CAMPO DE BATALHA
O poeta caminha, sem destino, desesperado,
vagando o olhar sobre as pilhas de cadáveres
- homens que partiram das suas terras para virem
apodrecer aqui, adubo amontoado.
O poeta escreve sobre os mortos! Recorda
as infâncias tão próximas, as lágrimas na estação,
os beijos da família, o abraço dos amigos,
o comboio enfeitado de flores e bandeiras.
Estendidos na planície revolvida
nem moscas nem traições os incomodam.
Uma bomba transformou-os em quietude,
as mãos vazias, os amores parados...
Livres da angústia pela morte,
não sofrerão doenças ou velhice.
Haverá missas pela sua alma
e trigo semeado, em breve, neste solo.
Cada um deles está rígido e perfeito
com direito a um crepe no retrato.
Imperfeita, no conjunto, só a bomba,
mas trabalha-se nela com afinco.
Egito Gonçalves
5 comentários:
A barbárie nunca satisfaz os bárbaros...
Abraço
Continua a aperfeiçoar-se afincadamente, sim, até que nem sequer os corpos restem...
Fernando Samuel
De facto continua-se afincadamente a investir no impensavél...
beijos
Quando estiver pronta já nada restará...
Um beijo, sim!
É preciso lutar todos os dias, contra esta grande verdade!
Não basta pedir Paz, temos de exigir Paz!
Abraço
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