POEMA

A ESPANHA


Entre nós, uns atingem os sessenta;
outros vão um pouco mais longe,
outros há que são apenas uma mancheia de ossos.

A Espanha, nossa juventude,
a Espanha é uma rosa ensanguentada que desabrochou em nossos peitos.
A Espanha, nossa amizade na penumbra da morte,
a Espanha, nossa amizade à luz da nossa esperança invencível.
E as velhas oliveiras, com talhos, e a terra amarela e a terra vermelha esburacadas.
Entre nós, uns atingem os sessenta;
outros vão um pouco mais além,
outros há muito que são apenas uma mancheia de ossos.

Madrid caiu em 39:
quantas coisas, boas ou amargas, aconteceram aos homens de então!
A Espanha caiu em 39.
Em 62 vem-nos das minas das Astúrias a sua voz colérica e fraterna,
vem-nos do fundo da nossa esperança invencível, de Bilbao.
A Espanha era a nossa juventude,
a Espanha é a vossa juventude.
A Espanha é na palma da mão a linha da vida de todos nós.


Nâzim Hikmet

3 comentários:

samuel disse...

Se Lorca não escreveu assim sobre o seu irmão de Istambul... podia ter escrito.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

A guerra civil de Espanha é a prova real do mau comportamento de todos os paíse que se diziam democratas e anti- fascistas. A ingerência de alemães e italianos, o bombardeamento de Guernica pelos alemães, a acção do Governo Português, os bandidos marroquinos e de outras nacionalidade que o Franco foi buscar para o seu exército, as atrocidades cometidas e muitas vezes apoiadas por Portugal, não tiveram um mínimo de oposição da parte desses países. E assim se afundou, num mar de sangue, uma república democràticamente eleita.
Que essa guerra seja um exemplo(mau) para todos nós cujos ideais estão expressos na poesia de Nãzim Hikmet.

Um grande abraço.

do Zambujal disse...

Este poema é nosso vizinho, como todos os do Nazim mas este mais. E é interessante a nossa posição em relação a Espanha... Faz pensar. Tão perto, tão perto e por vezes tão esquecida.

Um abraço