárias dificultado: só com autorização de um tribunal.
Entretanto, o acordo entre BE e PS em torno da célebre proposta já deu certamente alguns frutos. Isto porque,
- a proposta do BE (que, curiosamente, não se preocupa com os enriquecimentos ilícitos), revelou-se importante para o branqueamento do Governo PS e da sua política;
- e a aceitação entusiástica dessa proposta pelo PS, foi uma óptima acção de propaganda em favor do BE.
Foi troca por troca.
POEMA
A GUERRA QUE AÍ VEM
A guerra que aí vem
não é a primeira. Antes dela
houve outras guerras.
Quando a última acabou
houve vencedores e vencidos.
Entre os vencidos o povo baixo
passou fome. Entre os vencedores
passou fome também o povo baixo.
Brecht
A guerra que aí vem
não é a primeira. Antes dela
houve outras guerras.
Quando a última acabou
houve vencedores e vencidos.
Entre os vencidos o povo baixo
passou fome. Entre os vencedores
passou fome também o povo baixo.
Brecht
HOMENS SEM PALAVRA
A participação de Obama na Cimeira da América visava, disse ele,
«criar um novo relacionamento de cooperação com a América Latina»,
já que, segundo disse,
«com tudo o que está em jogo, não podemos deixar de nos ouvir uns aos outros, Temos de encontrar e construir os nossos interesses comuns»,
e para isso é necessário, sempre nas palavras de Obama,
«ouvir e aprender».
Obama foi lá, ouviu e terá aprendido - provavelmente terá, até, aprendido muito - mas não aprendeu o essencial, e por isso não fez aquilo que deveria fazer: anunciar o fim do bloqueio a Cuba.
Se o tivesse feito, teria dado inequívocas provas de «mudança». Não o tendo feito, e recorrendo aos mesmos argumentos dos seus antecessores (Bush incluído), mostrou que a sua «mudança» não passa de paleio.
A utilização do «argumento» dos «direitos humanos» tem servido a todos os presidentes dos EUA, desde Kennedy, para justificar quer o bloqueio, quer o conjunto de acções terroristas desencadeadas pelo imperialismo norte-americano contra Cuba.
Tal «argumento» tem servido, igualmente, para desviar as atenções da falta de palavra de todos esses presidentes dos EUA.
Com efeito, remontando ao ano de 1962, recordamos que, face às ameaças e tentativas de invasão de Cuba, a União Soviética, a pedido do governo cubano, instalou bases de mísseis na Ilha, e que a resposta dos EUA a essa decisão colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear.
No final do processo de negociações então realizado, acordou-se que a URSS procederia ao desmantelamento das bases de mísseis e que, em troca, os EUA cessariam as operações contra Cuba e poriam termo ao bloqueio.
A URSS cumpriu com a palavra dada: retirou os mísseis.
Os EUA não cumpriram com a palavra dada: até hoje, não pararam de agredir Cuba - e o bloqueio mantém-se.
Portanto, o que Obama tinha a fazer era, tão-somente, cumprir a palavra dada por Kennedy e jamais cumprida por qualquer presidente dos EUA.
Se tal fizesse, então sim, essa seria, de facto, uma «mudança».
Não o tendo feito, entra para o rol dos homens sem palavra - que, para o caso, são todos os presidentes dos EUA.
«criar um novo relacionamento de cooperação com a América Latina»,
já que, segundo disse,
«com tudo o que está em jogo, não podemos deixar de nos ouvir uns aos outros, Temos de encontrar e construir os nossos interesses comuns»,
e para isso é necessário, sempre nas palavras de Obama,
«ouvir e aprender».
Obama foi lá, ouviu e terá aprendido - provavelmente terá, até, aprendido muito - mas não aprendeu o essencial, e por isso não fez aquilo que deveria fazer: anunciar o fim do bloqueio a Cuba.
Se o tivesse feito, teria dado inequívocas provas de «mudança». Não o tendo feito, e recorrendo aos mesmos argumentos dos seus antecessores (Bush incluído), mostrou que a sua «mudança» não passa de paleio.
A utilização do «argumento» dos «direitos humanos» tem servido a todos os presidentes dos EUA, desde Kennedy, para justificar quer o bloqueio, quer o conjunto de acções terroristas desencadeadas pelo imperialismo norte-americano contra Cuba.
Tal «argumento» tem servido, igualmente, para desviar as atenções da falta de palavra de todos esses presidentes dos EUA.
Com efeito, remontando ao ano de 1962, recordamos que, face às ameaças e tentativas de invasão de Cuba, a União Soviética, a pedido do governo cubano, instalou bases de mísseis na Ilha, e que a resposta dos EUA a essa decisão colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear.
No final do processo de negociações então realizado, acordou-se que a URSS procederia ao desmantelamento das bases de mísseis e que, em troca, os EUA cessariam as operações contra Cuba e poriam termo ao bloqueio.
A URSS cumpriu com a palavra dada: retirou os mísseis.
Os EUA não cumpriram com a palavra dada: até hoje, não pararam de agredir Cuba - e o bloqueio mantém-se.
Portanto, o que Obama tinha a fazer era, tão-somente, cumprir a palavra dada por Kennedy e jamais cumprida por qualquer presidente dos EUA.
Se tal fizesse, então sim, essa seria, de facto, uma «mudança».
Não o tendo feito, entra para o rol dos homens sem palavra - que, para o caso, são todos os presidentes dos EUA.
POEMA
MEU CAMARADA E AMIGO
Revejo tudo e redigo
meu Camarada e Amigo.
Meu irmão suando pão
sem casa mas com razão.
Revejo tudo e redigo
meu Camarada e Amigo.
As canções que trago prenhas
de ternura pelos outros
saem das minhas entranhas
como um rebanho de potros.
Tudo vai roendo a erva
daninha que me entrelaça:
canção não pode ser serva
homem não pode ser caça
e a poesia tem de ser
como um cavalo que passa.
É por dentro desta selva
desta raiva deste grito
desta toada que vem
dos pulmões do infinito
que em todos vejo ninguém
revejo tudo e redigo:
meu Camarada e Amigo,
Sei bem as mós que moendo
pouco a pouco trituraram
os ossos que estão doendo
àqueles que não falaram.
Calculo até os moinhos
puxados a ódio e sal
que a par dos monstros marinhos
vão movendo Portugal
- mas um poeta só fala
por sofrimento total!
Por isso calo e sobejo
eu que só tenho o que fiz
dando tudo mas à toa:
Amigos no Alentejo
alguns que estão em Paris
muitos que são de Lisboa.
Aonde me não revejo
é que eu sofro o meu país.
José Carlos Ary dos Santos
Revejo tudo e redigo
meu Camarada e Amigo.
Meu irmão suando pão
sem casa mas com razão.
Revejo tudo e redigo
meu Camarada e Amigo.
As canções que trago prenhas
de ternura pelos outros
saem das minhas entranhas
como um rebanho de potros.
Tudo vai roendo a erva
daninha que me entrelaça:
canção não pode ser serva
homem não pode ser caça
e a poesia tem de ser
como um cavalo que passa.
É por dentro desta selva
desta raiva deste grito
desta toada que vem
dos pulmões do infinito
que em todos vejo ninguém
revejo tudo e redigo:
meu Camarada e Amigo,
Sei bem as mós que moendo
pouco a pouco trituraram
os ossos que estão doendo
àqueles que não falaram.
Calculo até os moinhos
puxados a ódio e sal
que a par dos monstros marinhos
vão movendo Portugal
- mas um poeta só fala
por sofrimento total!
Por isso calo e sobejo
eu que só tenho o que fiz
dando tudo mas à toa:
Amigos no Alentejo
alguns que estão em Paris
muitos que são de Lisboa.
Aonde me não revejo
é que eu sofro o meu país.
José Carlos Ary dos Santos
Abril! Sempre!
foram momentos de uma amizade sem fim. vermelho colorido nos cravos da Guida, nos cravos de Abril, no pensamento de quem sabe amar a terra que comeu a sua juventude. às onze e meia da manhã, já os primeiros se aglomeravam em volta do lagar da Agrária. Da Reforma Agrária, memória dos dias mais bonitos que o sol já beijou no querer dos trabalhadores. invadimo-lo como quem quem o arranca ao latifúndio pela primeira vez! e logo, nos olhos e nas palavras dos homens e mulheres de Ervidel que nos acompanharam, se soltaram roldanas, cabos, mós, e o azeite que iluminou, que ilumina, a esperança da revolução que ainda não cumprimos. Lá estavam eles... o Viriato, o Domingos, o Valverde, o Caixinha... todos... todos os nomes que aqui faltam e que, na sua biografia, escrevem o súor com que arrancaram à fome o sustento dos filhos. nos ouvidos dos meus camaradas que cá se deslocaram, cintilava, bem a pressenti, a comoção de quem descobre com que linhas se faz um sonho, nas palavras inauguradas por amigos acabados de se fazer. depois veio o museu rural. Arados, charruas, foices. e a fome. sempre afome. Mas também as lutas, as alfaias do sonho com que ergueram o descontentamento perante o imperialismo do latifúndio. E logo o riso aberto de quem ama! de quem ama e faz o Partido da sua luta e da sua querença. simbolo da união dos operários e camponeses, simbiose que Ervidel e Aljustrel encarnam nas gentes que as habitam. Foi esta aliança, a sua consciência, que nos uniu ali. girando em torno de um sonho que também neste blog se materializa e afirma! depois, depois veio uma mesa cheia de amor. E quero lembrar o esforço dos camaradas que, trabalhando, o possibilitaram. O queijo, o paio, as azeitonas, o pão alentejano... e os grãos com carne onde cada um encontrou a metamorfose da união. e as lágrimas ainda estavam por vir. mas não demoram, como combinado desde o inicio dos tempos em que os alentejanos cantam. e ouviram-se, nas gargantas colectivas, das mais belas modas resistentes que esta gente, a minha gente, compôs. Foram grandolas, operários, searas, alquevas de ternura lembrando a nossa luta. a nossa revolução que virá para cumprir Abril e fazer justiça ao luis, ao copa, ao artur, a todos os pseudónimos que estes homens, clandestinos comunistas no fascismo, usaram para honrar a sua gente, a sua classe. Lá esteve também o Raimundo, poeta popular que aprendeu a rimar ao som das ripadas da fome dos filhos. lá estiveram o nobre e o ildefonso, cantando como ninguém, ao som da viola, as mais belas letras da esperança. E a Joaquina no poema do Ary e das portas que ninguém mais cerrará. e as crianças que vieram trazer aos cravos a juventude que muitos lhe querem negar. passou também um gato. conheço-o. é o pantufa, reside na Adega do Moreira ( que belo vinho que nos ofereceu! obrigado). passou galopando como cavalo e paladino. parou por moimentos. olhou-nos. deve-nos ter sabido comunistas. pediu festas. enroscou-se ali perto. adormeceu tranquilo. Amanhã Abril virá! e nem os bichos lhe são indiferentes!
Foi dos dias mais belos da minha existência. obrigado
Foi dos dias mais belos da minha existência. obrigado
Para a Guida
Camarada: foi com muita tristeza que anunciaste a tua ausência no encontro onde festejámos todos o II aniversário do Cravo de Abril. Maior ainda a que nos invadiu por saber da tua impossibilidade. ainda assim, fruto de uma ternura e do coração que te caracteriza, encontrámos uma surpresa tua à nossa espera. foram palavras bonitas aquelas que nos dirigiste, e que nos fizeram gritar bem alto, contigo, « Viva o 35º aniversário do 25 de Abril!». a acompanhar as letras que nos fizeram rasar as lágrimas, cravos, cravos vermelhos que enviaste para marcar , ainda mais, a presença de Abril no nosso encontro! com eles, pétala a pétala, cada desbravar do teu sorriso fraterno que assim lá esteve. não houve ninguém, nenhum camarada - se não te conhecia - que não quisesse saber quem eras! quem de Espinho inundou o alentejo no sonho vermelho dos cravos e das pombas - simbolo de sonho colectivo! - que assim nos chegaram.? Quem te conhece, sabe que a intenção cumpria-se nos cravos. no seu vermelho flamejante. quem assim te passou a conhecer, sabe que o sonho passa bem além das fronteiras das pessoas do nosso quotidiano. estiveste connosco. como sempre estamos todos. no abraço revolucionário de quem faz das flores junção. e da sua cor, o reflexo da bandeira do nosso sonho. Cantei para ti, cantámos todos, um Grândola. estiveste lá, junto de cada palavra onde acaba a tirania e a exploração. obrigado pelos cravos. lindas pombas. voaram de mão em mão. uma delas - quase todas - poisou junto de um coração revolucionário que por ali andava, junto dos seus iguais. cheirou a estevas e a alecrim! não sei se do ramalhete que se compôs em cada coração, se dos ares das gentes do norte que vieram contigo... com as aves.
muito obrigado. o teu gesto habita agora onde se levanta o silencio embargado pela comoção.
o colectivo do Cravo de Abril!
Abril! SEMPRE!
muito obrigado. o teu gesto habita agora onde se levanta o silencio embargado pela comoção.
o colectivo do Cravo de Abril!
Abril! SEMPRE!
POEMA
(Um momento de filosofia barata)
Para além do «ser ou não ser» dos problemas ocos,
o que importa é isto:
- Penso nos outros.
Logo existo.
José Gomes Ferreira
Para além do «ser ou não ser» dos problemas ocos,
o que importa é isto:
- Penso nos outros.
Logo existo.
José Gomes Ferreira
MIMOS DEMOCRÁTICOS
Nos últimos dez dias, os média dominantes fartaram-se de falar, escrever e mostrar imagens da Moldávia.
Isto porque os comunistas ganharam as eleições - ainda por cima obtendo uma maioria absoluta - e os habituais «sectores democráticos» não aceitaram os resultados, consideraram tratar-se de uma «fraude eleitoral» e exigiram a «recontagem dos votos».
A exigência foi acompanhada pela invasão, destruição, incêndio dos edifícios do parlamento e do governo - casos que os média trataram com benévolo distanciamento, eximindo-se de os qualificar ou tratando-os com uma simpatia carregada de cumplicidade.
A dada altura, as autoridades do país decidiram ceder à exigência e proceder á recontagem dos votos.
A partir daí, os contestatários mudaram a agulha: rejeitaram o que antes haviam exigido e passaram a exigir o que sempre esteve nos seus intentos: a queda do governo e a sua substituição por um «governo democrático», ou seja, por um governo totalmente encarneirado nas baias do capitalismo internacional.
Entretanto a recontagem dos votos foi por diante e os resultados foram conhecidos ontem: «vitória dos comunistas do Presidente Vladimir Voronin, com perto de 50 por cento dos votos. Não foram detectadas as fraudes denunciadas pela oposição».
Por isso, a notícia foi silenciada pela generalidade dos média - e os que se lhe referiram fizeram-no em meia dúzia de linhas bem escondidinhas, só ao alcance dos leitores mais atentos e interessados.
Mas aguardemos: quando (e se) «a oposição» retomar as suas acções terroristas - inclusive com grupos organizados idos de outros países - a Moldávia voltará a ser a notícia do dia.
Na verdade, estes média estragam os seus utentes com tantos mimos democráticos...
Isto porque os comunistas ganharam as eleições - ainda por cima obtendo uma maioria absoluta - e os habituais «sectores democráticos» não aceitaram os resultados, consideraram tratar-se de uma «fraude eleitoral» e exigiram a «recontagem dos votos».
A exigência foi acompanhada pela invasão, destruição, incêndio dos edifícios do parlamento e do governo - casos que os média trataram com benévolo distanciamento, eximindo-se de os qualificar ou tratando-os com uma simpatia carregada de cumplicidade.
A dada altura, as autoridades do país decidiram ceder à exigência e proceder á recontagem dos votos.
A partir daí, os contestatários mudaram a agulha: rejeitaram o que antes haviam exigido e passaram a exigir o que sempre esteve nos seus intentos: a queda do governo e a sua substituição por um «governo democrático», ou seja, por um governo totalmente encarneirado nas baias do capitalismo internacional.
Entretanto a recontagem dos votos foi por diante e os resultados foram conhecidos ontem: «vitória dos comunistas do Presidente Vladimir Voronin, com perto de 50 por cento dos votos. Não foram detectadas as fraudes denunciadas pela oposição».
Por isso, a notícia foi silenciada pela generalidade dos média - e os que se lhe referiram fizeram-no em meia dúzia de linhas bem escondidinhas, só ao alcance dos leitores mais atentos e interessados.
Mas aguardemos: quando (e se) «a oposição» retomar as suas acções terroristas - inclusive com grupos organizados idos de outros países - a Moldávia voltará a ser a notícia do dia.
Na verdade, estes média estragam os seus utentes com tantos mimos democráticos...
POEMA
CONFIDÊNCIA
Absorto, chegou-se ao pé de mim
e disse:
«Sabe, não sei se o patrão tem culpa ou não
de ser patrão;
mas a sarna também não tem culpa de ser sarna
- e é uma chatice!»
Francisco Viana
Absorto, chegou-se ao pé de mim
e disse:
«Sabe, não sei se o patrão tem culpa ou não
de ser patrão;
mas a sarna também não tem culpa de ser sarna
- e é uma chatice!»
Francisco Viana
A CRISE QUE VEIO DE FORA
Já aqui falei da obsessão doentia de Mário Soares no que respeita às origens da crise económica e social em que Portugal está mergulhado.
Quase não se passa um dia sem que ele nos venha ensinar que «a crise veio de fora, não foi gerada cá dentro», ou que: «é muito fácil apontar o dedo ao primeiro-ministro e culpá-lo, mas a crise veio de fora» etc, etc.
Percebe-se: Soares sabe que - enquanto chefe da contra-revolução e iniciador da política de direita que restituiu o poder ao grande capital e vendeu a independência e a soberania nacional ao capitalismo dominante - tem graves responsabilidades na crise actual; e, perante isso, faz o quetoda a vida fez: sacode a água do capote.
Mas o que mais o preocupa - muito, muito mais do que a «crise» em si - é o facto de a crise poder vir a provocar protestos e revoltas susceptíveis de porem em causa o capitalismo - a cuja defesa ele tem dedicado toda a sua longa vida, registe-se.
E essa preocupação é de tal monta que resvalou já para o histerismo - como pode constatar quem quiser castigar-se lendo o seu último artigo semanal no Diário de Notícias. Garanto-vos: o homem está positivamente amedrontado, acagaçado, empanicado.
Não pensa nem fala de outra coisa: «a crise que veio de fora gera necessariamente desemprego, o desemprego gera mal-estar social e, a prazo, revolta»- ora, é necessário que se impeça a «revolta»...
Tanto mais que «a revolta pode gerar o caos e o caos leva à violência cega» - ora, é necessário que se impeça o «caos» e, muito mais, «a violência cega»...
E vai por aí fora, repetindo e repetindo os seus temores e cagaços - e deixando atrás de si o fedor da coragem a correr-lhe pelo fundo das calças...
Finalmente - talvez com receio de não ter sido entendido, e impulsionado pela ânsia de se fazer ouvir a todo o custo - enuncia a sequência completa: «crise (que veio de fora), desemprego, mal-estar social, violência, caos, aumento da crise (que veio de fora), democracia posta em causa...» - ora, é necessário que se impeça que «a democracia (seja) posta em causa»...
Enfim, são muitas as preocupações que pesam sobre o homem e certamente lhe tiram o sono, pobre dele.
Resta-lhe, contudo, uma certeza: a de, quando chegar a sua hora, concretizar plenamente o desejo, que há dias formulou, de morrer com a mesma dignidade com que viveu.
Quase não se passa um dia sem que ele nos venha ensinar que «a crise veio de fora, não foi gerada cá dentro», ou que: «é muito fácil apontar o dedo ao primeiro-ministro e culpá-lo, mas a crise veio de fora» etc, etc.
Percebe-se: Soares sabe que - enquanto chefe da contra-revolução e iniciador da política de direita que restituiu o poder ao grande capital e vendeu a independência e a soberania nacional ao capitalismo dominante - tem graves responsabilidades na crise actual; e, perante isso, faz o quetoda a vida fez: sacode a água do capote.
Mas o que mais o preocupa - muito, muito mais do que a «crise» em si - é o facto de a crise poder vir a provocar protestos e revoltas susceptíveis de porem em causa o capitalismo - a cuja defesa ele tem dedicado toda a sua longa vida, registe-se.
E essa preocupação é de tal monta que resvalou já para o histerismo - como pode constatar quem quiser castigar-se lendo o seu último artigo semanal no Diário de Notícias. Garanto-vos: o homem está positivamente amedrontado, acagaçado, empanicado.
Não pensa nem fala de outra coisa: «a crise que veio de fora gera necessariamente desemprego, o desemprego gera mal-estar social e, a prazo, revolta»- ora, é necessário que se impeça a «revolta»...
Tanto mais que «a revolta pode gerar o caos e o caos leva à violência cega» - ora, é necessário que se impeça o «caos» e, muito mais, «a violência cega»...
E vai por aí fora, repetindo e repetindo os seus temores e cagaços - e deixando atrás de si o fedor da coragem a correr-lhe pelo fundo das calças...
Finalmente - talvez com receio de não ter sido entendido, e impulsionado pela ânsia de se fazer ouvir a todo o custo - enuncia a sequência completa: «crise (que veio de fora), desemprego, mal-estar social, violência, caos, aumento da crise (que veio de fora), democracia posta em causa...» - ora, é necessário que se impeça que «a democracia (seja) posta em causa»...
Enfim, são muitas as preocupações que pesam sobre o homem e certamente lhe tiram o sono, pobre dele.
Resta-lhe, contudo, uma certeza: a de, quando chegar a sua hora, concretizar plenamente o desejo, que há dias formulou, de morrer com a mesma dignidade com que viveu.
POEMA
ELEIÇÃO
No grande laboratório
onde o amor mais puro é transformado em excremento
e um homem em tamanho natural
é reduzido em poucos minutos a escombros
onde os crocodilos são rapidamente promovidos
e os buracos de fechadura são pistolas automáticas
onde se esmaga o cordão umbilical dos sonhos
e se transformam os venenos em fogos de artifício
onde caixeiros viajantes se exercitam
para vender provetas saturadas de morte
é hoje inaugurada uma nova caveira
e muitos depositam nela imensa esperança.
Egito Gonçalves
No grande laboratório
onde o amor mais puro é transformado em excremento
e um homem em tamanho natural
é reduzido em poucos minutos a escombros
onde os crocodilos são rapidamente promovidos
e os buracos de fechadura são pistolas automáticas
onde se esmaga o cordão umbilical dos sonhos
e se transformam os venenos em fogos de artifício
onde caixeiros viajantes se exercitam
para vender provetas saturadas de morte
é hoje inaugurada uma nova caveira
e muitos depositam nela imensa esperança.
Egito Gonçalves
NOTÍCIAS DE GUANTÁNAMO
Mohammed el-Gharani nasceu no Chade há vinte anos.
Aos 14 anos de idade foi preso e enviado para o campo de concentração de Guantánamo, acusado de ligações à Al-Qaeda.
Em Janeiro passado, após seis anos de prisão e de torturas, o tribunal ordenou a sua libertação por falta de provas.
Entretanto, continua preso. Com uma diferença: a partir da decisão do tribunal, passou a poder telefonar para a família uma vez por semana.
Uma semana destas, o jovem prisioneiro, iludindo a vigilância dos carcereiros, em vez de telefonar para a família, ligou para um jornalista da Al-Jazira (que, por sinal, também esteve seis anos em Guantánamo e foi libertado por falta de provas)
Nesse telefonema, o jovem Mohammed denunciou a situação em que se encontra: contou que depois da decisão do tribunal ordenando a sua libertação, viu as suas condições prisionais agravadas, inclusive passando a ser sujeito a «espancamentos quase todos os dias».
Como estamos lembrados, Obama, quando tomou posse, anunciou o fim imediato dos maus tratos aos prisioneiros de Guantánamo e o encerramento do campo de concentração.
No entanto - ou por esquecimento, ou por distracção, ou sabe-se lá porquê - Obama não mandou substituir «as pessoas que tratam dos presos», as quais - ou por desconhecimento da ordem presidencial, ou por vocação instalada, ou sabe-se lá porquê -prosseguiram a sua patriótica acção de torturadores.
O caso de Mohammed el-Gharani é um entre muitos a atestar uma muito específica forma de exercer a democracia - desta democracia made in EUA que se autoproclama e é proclamada como a mais avançada do mundo...
Já agora: com esta notícia, outra chegou confirmando a existência de uma prisão da CIA na Polónia - prisão pela qual têm passado muitos prisioneiros acusados - como o jornalista da Al-Jazira e o jovem Mohammed el-Gharani - de ligações à Al-Qaeda.
Neste caso o que é de sublinhar é a subordinação total do governo da Polónia - desta Polónia que desde há duas décadas se autoproclama e é proclamada de livre, independente e democrática - aos ditames do imperialismo norte-americano e da sua democraCIA.
Aos 14 anos de idade foi preso e enviado para o campo de concentração de Guantánamo, acusado de ligações à Al-Qaeda.
Em Janeiro passado, após seis anos de prisão e de torturas, o tribunal ordenou a sua libertação por falta de provas.
Entretanto, continua preso. Com uma diferença: a partir da decisão do tribunal, passou a poder telefonar para a família uma vez por semana.
Uma semana destas, o jovem prisioneiro, iludindo a vigilância dos carcereiros, em vez de telefonar para a família, ligou para um jornalista da Al-Jazira (que, por sinal, também esteve seis anos em Guantánamo e foi libertado por falta de provas)
Nesse telefonema, o jovem Mohammed denunciou a situação em que se encontra: contou que depois da decisão do tribunal ordenando a sua libertação, viu as suas condições prisionais agravadas, inclusive passando a ser sujeito a «espancamentos quase todos os dias».
Como estamos lembrados, Obama, quando tomou posse, anunciou o fim imediato dos maus tratos aos prisioneiros de Guantánamo e o encerramento do campo de concentração.
No entanto - ou por esquecimento, ou por distracção, ou sabe-se lá porquê - Obama não mandou substituir «as pessoas que tratam dos presos», as quais - ou por desconhecimento da ordem presidencial, ou por vocação instalada, ou sabe-se lá porquê -prosseguiram a sua patriótica acção de torturadores.
O caso de Mohammed el-Gharani é um entre muitos a atestar uma muito específica forma de exercer a democracia - desta democracia made in EUA que se autoproclama e é proclamada como a mais avançada do mundo...
Já agora: com esta notícia, outra chegou confirmando a existência de uma prisão da CIA na Polónia - prisão pela qual têm passado muitos prisioneiros acusados - como o jornalista da Al-Jazira e o jovem Mohammed el-Gharani - de ligações à Al-Qaeda.
Neste caso o que é de sublinhar é a subordinação total do governo da Polónia - desta Polónia que desde há duas décadas se autoproclama e é proclamada de livre, independente e democrática - aos ditames do imperialismo norte-americano e da sua democraCIA.
POEMA
A TERRA
É da terra sangrenta. Terra braço
terra encharcada em raiva e em suor
que o homem pouco a pouco passo a passo
tira a matéria-prima do amor.
Umas vezes o trigo loiro e cheio
outras o carvão negro e faiscante
uma vezes petróleo outras centeio
mas sempre tudo menos que o bastante.
Porque a terra não é de quem trabalha
porque o trigo não é de quem semeia
e um trabalhador apenas falha
quando faz filhos em mulher alheia.
Quando o estrume das lágrimas chegar
para adubar os vales da revolta
quando um mineiro pude respirar
com as narinas dum cavalo à solta.
Quando o minério se puder tornar
semente viva de bem-estar e pão
quando o silêncio se puder calar
e um homem livre nunca dizer não.
Quando chegar o dia em que o trabalho
for apenas dar mais ao nosso irmão
quando a fúria de força que há num malho
fizer soltar faíscas de razão.
Quando o tempo do aço for o tempo
da têmpera dos homens caldeados
por pó e chuva por excremento e vento
mas por sua vontade libertados.
Quando a seiva do homem lhe escorrer
por entre as pernas como sangue novo
e quando a cada filho que fizer
puder chamar em vez de Pedro Povo.
As entranhas da terra hão-de passar
o tempo da humana gestação
e parir como um rio a rebentar
o corpo imenso da Revolução.
José Carlos Ary dos Santos
É da terra sangrenta. Terra braço
terra encharcada em raiva e em suor
que o homem pouco a pouco passo a passo
tira a matéria-prima do amor.
Umas vezes o trigo loiro e cheio
outras o carvão negro e faiscante
uma vezes petróleo outras centeio
mas sempre tudo menos que o bastante.
Porque a terra não é de quem trabalha
porque o trigo não é de quem semeia
e um trabalhador apenas falha
quando faz filhos em mulher alheia.
Quando o estrume das lágrimas chegar
para adubar os vales da revolta
quando um mineiro pude respirar
com as narinas dum cavalo à solta.
Quando o minério se puder tornar
semente viva de bem-estar e pão
quando o silêncio se puder calar
e um homem livre nunca dizer não.
Quando chegar o dia em que o trabalho
for apenas dar mais ao nosso irmão
quando a fúria de força que há num malho
fizer soltar faíscas de razão.
Quando o tempo do aço for o tempo
da têmpera dos homens caldeados
por pó e chuva por excremento e vento
mas por sua vontade libertados.
Quando a seiva do homem lhe escorrer
por entre as pernas como sangue novo
e quando a cada filho que fizer
puder chamar em vez de Pedro Povo.
As entranhas da terra hão-de passar
o tempo da humana gestação
e parir como um rio a rebentar
o corpo imenso da Revolução.
José Carlos Ary dos Santos
AFIRMAÇÕES INFELIZES
O Diário de Notícias de ontem publicou um excelente texto - que daqui se saúda - de Francisco Mangas, a propósito do centenário do nascimento de Soeiro Pereira Gomes.
Também sobre Soeiro, Francisco Mangas faz uma breve entrevista ao escritor Mário Cláudio que expressa o seu grande apreço pela qualidade da obra literária do autor de Esteiros - que, muito justamente, diz ser «o livro que traz a dedicatória mais bela de toda a nossa literatura: "aos filhos dos homens que nunca foram meninos"»
No entanto, estranhamente, à pergunta sobre se a obra de Soeiro «deve ser ensinada nas escolas às gerações mais novas que não viveram a ditadura fascista», Mário Cláudio responde assim:
«O interesse da ficção de Soeiro Pereira Gomes é sobretudo histórico. A sociedade portuguesa evoluiu muito, agora os nossos problemas são outros. Vivemos uma época em que, por exemplo, há legislação específica para combater o trabalho infantil».
Desta resposta, deduzo que, na opinião de Mário Cláudio, a obra de Soeiro não deve ser ensinada nas escolas... pelas três razões que apresenta: o seu interesse é sobretudo histórico; a sociedade evoluiu muito; e até há legislação para combater o trabalho infantil...
Francamente, não percebo!
Ou talvez perceba, já que face a uma outra pergunta sobre a validade actual do neo-realismo, Mário Cláudio responde: «Enquanto processo de abordagem do real, o neo-realismo não acabou. O que acho ultrapassado, nos tempos de hoje, é a ideia de uma literatura com mensagem, uma literatura de combate» - isto porque, acrescenta, o nosso tempo não é o de «uma literatura que tenha um comprometimento político óbvio».
Percebi: o que leva Mário Cláudio a opinar que a obra do autor de Esteiros e de Engrenagem - o primeiro dedicado «aos filhos dos homens que nunca foram meninos»; o segundo dedicado «aos trabalhadores sem trabalho - rodas paradas de uma engrenagem caduca» - não deve ser ensinada nas escolas, é o facto de a literatura de Soeiro Pereira Gomes ser uma literatura de mensagem e de combate e ter um comprometimento político óbvio...
Mário Cláudio é um escritor de grande qualidade, do qual li, creio, tudo o que escreveu - acabei de ler há dias o seu Camilo Broca, no qual nos conta, em versão romanceada, a história da família de Camilo Castelo Branco.
Mais lamento, por isso, as suas infelizes afirmações.
Por um lado, porque, ao contrário do que diz Mário Cláudio, ensinar a obra de Soeiro nas escolas seria um bom contributo para esclarecer as jovens gerações sobre o que foi o regime fascista que durante décadas explorou, oprimiu e reprimiu o povo português - esse fascismo sobre o qual está em curso, hoje, uma poderosa operação de branqueamento.
Por outro lado, porque, ao contrário do que diz Mário Cláudio, o facto de a sociedade ter evoluído muito e haver legislação contra o trabalho infantil, não anulou, nem as muitas misérias da sociedade, nem o desemprego, nem os salários em atraso, nem a miséria e a fome. Nem o trabalho infantil. Nem as crianças com fome que acorrem aos hospitais...
Finalmente, porque, ao contrário do que pensa Mário Cláudio, no nosso tempo há uma literatura com mensagem, de combate e com um comprometimento político óbvio, só que, infelizmente, essa literatura - dominante, de facto, no nosso tempo - divulga uma mensagem, trava um combate e tem um comprometimento político que, tendo ou não os seus autores consciência disso, serve fielmente os interesses da ideologia dominante.
Felizmente - e contra a opinião de Mário Cáudio - há quem persista em remar contra essa maré: há quem persista em produzir literatura com mensagem, de combate e com comprometimento político óbvio: a mensagem, o combate e o comprometimento político de quem não desiste de transformar o mundo, de substituir a velha sociedade capitalista, baseada na exploração do homem pelo homem, por uma sociedade liberta de todas as formas de exploração.
Também sobre Soeiro, Francisco Mangas faz uma breve entrevista ao escritor Mário Cláudio que expressa o seu grande apreço pela qualidade da obra literária do autor de Esteiros - que, muito justamente, diz ser «o livro que traz a dedicatória mais bela de toda a nossa literatura: "aos filhos dos homens que nunca foram meninos"»
No entanto, estranhamente, à pergunta sobre se a obra de Soeiro «deve ser ensinada nas escolas às gerações mais novas que não viveram a ditadura fascista», Mário Cláudio responde assim:
«O interesse da ficção de Soeiro Pereira Gomes é sobretudo histórico. A sociedade portuguesa evoluiu muito, agora os nossos problemas são outros. Vivemos uma época em que, por exemplo, há legislação específica para combater o trabalho infantil».
Desta resposta, deduzo que, na opinião de Mário Cláudio, a obra de Soeiro não deve ser ensinada nas escolas... pelas três razões que apresenta: o seu interesse é sobretudo histórico; a sociedade evoluiu muito; e até há legislação para combater o trabalho infantil...
Francamente, não percebo!
Ou talvez perceba, já que face a uma outra pergunta sobre a validade actual do neo-realismo, Mário Cláudio responde: «Enquanto processo de abordagem do real, o neo-realismo não acabou. O que acho ultrapassado, nos tempos de hoje, é a ideia de uma literatura com mensagem, uma literatura de combate» - isto porque, acrescenta, o nosso tempo não é o de «uma literatura que tenha um comprometimento político óbvio».
Percebi: o que leva Mário Cláudio a opinar que a obra do autor de Esteiros e de Engrenagem - o primeiro dedicado «aos filhos dos homens que nunca foram meninos»; o segundo dedicado «aos trabalhadores sem trabalho - rodas paradas de uma engrenagem caduca» - não deve ser ensinada nas escolas, é o facto de a literatura de Soeiro Pereira Gomes ser uma literatura de mensagem e de combate e ter um comprometimento político óbvio...
Mário Cláudio é um escritor de grande qualidade, do qual li, creio, tudo o que escreveu - acabei de ler há dias o seu Camilo Broca, no qual nos conta, em versão romanceada, a história da família de Camilo Castelo Branco.
Mais lamento, por isso, as suas infelizes afirmações.
Por um lado, porque, ao contrário do que diz Mário Cláudio, ensinar a obra de Soeiro nas escolas seria um bom contributo para esclarecer as jovens gerações sobre o que foi o regime fascista que durante décadas explorou, oprimiu e reprimiu o povo português - esse fascismo sobre o qual está em curso, hoje, uma poderosa operação de branqueamento.
Por outro lado, porque, ao contrário do que diz Mário Cláudio, o facto de a sociedade ter evoluído muito e haver legislação contra o trabalho infantil, não anulou, nem as muitas misérias da sociedade, nem o desemprego, nem os salários em atraso, nem a miséria e a fome. Nem o trabalho infantil. Nem as crianças com fome que acorrem aos hospitais...
Finalmente, porque, ao contrário do que pensa Mário Cláudio, no nosso tempo há uma literatura com mensagem, de combate e com um comprometimento político óbvio, só que, infelizmente, essa literatura - dominante, de facto, no nosso tempo - divulga uma mensagem, trava um combate e tem um comprometimento político que, tendo ou não os seus autores consciência disso, serve fielmente os interesses da ideologia dominante.
Felizmente - e contra a opinião de Mário Cáudio - há quem persista em remar contra essa maré: há quem persista em produzir literatura com mensagem, de combate e com comprometimento político óbvio: a mensagem, o combate e o comprometimento político de quem não desiste de transformar o mundo, de substituir a velha sociedade capitalista, baseada na exploração do homem pelo homem, por uma sociedade liberta de todas as formas de exploração.
POEMA
A EXISTÊNCIA ALHEIA...
A existência alheia,
a alheia dignidade,
os direitos alheios pouco são
para os orgulhosos governantes
de hoje, como de sempre.
Por isso,
toda a ordem que de um mando provém,
e, em consequência, toda a dominação
são um abuso e um esbulho.
Na sociedade de classes é a lei
a grande prostituta.
Armindo Rodrigues
A existência alheia,
a alheia dignidade,
os direitos alheios pouco são
para os orgulhosos governantes
de hoje, como de sempre.
Por isso,
toda a ordem que de um mando provém,
e, em consequência, toda a dominação
são um abuso e um esbulho.
Na sociedade de classes é a lei
a grande prostituta.
Armindo Rodrigues
SOEIRO PEREIRA GOMES
Nasceu há 100 anos: em 14 de Abril de 1909. Em Gestaçõ, concelho de Baião.
Depois de concluído o curso de regente agrícola, em Coimbra, e de ter trabalhado cerca de um ano em Angola, foi viver para Alhandra, como empregado de escritório da fábrica Cimento Tejo.
Aí, no contacto com a brutal exploração e as desumanas condições de trabalho dos operários, inicia a sua actividade política, vindo a aderir ao PCP em meados dos anos 30 e integrando a célula da Cimento Tejo e o Comité Local de Alhandra.
Ao mesmo tempo, participa activamente na vasta e intensa acção cultural impulsionada pelo Partido na região, designadamente nas colectividades populares.
Em 1941 publica o seu primeiro romance - Esteiros - com capa e desenhos de Álvaro Cunhal.
Trata-se de um dos mais belos romances da literatura portuguesa, que marca o aparecimento do neo-realismo e que Soeiro dedica aos «filhos dos homens que nunca foram meninos».
Pela sua participação na organização das históricas greves de 8 e 9 de Maio de 1944, a PVDE monta-lhe o cerco - e na tarde de 14 de Maio, Soeiro mergulha na clandestinidade, assumindo importantes responsabilidades partidárias que conduziram à sua eleição para o Comité Central, no IV Congresso do PCP, realizado em 1946.
Por essa altura, adoece com uma doença grave - que se agravará tanto mais quanto as condições de clandestinidade em que vivia não lhe permitem o acompanhamento médico necessário.
Na clandestinidade, escreve os Contos Vermelhos - que são os primeiros textos de ficção em que é abordada a vida clandestina dos militantes comunistas.
Dedica-os «aos meus companheiros - que, na noite fascista, ateiam clarões de uma alvorada».
Começa a escrever, depois, Engrenagem - «Para os trabalhadores sem trabalho - rodas paradas de uma engrenagem caduca» - romance que introduz o mundo do trabalho operário na temática da literatura portuguesa e que a morte não lhe deixou acabar - mas cujo esboço «é um esboço extraordinário!», nas palavras de Augusto da Costa Dias que, sobre a obra de Soeiro Pereira Gomes diz que ela «nasceu do seu empenhamento na luta ao lado dos trabalhadores, de todos os explorados. Nasceu da sua militância no Partido, ao qual consagrou por completo a sua vida. A beleza dessa obra, o seu rigor, a sua força mobilizadora, que convidam à solidariedade e à luta os que a lêem, são fruto, em grande parte, de tal empenhamento e tal militância. Por isso é uma obra de liberdade e libertadora»
Soeiro Pereira Gomes morreu em 5 de Dezembro de 1949, com 40 anos de idade.
O seu funeral constituiu uma expressiva manifestação de pesar e de admiração pelo revolucionário exemplar caído na luta.
O povo de Alhandra exigiu a passagem pela localidade do carro funerário que o transportava para o cemitério de Espinho, de modo a prestar a última homenagem ao «querido, inesquecível amigo Joaquim Soeiro Pereira Gomes».
É assim - recordando alguns aspectos da vida e da obra do grande revolucionário e romancista - que o Cravo de Abril presta a sua homenagem ao camarada Soeiro Pereira Gomes.
Depois de concluído o curso de regente agrícola, em Coimbra, e de ter trabalhado cerca de um ano em Angola, foi viver para Alhandra, como empregado de escritório da fábrica Cimento Tejo.
Aí, no contacto com a brutal exploração e as desumanas condições de trabalho dos operários, inicia a sua actividade política, vindo a aderir ao PCP em meados dos anos 30 e integrando a célula da Cimento Tejo e o Comité Local de Alhandra.
Ao mesmo tempo, participa activamente na vasta e intensa acção cultural impulsionada pelo Partido na região, designadamente nas colectividades populares.
Em 1941 publica o seu primeiro romance - Esteiros - com capa e desenhos de Álvaro Cunhal.
Trata-se de um dos mais belos romances da literatura portuguesa, que marca o aparecimento do neo-realismo e que Soeiro dedica aos «filhos dos homens que nunca foram meninos».
Pela sua participação na organização das históricas greves de 8 e 9 de Maio de 1944, a PVDE monta-lhe o cerco - e na tarde de 14 de Maio, Soeiro mergulha na clandestinidade, assumindo importantes responsabilidades partidárias que conduziram à sua eleição para o Comité Central, no IV Congresso do PCP, realizado em 1946.
Por essa altura, adoece com uma doença grave - que se agravará tanto mais quanto as condições de clandestinidade em que vivia não lhe permitem o acompanhamento médico necessário.
Na clandestinidade, escreve os Contos Vermelhos - que são os primeiros textos de ficção em que é abordada a vida clandestina dos militantes comunistas.
Dedica-os «aos meus companheiros - que, na noite fascista, ateiam clarões de uma alvorada».
Começa a escrever, depois, Engrenagem - «Para os trabalhadores sem trabalho - rodas paradas de uma engrenagem caduca» - romance que introduz o mundo do trabalho operário na temática da literatura portuguesa e que a morte não lhe deixou acabar - mas cujo esboço «é um esboço extraordinário!», nas palavras de Augusto da Costa Dias que, sobre a obra de Soeiro Pereira Gomes diz que ela «nasceu do seu empenhamento na luta ao lado dos trabalhadores, de todos os explorados. Nasceu da sua militância no Partido, ao qual consagrou por completo a sua vida. A beleza dessa obra, o seu rigor, a sua força mobilizadora, que convidam à solidariedade e à luta os que a lêem, são fruto, em grande parte, de tal empenhamento e tal militância. Por isso é uma obra de liberdade e libertadora»
Soeiro Pereira Gomes morreu em 5 de Dezembro de 1949, com 40 anos de idade.
O seu funeral constituiu uma expressiva manifestação de pesar e de admiração pelo revolucionário exemplar caído na luta.
O povo de Alhandra exigiu a passagem pela localidade do carro funerário que o transportava para o cemitério de Espinho, de modo a prestar a última homenagem ao «querido, inesquecível amigo Joaquim Soeiro Pereira Gomes».
É assim - recordando alguns aspectos da vida e da obra do grande revolucionário e romancista - que o Cravo de Abril presta a sua homenagem ao camarada Soeiro Pereira Gomes.
Aniversário Cravo de Abril
Camaradas, o prazo para as inscrições para o almoço do II aniversário do Cravo de Abril está a chegar ao fim. Isto porque é necessário dizer às pessoas que vão comprar as coisas para fazer o almoço, com quantos devem contar! Assim, se houver alguém que esteja interessado em ir e que ainda não se tenha inscrito, que o faça até amanhã, quarta-feira, à noite para o antonio.galamba@gmail.com
Abraços a todos!
POEMA
OS PRAZERES DA JUVENTUDE
Ao fim de 24 jogos perdidos,
o time ganhou o desafio.
O público inundou o campo, desceu à cidade,
e durante horas interrompeu o trânsito, bebeu na rua,
quebrou montras, partiu mesmo os faróis de carros
da polícia que, risonha, comungava
naquele entusiasmo regional e jovem
por um triunfo tão longamente ansiado.
Uma centena de pessoas manifesta-se na rua
(contra uma «vitória» que não se vê no Viet-Nam)
e os cacetes desabam, a prisão enche-se,
porque interromperam o trânsito, incitaram à desordem,
e resistiram malignamente à autoridade
que os mandou dispersar.
Jorge de Sena
Ao fim de 24 jogos perdidos,
o time ganhou o desafio.
O público inundou o campo, desceu à cidade,
e durante horas interrompeu o trânsito, bebeu na rua,
quebrou montras, partiu mesmo os faróis de carros
da polícia que, risonha, comungava
naquele entusiasmo regional e jovem
por um triunfo tão longamente ansiado.
Uma centena de pessoas manifesta-se na rua
(contra uma «vitória» que não se vê no Viet-Nam)
e os cacetes desabam, a prisão enche-se,
porque interromperam o trânsito, incitaram à desordem,
e resistiram malignamente à autoridade
que os mandou dispersar.
Jorge de Sena
SÓCRATES E O SEU D-GS
O Diário de Notícias informa que José Sócrates se desloca, hoje, ao Norte com o objectivo de «inaugurar uma parte das instalações de três escolas requalificadas».
Inaugurar «uma parte» de uma obra, é obra!
É claro que se as outras partes da dita obra forem completadas antes das eleições, haverá mais inaugurações - e mais discursos auto-elogiativos de Sócrates que os média se encarregarão de divulgar.
Provavelmente, logo à noite, os telejornais referirão o facto, darão a palavra ao inaugurador e este fará a sua propaganda. Todos fingindo que estão a dar uma notícia; todos fingindo que não sabem tratar-se de mais uma operação de propaganda eleitoral - todos, enfim, insultando a nossa inteligência.
Entretanto, vários jornais de hoje noticiam que, de acordo com dados fornecidos pelo Hospital Amadora/Sintra, «aumentam os casos de menores mal nutridos», o que, traduzido, quer dizer o seguinte: são cada vez mais «os meninos que dão entrada no hospital com fome e em más condições de higiene e vestuário».
E são também cada vez mais os que «chegam bem arranjados (com ténis e roupa de marca) mas mal alimentados», ou seja: meninos vítimas não apenas da pobreza, mas daquilo a que a assistente social do hospital designou por «pobreza envergonhada», explicando que os pais desses meninos dão prioridade à compra de vestuário, de forma a que os seus filhos não façam má figura junto dos que estão bem vestidos...
Mas atenção, não dramatizemos a situação: quem o diz é o Director-Geral da Saúde, Francisco George, o qual, «admitindo que já existem casos pontuais de crianças com fome devido à crise» considera, no entanto, que os casos existentes «ainda não constituem um problema de dimensão preocupante»...
Ora, não sabendo nós (porque ele não nos disse) qual é o número de crianças com fome susceptível de despertar a preocupação do D-GS de Sócrates; e sabendo nós (porque ele nos disse) que a culpa é da «crise» (e não da política do Governo, obviamente...), não há razão para alarmes nem preocupações...
E devemos, todos, dar graças a Sócrates pela obra que tem vindo a realizar - obra grande, tão grande que tem que ser inaugurada por «partes»...
Inaugurar «uma parte» de uma obra, é obra!
É claro que se as outras partes da dita obra forem completadas antes das eleições, haverá mais inaugurações - e mais discursos auto-elogiativos de Sócrates que os média se encarregarão de divulgar.
Provavelmente, logo à noite, os telejornais referirão o facto, darão a palavra ao inaugurador e este fará a sua propaganda. Todos fingindo que estão a dar uma notícia; todos fingindo que não sabem tratar-se de mais uma operação de propaganda eleitoral - todos, enfim, insultando a nossa inteligência.
Entretanto, vários jornais de hoje noticiam que, de acordo com dados fornecidos pelo Hospital Amadora/Sintra, «aumentam os casos de menores mal nutridos», o que, traduzido, quer dizer o seguinte: são cada vez mais «os meninos que dão entrada no hospital com fome e em más condições de higiene e vestuário».
E são também cada vez mais os que «chegam bem arranjados (com ténis e roupa de marca) mas mal alimentados», ou seja: meninos vítimas não apenas da pobreza, mas daquilo a que a assistente social do hospital designou por «pobreza envergonhada», explicando que os pais desses meninos dão prioridade à compra de vestuário, de forma a que os seus filhos não façam má figura junto dos que estão bem vestidos...
Mas atenção, não dramatizemos a situação: quem o diz é o Director-Geral da Saúde, Francisco George, o qual, «admitindo que já existem casos pontuais de crianças com fome devido à crise» considera, no entanto, que os casos existentes «ainda não constituem um problema de dimensão preocupante»...
Ora, não sabendo nós (porque ele não nos disse) qual é o número de crianças com fome susceptível de despertar a preocupação do D-GS de Sócrates; e sabendo nós (porque ele nos disse) que a culpa é da «crise» (e não da política do Governo, obviamente...), não há razão para alarmes nem preocupações...
E devemos, todos, dar graças a Sócrates pela obra que tem vindo a realizar - obra grande, tão grande que tem que ser inaugurada por «partes»...
POEMA
(Um jovem comunista, recém-saído da cadeia,
procurou-me para me dizer: «vou para Espanha
bater-me ao lado dos republicanos».)
Adeus!
Tu que arrancaste da treva dos dias e das noites
o sol subterrâneo das flores ocultas nas raízes.
Tu que nunca viste o luar completar os olhos das mulheres
- e a tua mão só te beijava em fotografia.
Tu que vais morrer pelos outros com vinte anos de desdém ardente
e o futuro nunca saberá o teu nome para maior glória.
Tu que vais conhecer finalmente a verdadeira morte: a nossa.
Não vida cobarde atirada para as nuvens,
mas sombra sem frestas,
frio sem portas...
Tu: adeus!
Morre orgulhosamente
o teu destino de relâmpago
que afoga nos abismos
o eco longo
do silêncio das águias.
José Gomes Ferreira
procurou-me para me dizer: «vou para Espanha
bater-me ao lado dos republicanos».)
Adeus!
Tu que arrancaste da treva dos dias e das noites
o sol subterrâneo das flores ocultas nas raízes.
Tu que nunca viste o luar completar os olhos das mulheres
- e a tua mão só te beijava em fotografia.
Tu que vais morrer pelos outros com vinte anos de desdém ardente
e o futuro nunca saberá o teu nome para maior glória.
Tu que vais conhecer finalmente a verdadeira morte: a nossa.
Não vida cobarde atirada para as nuvens,
mas sombra sem frestas,
frio sem portas...
Tu: adeus!
Morre orgulhosamente
o teu destino de relâmpago
que afoga nos abismos
o eco longo
do silêncio das águias.
José Gomes Ferreira
O PREÇO DOS VENDIDOS
Os EUA investem todos os anos 48 milhões de dólares em apoios aos «dissidentes» que, em Cuba, tentam derrubar o governo e substituí-lo por um «governo democrático», isto é, por um governo que seja um conselho de administração dos interesses do imperialismo norte-americano na Ilha.
Agora, os «dissidentes», em carta enviada ao Presidente Obama, queixam-se de que parte desses 48 milhões fica pelo caminho - nas mãos dos «grupos anticastristas de Miami» que o utilizam «de maneira caprichosa e irresponsável», «satisfazendo outras agendas políticas» e, assim, «dividindo a resistência interna».
Percebe-se: os «dissidentes» só existem porque são pagos - de preferência, bem pagos - e se os dólares não chegam em quantidade suficiente, a resistência interna não só não pode funcionar como se divide: não há como o dinheiro, muito ou pouco, para dividir gente que vive de vender a alma (e o que for preciso) ao Diabo...
E a confirmar que a provocação faz parte do arsenal de todos os vendidos, registe-se que esta queixa a Obama foi anunciada por «um dos líderes da oposição na Ilha, Hector Palácios, numa conferência de imprensa em Havana»...
Agora, os «dissidentes», em carta enviada ao Presidente Obama, queixam-se de que parte desses 48 milhões fica pelo caminho - nas mãos dos «grupos anticastristas de Miami» que o utilizam «de maneira caprichosa e irresponsável», «satisfazendo outras agendas políticas» e, assim, «dividindo a resistência interna».
Percebe-se: os «dissidentes» só existem porque são pagos - de preferência, bem pagos - e se os dólares não chegam em quantidade suficiente, a resistência interna não só não pode funcionar como se divide: não há como o dinheiro, muito ou pouco, para dividir gente que vive de vender a alma (e o que for preciso) ao Diabo...
E a confirmar que a provocação faz parte do arsenal de todos os vendidos, registe-se que esta queixa a Obama foi anunciada por «um dos líderes da oposição na Ilha, Hector Palácios, numa conferência de imprensa em Havana»...
POEMA
CASSANDRA PARTICULAR
Amanhã de manhã lereis no jornal uma nova guerra
e formulareis o desejo de vitória de um dos lados...
amanhã desejareis uma nova mulher,
fechareis um negócio, comprareis bilhete para o cinema,
passareis em revista as vossas ambições,
suareis, tereis cóleras, jogareis brídge...
Amanhã a Morte olhar-vos-á um passo mais de perto;
amanhã o Amor olhar-vos-á um passo mais de longe.
Continuará a haver estrelas, rosas,
o luar, as dálias, as crianças,
os jardins, o crepúsculo, a poesia
- os livros dos poetas bem baratos...
Mas amanhã não tereis tempo
um minuto sequer
Amanhã vendereis ao Diabo mais um comboio de mercadorias.
Egito Gonçalves
Amanhã de manhã lereis no jornal uma nova guerra
e formulareis o desejo de vitória de um dos lados...
amanhã desejareis uma nova mulher,
fechareis um negócio, comprareis bilhete para o cinema,
passareis em revista as vossas ambições,
suareis, tereis cóleras, jogareis brídge...
Amanhã a Morte olhar-vos-á um passo mais de perto;
amanhã o Amor olhar-vos-á um passo mais de longe.
Continuará a haver estrelas, rosas,
o luar, as dálias, as crianças,
os jardins, o crepúsculo, a poesia
- os livros dos poetas bem baratos...
Mas amanhã não tereis tempo
um minuto sequer
Amanhã vendereis ao Diabo mais um comboio de mercadorias.
Egito Gonçalves
A COERÊNCIA DE SÓCRATES...
Está acesa a polémica em torno da declaração de apoio, por parte de Sócrates, à candidatura de Barroso a novo mandato como Presidente da Comissão Europeia.
Por mim, acho que Sócrates está a ser coerente no seu apoio a Barroso.
Com efeito, do cargo de Durão Barroso, podemos dizer que lhe assenta como uma luva- isto, se tivermos em conta que a UE é a sucursal europeia do imperialismo norte-americano e que Barroso recebeu o dito cargo como prenda - ou como pagamento, se se preferir - pela sua presença na Cimeira da Vergonha, na qual o então Presidente Bush, decidiu - e Blair, Aznar e Barroso cumpliciaram - a invasão, ocupação e destruição do Iraque, com o assassinato de centenas de milhares de pessoas.
Ora, de então para cá, o que é que mudou no mundo? - pergunto.
E respondo: nada de essencial.
Ao contrário do «mundo em mudança» anunciado pelo dr. Mário Soares (sempre na primeira fila da defesa do capitalismo, agora apelidado de «ético»), o que vemos é a sinistra persistência e os perigosos avanços do imperialismo norte-americano no seu sonho de domínio do mundo.
Há dias, o agora Presidente Obama - que não se cansa de lembrar que esteve contra a invasão do Iraque pelo seu país - visitou o Iraque, onde «agradeceu às tropas norte-americanas a sua actuação extraordinária», dizendo-lhes: «Vocês deram ao Iraque a oportunidade de se erguer como país democrático e esse é um feito extraordinário».
Ora, se, para Obama - o homem da mudança -, a invasão do Iraque constituíu um «feito extraordinário»;
se o Governo de Sócrates já decidiu, obedecendo às ordens de Obama, duplicar os efectivos militares portugueses no apoio à ocupação do Afeganistão;
e se o Barroso e o Obama se desdobram em abraços e sorrisos,
- por que raio é que o Barroso não há-de continuar a ocupar o cargo de Presidente da Comissão Europeia?
E por que raio é que o Sócrates não há-de apoiar essa recondução no cargo?
Na verdade, Barroso, Presidente da Comissão Europeia e Sócrates, primeiro-ministro, são dois homens certos nos lugares certos, na medida em que ambos merecem a confiança total do líder mundial...
(Onde Sócrates borra a pintura é na argumentação a que recorre para justificar o apoio a Barroso: se, em vez de invocar o «patriotismo», dissesse pura e simplesmente a verdade, nem insultava os verdadeiros patriotas nem se ridicularizava. Mas isso seria pedir-lhe o impossível)
Por mim, acho que Sócrates está a ser coerente no seu apoio a Barroso.
Com efeito, do cargo de Durão Barroso, podemos dizer que lhe assenta como uma luva- isto, se tivermos em conta que a UE é a sucursal europeia do imperialismo norte-americano e que Barroso recebeu o dito cargo como prenda - ou como pagamento, se se preferir - pela sua presença na Cimeira da Vergonha, na qual o então Presidente Bush, decidiu - e Blair, Aznar e Barroso cumpliciaram - a invasão, ocupação e destruição do Iraque, com o assassinato de centenas de milhares de pessoas.
Ora, de então para cá, o que é que mudou no mundo? - pergunto.
E respondo: nada de essencial.
Ao contrário do «mundo em mudança» anunciado pelo dr. Mário Soares (sempre na primeira fila da defesa do capitalismo, agora apelidado de «ético»), o que vemos é a sinistra persistência e os perigosos avanços do imperialismo norte-americano no seu sonho de domínio do mundo.
Há dias, o agora Presidente Obama - que não se cansa de lembrar que esteve contra a invasão do Iraque pelo seu país - visitou o Iraque, onde «agradeceu às tropas norte-americanas a sua actuação extraordinária», dizendo-lhes: «Vocês deram ao Iraque a oportunidade de se erguer como país democrático e esse é um feito extraordinário».
Ora, se, para Obama - o homem da mudança -, a invasão do Iraque constituíu um «feito extraordinário»;
se o Governo de Sócrates já decidiu, obedecendo às ordens de Obama, duplicar os efectivos militares portugueses no apoio à ocupação do Afeganistão;
e se o Barroso e o Obama se desdobram em abraços e sorrisos,
- por que raio é que o Barroso não há-de continuar a ocupar o cargo de Presidente da Comissão Europeia?
E por que raio é que o Sócrates não há-de apoiar essa recondução no cargo?
Na verdade, Barroso, Presidente da Comissão Europeia e Sócrates, primeiro-ministro, são dois homens certos nos lugares certos, na medida em que ambos merecem a confiança total do líder mundial...
(Onde Sócrates borra a pintura é na argumentação a que recorre para justificar o apoio a Barroso: se, em vez de invocar o «patriotismo», dissesse pura e simplesmente a verdade, nem insultava os verdadeiros patriotas nem se ridicularizava. Mas isso seria pedir-lhe o impossível)
POEMA
MUITAS COISAS AUMENTARÃO COM A GUERRA
Muitas coisas aumentarão com a guerra.
Aumentarão
as posses dos poderosos
e a pobreza dos que nada têm
os discursos dos governantes
e o silêncio dos governados.
Brecht
Muitas coisas aumentarão com a guerra.
Aumentarão
as posses dos poderosos
e a pobreza dos que nada têm
os discursos dos governantes
e o silêncio dos governados.
Brecht
PARA O AFEGANISTÃO E EM FORÇA!...
Considerando, entre outras razões, que:
1 - «vivemos um momento de viragem nas relações transatlânticas, que representa uma nova oportunidade para restaurar uma verdadeira solidariedade na aliança entre as democracias dos dois lados do Atlântico»;
2 - «o Presidente Obama, para usar as sua próprias palavras, veio à cimeira como um parceiro e não como um patrono»;
3 - «o Presidente Obama reiterou a sua posição sobre o imperativo de lutar com maior eficácia contra as ameaças terroristas, o que implica uma revisão da estratégia comum no Afeganistão»;
4 - «que essa nova estratégia merece o consenso dos aliados europeus»; e
5 - «que a fronteira da segurança nacional está no Afeganistão»,
o ministro da Defesa de Portugal, Nuno Severiano Teixeira, informa que «no cumprimento do nosso compromisso, expresso pelo primeiro-ministro na cimeira da NATO»,
«É crucial responder positivamente ao apelo do Presidente dos Estados Unidos e garantir uma presença militar reforçada no Afeganistão» - tanto mais quanto essa é a «única forma de estarmos presentes na primeira fila da Aliança Atlântica».
Apenas duas observações:
1 - estas afirmações do ministro da Defesa trouxeram-me à memória, sei lá porquê..., a célebre frase de Salazar, em Março de 1961, quando do início da guerra de libertação do povo angolano: «para Angola e em força»...
2 - o «parceiro» Obama - sempre a sorrir - conseguiu o que o «patrono» Bush - sempre estúpido - não conseguira: «o consenso dos aliados europeus»..., ou seja: conseguiu atrelar aos interesses do imperialismo norte-americano, e ao seu objectivo de domínio do mundo, os seus lacaios da Europa.
1 - «vivemos um momento de viragem nas relações transatlânticas, que representa uma nova oportunidade para restaurar uma verdadeira solidariedade na aliança entre as democracias dos dois lados do Atlântico»;
2 - «o Presidente Obama, para usar as sua próprias palavras, veio à cimeira como um parceiro e não como um patrono»;
3 - «o Presidente Obama reiterou a sua posição sobre o imperativo de lutar com maior eficácia contra as ameaças terroristas, o que implica uma revisão da estratégia comum no Afeganistão»;
4 - «que essa nova estratégia merece o consenso dos aliados europeus»; e
5 - «que a fronteira da segurança nacional está no Afeganistão»,
o ministro da Defesa de Portugal, Nuno Severiano Teixeira, informa que «no cumprimento do nosso compromisso, expresso pelo primeiro-ministro na cimeira da NATO»,
«É crucial responder positivamente ao apelo do Presidente dos Estados Unidos e garantir uma presença militar reforçada no Afeganistão» - tanto mais quanto essa é a «única forma de estarmos presentes na primeira fila da Aliança Atlântica».
Apenas duas observações:
1 - estas afirmações do ministro da Defesa trouxeram-me à memória, sei lá porquê..., a célebre frase de Salazar, em Março de 1961, quando do início da guerra de libertação do povo angolano: «para Angola e em força»...
2 - o «parceiro» Obama - sempre a sorrir - conseguiu o que o «patrono» Bush - sempre estúpido - não conseguira: «o consenso dos aliados europeus»..., ou seja: conseguiu atrelar aos interesses do imperialismo norte-americano, e ao seu objectivo de domínio do mundo, os seus lacaios da Europa.
POEMA
A ILHA DOS NAVIOS PERDIDOS
Aqui é a ilha dos navios perdidos,
dos navios abalroados, afundados
nos naufrágios...
Esta é a ilha perdida nos mapas,
perdida no mar dos sargaços;
este é o mar das Tormentas,
das tormentas desta vida,
onde há só tempestades e agoiros;
o céu
é esta noite negra sem limites
onde não vive um astro, uma nuvem ou uma asa;
a terra é esta,
os cascos oscilantes
dos mil navios perdidos:
Naus da Índia,
barcos piratas dos moiros,
fragatas e caravelas,
navios dos Corte-Reais
onde jazem insepultos
os heróis mais verdadeiros
e os sonhos mais colossais.
- Nos mastros desmantelados
flutuam,
rotos e desbotados,
estandartes imperiais,
e nos porões arrombados,
nos cofres de segredos inúteis,
dormem os tesoiros arrancados
a todos os orientes.
Não há grandeza que baste
quando a desgraça é tamanha!...
Joaquim Namorado
Aqui é a ilha dos navios perdidos,
dos navios abalroados, afundados
nos naufrágios...
Esta é a ilha perdida nos mapas,
perdida no mar dos sargaços;
este é o mar das Tormentas,
das tormentas desta vida,
onde há só tempestades e agoiros;
o céu
é esta noite negra sem limites
onde não vive um astro, uma nuvem ou uma asa;
a terra é esta,
os cascos oscilantes
dos mil navios perdidos:
Naus da Índia,
barcos piratas dos moiros,
fragatas e caravelas,
navios dos Corte-Reais
onde jazem insepultos
os heróis mais verdadeiros
e os sonhos mais colossais.
- Nos mastros desmantelados
flutuam,
rotos e desbotados,
estandartes imperiais,
e nos porões arrombados,
nos cofres de segredos inúteis,
dormem os tesoiros arrancados
a todos os orientes.
Não há grandeza que baste
quando a desgraça é tamanha!...
Joaquim Namorado
POEMA
QUEREM O CÉU
Querem o céu, a mística mansão
da alma.
E, se estivessem lá,
queriam a terra, a sórdida morada
da raiz.
Mas é o céu que lhes diz
Eternidade,
Verdade,
Santidade
e descanso.
Assim se pode mistificar
A preguiça,
O pecado,
A mentira
e a transitória vida natural.
O grande tecto azul, porém, não dá sinal
de acolher o aceno.
Afaga as nuvens, e da luz solar
faz o dia maior ou mais pequeno.
Miguel Torga
Querem o céu, a mística mansão
da alma.
E, se estivessem lá,
queriam a terra, a sórdida morada
da raiz.
Mas é o céu que lhes diz
Eternidade,
Verdade,
Santidade
e descanso.
Assim se pode mistificar
A preguiça,
O pecado,
A mentira
e a transitória vida natural.
O grande tecto azul, porém, não dá sinal
de acolher o aceno.
Afaga as nuvens, e da luz solar
faz o dia maior ou mais pequeno.
Miguel Torga
TODOS BONS RAPAZES
Registe-se o estardalhaço feito em torno da sessão de lançamento da candidatura de Paulo Pedroso a Almada.
Os média dominantes trataram a ocorrência como acontecimento maior da vida nacional: extensos relatos da sessão, múltiplos extractos das diversas intervenções proferidas, entrevistas ao candidato, apoios ao candidato... enfim, todos os condimentos habituais em cozinhados deste género.
Registe-se, igualmente, o conteúdo essencial da generalidade das intervenções, nas quais a demagogia e o populismo barato, juntando-se aos ataques baixos, às mentiras, às invencionices provocatórias dirigidas à Câmara de Almada e ao PCP, indiciam o nível que virá a atingir a campanha eleitoral autárquica do PS/Pedroso em Almada.
Registe-se, finalmente, que dessas intervenções ressalta claro que uma das linhas essenciais da campanha de Pedroso vai ser a da «vitimização» - manobra que começa a fazer escola no PS e que, a prosseguir, tenderá provavelmente a ocupar lugar no programa daquele partido.
Aguarda-se, agora, que o Governo encontre as outras formas de intervenção na campanha eleitoral de Pedroso: cheques, anúncios de obras-a-realizar-se-o-Pedroso-ganhar, e outros esquemas ligados pelo objectivo comum de comprar votos para o PS com o dinheiro que é de nós todos - democraticamente, é claro...
O próprio Pedroso - especialista na matéria desde que, enquanto membro do Governo de Guterres, foi ao Alentejo informar os «camaradas» das golpaças que estavam em preparação para roubar câmaras aos comunistas - dará certamente uma preciosa ajuda na escolha dos métodos a utilizar.
Porque, como diria o Scorsese, no PS são todos bons rapazes...
Os média dominantes trataram a ocorrência como acontecimento maior da vida nacional: extensos relatos da sessão, múltiplos extractos das diversas intervenções proferidas, entrevistas ao candidato, apoios ao candidato... enfim, todos os condimentos habituais em cozinhados deste género.
Registe-se, igualmente, o conteúdo essencial da generalidade das intervenções, nas quais a demagogia e o populismo barato, juntando-se aos ataques baixos, às mentiras, às invencionices provocatórias dirigidas à Câmara de Almada e ao PCP, indiciam o nível que virá a atingir a campanha eleitoral autárquica do PS/Pedroso em Almada.
Registe-se, finalmente, que dessas intervenções ressalta claro que uma das linhas essenciais da campanha de Pedroso vai ser a da «vitimização» - manobra que começa a fazer escola no PS e que, a prosseguir, tenderá provavelmente a ocupar lugar no programa daquele partido.
Aguarda-se, agora, que o Governo encontre as outras formas de intervenção na campanha eleitoral de Pedroso: cheques, anúncios de obras-a-realizar-se-o-Pedroso-ganhar, e outros esquemas ligados pelo objectivo comum de comprar votos para o PS com o dinheiro que é de nós todos - democraticamente, é claro...
O próprio Pedroso - especialista na matéria desde que, enquanto membro do Governo de Guterres, foi ao Alentejo informar os «camaradas» das golpaças que estavam em preparação para roubar câmaras aos comunistas - dará certamente uma preciosa ajuda na escolha dos métodos a utilizar.
Porque, como diria o Scorsese, no PS são todos bons rapazes...
POEMA
NA FÁBRICA ONDE EU TRABALHAVA
Na fábrica onde eu trabalhava havia muito frio
mas os meus camaradas sorriam e contávamos histórias
uns aos outros
de vez em quando encandeávamo-nos e esfregávamos os olhos
depois olhávamos admirados a perfeição da soldadura
medíamos dobrávamos batíamos o ferro
e era como se pouco a pouco algo dentro de nós se construísse
tínhamos ali as nossas entranhas e o nosso jardim
e aquilo era como a nossa horta ou a nossa casa à hora do almoço
José Vultos Sequeira
Na fábrica onde eu trabalhava havia muito frio
mas os meus camaradas sorriam e contávamos histórias
uns aos outros
de vez em quando encandeávamo-nos e esfregávamos os olhos
depois olhávamos admirados a perfeição da soldadura
medíamos dobrávamos batíamos o ferro
e era como se pouco a pouco algo dentro de nós se construísse
tínhamos ali as nossas entranhas e o nosso jardim
e aquilo era como a nossa horta ou a nossa casa à hora do almoço
José Vultos Sequeira
Ervidel... para «abrir o apetite»...
ao final da tarde, quando os pardais recolhem assustados aos ramos direitos, em fúria ao céu voltados, o largo da aldeia absorve na cal os últimos raios da primavera. ensaiam-se modas nas gargantas que se despedem para a ceia e para o dia seguinte, que as noites ainda estão frescas e os ossos ja doiem, pelo tempo e pela porrada da pide que, quase todos, conheceram entranhada no sangue pisado que assim brotava. no largo da aldeia, os homens são chaparros deslocados nas ruas da terra que ainda ficou por lavrar. foi só que faltou! contam-se histórias que vêm do fundo da memória, confundindo-se com as memórias infantis que ouviram contar aos avós. algumas são dificeis. e fazem rasar de água os olhos do menino que me sobra neste homem feito. hoje fui a Ervidel. Fui recolher uma história de vida de um camarada poeta. era a que me faltava (e eu até ontem não sabia) para um livro que vamos editar dia 9 de Maio próximo, no museu da terra. (estão todos convidados). «Assalariados agricolas de Ervidel - trabalho e resistência sob o fascismo», assim se chama ele. Mas dizia-vos. Hoje fui a Ervidel. existe uma alegria imensa na frase que acabei de soletrar. Ervidel é uma aldeia vermelha. Não nas casas, que essas, barradas de azul, são de uma alvura cegante, aquando o sol a pino. Vermelha nos corações das suas gentes, tantas vezes confundidas com história da resistência anti fascista, tamanha a sua resistência heroica a tempos dificeis. Hoje conheci o Raimundo. Pessoalmente. que passa muitas vezes na Antena 1 no programa Lugares ao Sul. Fui fazer-lhe umas perguntas. e antes que pudesse abrir a boca, estava dentro de casa dele. logo o pão, a linguiça, o tinto, e a palavra mais bonita do mundo no jeito com que me olhava: camarada. contou-me dos seus dias. da fome, dos pés descalços, da pide rondando os seus muros, dos Avantes que escondia como a reliquia mais sagrada do homem crente. declamou alguns dos seus poemas, que sabe de cor... tem oito livros de poesia cá fora, ao mundo, que a Junta de Freguesia sabe reconhecer os valores da terra. disse-me da sua honra. do seu coração vermelho. entrou para o Partido antes de casar. e casou em setembro de 1958. nessa altura, depois de muito penar, ja vendia refrigerantes. e distribuía avantes. percebi logo, na sua dedicação ao Partido - que ama, que ama muito- que a venda dos sumos era apenas o pretexto onde escondia os papelinhos onde levava a voz dos homens livres, no tempo das nossas trevas. Das muitas histórias - e que virão no livro - conto-vos uma. Um dia, entregando refrigerantes na venda/adega de um lavrador, ao entrar ouviu, aos quatro ou cinco que lá estavam e que não eram da sua condição, dizer mal dos comunistas. de alguns camaradas específicos que não quis enunciar. Ferveu-lhe a revolta no sangue frio... e, tomado pela estopa de que era feito, disse-lhes frontalmente: vocês não estão enforcando só esses homens. vocês estão enforcando a minha classe. Dirigindo-se ao proprietário disse-lhe ainda: da minha parte acabou. vai comprar as gasosas a outro lado que não te deixo aqui mais nenhuma. Ainda ouviu entre dentes: fazes isso a todos ficas sem vender nada. acalma-te, bebe aqui um copo com a gente, pago eu. Ferido no seu orgulho, o Raimundo - assim se conhece o nosso camarada - cuspiu-lhes estas palavras: prefiro a fome - a que sempre me habituaste, tu e os da tua classe - ao perder a honra de camponês (que na verdade nunca deixou de ser, e camponês foi o capote do comunista). Não estou à venda. passem bem.
não sei se de ternura se do vinho cá da terra. mas eu não aguentei. abracei-o e disse-lhe obrigado. chorando. sempre chorando. depois saímos os dois. fomos à adega do Moreira, onde brevemente vamos todos almoçar. vi-os lá a todos. antecipadamente.
era isto que vos queria contar.
Foto: largo da aldeia, Ervidel, 7 de Abril de 2009.
não sei se de ternura se do vinho cá da terra. mas eu não aguentei. abracei-o e disse-lhe obrigado. chorando. sempre chorando. depois saímos os dois. fomos à adega do Moreira, onde brevemente vamos todos almoçar. vi-os lá a todos. antecipadamente.
era isto que vos queria contar.
Foto: largo da aldeia, Ervidel, 7 de Abril de 2009.
POEMA
A PROPÓSITO DA DOENÇA
DE UM PODEROSO ESTADISTA
Se este homem insubstituível franze o sobrolho
dois reinos periclitam.
Se este homem insubstituível morre
o mundo inteiro se aflige como a mãe sem leite para o filho.
Se este homem insubstituível ressuscitasse ao oitavo dia
não acharia em todo o império uma vaga de porteiro.
Brecht
DE UM PODEROSO ESTADISTA
Se este homem insubstituível franze o sobrolho
dois reinos periclitam.
Se este homem insubstituível morre
o mundo inteiro se aflige como a mãe sem leite para o filho.
Se este homem insubstituível ressuscitasse ao oitavo dia
não acharia em todo o império uma vaga de porteiro.
Brecht
SOARES, SEMPRE ELE...
«A Esperança» foi o tema de um debate em que participaram D. Manuel Clemente - bispo do Porto - e Mário Soares - o próprio.
No decorrer do debate, Soares, no seu jeito parlapatão e sem-vergonha, desnudou-se numa sucessão de sensacionais confissões.
A dada altura, confessou: «Não fui tocado pela fé, mas sou um homem de esperança» - e o bispo, com um gesto breve, incitou-o a prosseguir.
Entusiasmado, Soares confessou-se discípulo de S. Paulo e da sua prática de «amor ao próximo» - e o bispo, com um breve inclinar de cabeça, pediu mais.
Soares não se fez rogado e exibiu o teor da sua esperança:
«a esperança no homem, numa utopia que nos conduza a um mundo melhor, com mais liberdade e menos violência e em que sejamos todos iguais»;
«a esperança na política que, para mim, nunca foi uma forma de ganhar a vida, pelo contrário: sempre foi política com P grande, actividade nobre do espírito humano com vista ao bem dos outros».
Foi então que o bispo, passando do gesto ao verbo, o abençoou: «o dr. Soares é, de facto, homem de esperança. Manteve-se sempre fiel a ideais humanistas, lutou por um regime onde todos pudéssemos caber. E mesmo quando tentaram cercear-nos as liberdades, ele nunca desistiu».
E foi então que Soares, embalado pela bênção do bispo, e cavalgando-a, exclamou, trágico e grandíloquo:
«Quero morrer como vivi: com dignidade».
E é bem provável que, ao ouvi-lo, o bispo tenha comentado para si: vá lá, não abuses, a dignidade não é para aqui chamada: contenta-te em morrer como viveste...
No decorrer do debate, Soares, no seu jeito parlapatão e sem-vergonha, desnudou-se numa sucessão de sensacionais confissões.
A dada altura, confessou: «Não fui tocado pela fé, mas sou um homem de esperança» - e o bispo, com um gesto breve, incitou-o a prosseguir.
Entusiasmado, Soares confessou-se discípulo de S. Paulo e da sua prática de «amor ao próximo» - e o bispo, com um breve inclinar de cabeça, pediu mais.
Soares não se fez rogado e exibiu o teor da sua esperança:
«a esperança no homem, numa utopia que nos conduza a um mundo melhor, com mais liberdade e menos violência e em que sejamos todos iguais»;
«a esperança na política que, para mim, nunca foi uma forma de ganhar a vida, pelo contrário: sempre foi política com P grande, actividade nobre do espírito humano com vista ao bem dos outros».
Foi então que o bispo, passando do gesto ao verbo, o abençoou: «o dr. Soares é, de facto, homem de esperança. Manteve-se sempre fiel a ideais humanistas, lutou por um regime onde todos pudéssemos caber. E mesmo quando tentaram cercear-nos as liberdades, ele nunca desistiu».
E foi então que Soares, embalado pela bênção do bispo, e cavalgando-a, exclamou, trágico e grandíloquo:
«Quero morrer como vivi: com dignidade».
E é bem provável que, ao ouvi-lo, o bispo tenha comentado para si: vá lá, não abuses, a dignidade não é para aqui chamada: contenta-te em morrer como viveste...
POEMA
AMOR SEM TRÉGUAS
É necessário amar,
qualquer coisa, ou alguém;
o que interessa é gostar
não importa de quem.
Não importa de quem,
nem importa de quê;
o que interessa é amar
mesmo o que não se vê.
Pode ser uma mulher,
uma pedra, uma flor,
uma coisa qualquer,
seja lá o que for.
Pode até nem ser nada
que em ser se concretize,
coisa apenas pensada,
que a sonhar se precise.
Amar por claridade,
sem dever a cumprir;
uma oportunidade
para olhar e sorrir.
Amar como o homem forte
só ele sabe e pode-o;
amar até à morte,
amar até ao ódio.
Que o ódio, infelizmente,
quando o clima é de horror,
é forma inteligente
de se morrer de amor.
António Gedeão
É necessário amar,
qualquer coisa, ou alguém;
o que interessa é gostar
não importa de quem.
Não importa de quem,
nem importa de quê;
o que interessa é amar
mesmo o que não se vê.
Pode ser uma mulher,
uma pedra, uma flor,
uma coisa qualquer,
seja lá o que for.
Pode até nem ser nada
que em ser se concretize,
coisa apenas pensada,
que a sonhar se precise.
Amar por claridade,
sem dever a cumprir;
uma oportunidade
para olhar e sorrir.
Amar como o homem forte
só ele sabe e pode-o;
amar até à morte,
amar até ao ódio.
Que o ódio, infelizmente,
quando o clima é de horror,
é forma inteligente
de se morrer de amor.
António Gedeão
DEMOCRATICAMENTE ELEITOS...
Enquanto aguardo - confesso que com grande curiosidade - o resultado do inquérito em curso sobre se sim ou não houve (há) pressões sobre magistrados responsáveis pelo esclarecimento do«caso Freeport», vou observando a acção desenvolvida por vários membros do Governo na compra de votos para o PS com o dinheiro que é de nós todos.
De algumas das práticas do ministro do Trabalho já aqui falei, há dias.
Hoje, falo-vos da acção de alguns colegas do ministro Vieira da Silva:
Por exemplo:
o secretário de Estado adjunto das Obras Públicas - que se desdobrou em «inaugurações» em 12 municípios do Norte do País;
o secretário de Estado da Segurança Social - que tem andado numa azáfama a entregar cheques a IPSS's;
a ministra da Saúde - que cometeu a notável proeza de anunciar a «inauguração» de uma «extensão de saúde» que já estava inaugurada há... 24 anos.
Tudo isto a confirmar a abertura da caça ao voto, modalidade em que os partidos da política de direita se especializaram, e na qual o PS/Sócrates se revela um perito.
Caso digno de destaque é, no entanto, o que envolve o ministro da Economia, Manuel Pinho, e que consta do seguinte:
Um dia destes, o ministro deslocou-se a Aljustrel para assistir a um desafio de futebol em que participava o Clube Mineiro Aljustrelense.
A dada altura, alguém anunciou, pela aparelhagem sonora, que «o cidadão Manuel Pinho» estava presente - e explicou a razão da presença do «cidadão»: «para ser homenageado e para entregar ao clube um donativo da EDP no valor de 5 mil euros»...
Acrescente-se que o «cidadão» ministro, ia acompanhado do «cidadão» Governador Civil de Beja e do «cidadão» que, por coincidência, é o candidato do PS à Câmara de Aljustrel...
Por hoje, é tudo.
Mas atenção: a procissão da caça ao voto ainda agora vai no adro - e o que já está à vista é, seguramente, uma pequena amostra do que iremos ver no decorrer do ciclo eleitoral deste ano.
E é claro que, depois das eleições, virão os discursos - os discursos dos «cidadãos» que não se cansarão de nos vir dizer que foram democraticamente eleitos...
De algumas das práticas do ministro do Trabalho já aqui falei, há dias.
Hoje, falo-vos da acção de alguns colegas do ministro Vieira da Silva:
Por exemplo:
o secretário de Estado adjunto das Obras Públicas - que se desdobrou em «inaugurações» em 12 municípios do Norte do País;
o secretário de Estado da Segurança Social - que tem andado numa azáfama a entregar cheques a IPSS's;
a ministra da Saúde - que cometeu a notável proeza de anunciar a «inauguração» de uma «extensão de saúde» que já estava inaugurada há... 24 anos.
Tudo isto a confirmar a abertura da caça ao voto, modalidade em que os partidos da política de direita se especializaram, e na qual o PS/Sócrates se revela um perito.
Caso digno de destaque é, no entanto, o que envolve o ministro da Economia, Manuel Pinho, e que consta do seguinte:
Um dia destes, o ministro deslocou-se a Aljustrel para assistir a um desafio de futebol em que participava o Clube Mineiro Aljustrelense.
A dada altura, alguém anunciou, pela aparelhagem sonora, que «o cidadão Manuel Pinho» estava presente - e explicou a razão da presença do «cidadão»: «para ser homenageado e para entregar ao clube um donativo da EDP no valor de 5 mil euros»...
Acrescente-se que o «cidadão» ministro, ia acompanhado do «cidadão» Governador Civil de Beja e do «cidadão» que, por coincidência, é o candidato do PS à Câmara de Aljustrel...
Por hoje, é tudo.
Mas atenção: a procissão da caça ao voto ainda agora vai no adro - e o que já está à vista é, seguramente, uma pequena amostra do que iremos ver no decorrer do ciclo eleitoral deste ano.
E é claro que, depois das eleições, virão os discursos - os discursos dos «cidadãos» que não se cansarão de nos vir dizer que foram democraticamente eleitos...
POEMA
CANTE JONDO
A mão onde poisava
o que a noite trazia
é quase imperceptível;
memória só seria
do que nem nome tinha:
um arrepio na água?,
um ligeiro tremor
nas folhas dos álamos?,
um trémulo sorrir
em lábios que não via?
Memória só seria
de ter sonhado a mão
onde nada poisava
do que a noite trazia.
Eugénio de Andrade
A mão onde poisava
o que a noite trazia
é quase imperceptível;
memória só seria
do que nem nome tinha:
um arrepio na água?,
um ligeiro tremor
nas folhas dos álamos?,
um trémulo sorrir
em lábios que não via?
Memória só seria
de ter sonhado a mão
onde nada poisava
do que a noite trazia.
Eugénio de Andrade
Almoço do II aniversário do Cravo de Abril
Camaradas: dia 19 de Abril, em Ervidel, concelho de Aljustrel, vai haver uma almoçarada para comemorar o II aniversário do Cravo de Abril. A adega do Moreira, com as suas talhas de barro e bom vinho que caracteriza a região, vai ser invadida pela amizade que este blog tem reforçado. O encontro é às 11h e 30m, no largo em frente ao lagar da Reforma Agrária. Neste almoço vão ecoar as vozes em polifonia, através do grupo coral As Margens do Roxo. Contará também o mesmo com a presença de muitos camaradas de Ervidel, alguns deles clandestinos durante o Fascismo. Depois do almoço, em confraternização, percorreremos juntos as ruas da aldeia e provaremos os melhores nectares e as melhores histórias da região. Apareçam.. todos. Breve será aqui colocado o cartaz que terá mais informações. Até lá, podem começar a inscrever-se através do meu mail: antonio.galamba@gmail.com. Abraços!
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