Europeísmo é Colaboracionismo



O Ecofin, reunido ontem, apoiou por unanimidade a aplicação de sanções a Portugal e Espanha por incumprimento dos objectivos do défice pela Comissão Europeia. Sim, a mesma Comissão Europeia cujo Presidente já disse que não aplicará sanções a França pelo mesmo motivo porque «a França é a França». E sim, unanimidade quer dizer todos, inclusive o Ministro das Finanças grego, do Syriza. Os europeístas são todos boa gente.

Elefante no meio da sala da política europeia, sobretudo da política da esquerda, o antieuropeísmo revela-se em absoluto indissociável da causa da liberdade e da revolução. O cárcere europeu, xenófobo, securitário, neoliberal, antidemocrático, e crescentemente agressivo, onde as vergastadas caem sempre sobre os mais pobres, e onde toda e qualquer instituição consagrada em tratados não passa de uma entidade ficcional, é um lugar irrespirável para qualquer pessoa com o menor respeito pelas liberdades elementares. É-o ainda mais para quem não tolera o esmagamento dos trabalhadores pelo capital, que esta organização leva a efeito. De uma prisão deste tipo só nos resta libertar-nos, sem olhar para trás. Sem alimentar ilusões, vergonhosas nesta fase dos acontecimentos e com tudo o que já vimos, na possibilidade de regenerar essa mesma prisão. Como nunca antes, o europeísmo, o mais tangencial europeísmo, é colaboracionismo.

A esquerda está portanto interpelada pela história para assumir, de uma vez, as tarefas de libertação anti-imperialista que lhe cabem. Sem amarrar o proletariado aos interesses de uma pretensa burguesia patriótica, sem ceder a um etapismo processional e dilatório, sem dissolver os interesses do proletariado no das classes intermédias em defesa de uma democracia geral e abstracta (a tal que Lenine atirava a Kautsky que não existia), rumando ao socialismo, a esquerda deve começar por romper com a UE. Toda e qualquer organização que não perceba ter esta tarefa, que titubeie e estremeça diante dela, que hesite e se esconda em meias frases e meias fórmulas, não merece o apoio das massas. Saibamos, porque nunca foi tão claro fazê-lo, romper pela via que nos vai libertar, evitando os becos sem saída.

2 comentários:

cid simoes disse...

Foi com esta linguagem que Durão Barroso iniciou a sua brilhante carreira.

João Vilela disse...

E foi com essa que a Zita Seabra e o Pina Moura abriram porta ao salto para o grupo parlamentar do PSD e o conselho de administração da Iberdrola.