UMA LIÇÃO DE POESIA, UMA LIÇÃO DE MORAL
À memória de Paul Éluard
Estudaste a bondade aprendeste a alegria
iluminaste a noite com a estrela
e o desejo com a necessidade
Comunicativo bom inteligente
soubeste sofrer sem destruir a vida
sem chamar pela morte
Soubeste vencer o íntimo lazer
as absurdas manias que a solidão instala
no coração virado na cabeça perdida
Soubeste mostrar o mais secreto amor
numa alegria feroz perfeita pública
capaz de provocar o ódio e a ternura
Em todas as frentes que por ti passavam
contra-atacaste repelindo o mal
com pesadas perdas para o inimigo
E na miséria que subia aos rostos
puseste a nu a resistência a esperança
e um futuro sorriso
Enquanto velhas feridas se fechavam
tua poesia abriu-se e hoje é comum
e transparente como os olhos das crianças
Hoje é o pão o sangue e o direito à esperança
à esperança que é «um boi a lavrar um campo»
e que é «um facho a lavrar o olhar»
Andaste triste mas não foste a tristeza
sofreste muito mas não foste a dor
amaste imenso e eras o amor
Cantaste a beleza proferiste a verdade
enconstraste não uma mas a razão de ser
compreendeste a palavra felicidade
E numa extrema juventude e sob o peso
precioso da simplicidade
tudo disseste
Disseste o que devias dizer.
Alexandre O'Neill
3 comentários:
"Enquanto velhas feridas se fechavam
tua poesia abriu-se e hoje é comum
e transparente como os olhos das crianças...
...
Disseste o que devias dizer."
Será o sonho de qualquer poeta...
Abraço.
Uma lição de tudo, afinal.
Um beijo grande.
samuel: nem por todos alcançado...
Um abraço.
Maria: Éluard é muito GRANDE.
Um beijo grande.
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