«ESTES PUBLICITÁRIOS SÃO UNS EXAGERADOS»

A frase em epígrafe (muito em voga em finais dos anos 60) veio-me à memória ao ler as notícias sobre o assalto à casa de Miguel Sousa Tavares (MST), no passado fim-de-semana.
A primeira dessas notícias foi dada ontem, com manchete de primeira página, pelo 24 Horas.
Hoje, o Público e o DN desdenvolvem o tema - e é notícia grande.
Segundo relato do próprio MST, o gatuno entrou pelo telhado e levou o seu computador portátil - e apenas isso - onde se encontravam fragmentos de dois livros iniciados há uns meses e a que o escritor pensava dar continuidade a breve prazo.

Confesso que fiquei surpreendido pela publicidade dada ao caso: mesmo entendendo o que tal roubo deve significar para o escritor em causa, espanta-me o alarido criado em torno da ocorrência.
Espanta-me mais ainda, o tom dramático utilizado pelo escritor («Roubaram-me o meu coração e o meu cérebro»...) e pelo seu editor, nas considerações que produziram sobre o caso.
Espanta-me sobretudo a ideia por ambos lançada de que se trata de um roubo cirúrgico, fruto de uma conspiração tendo como alvo a futura obra literária de MST - já que, tanto o escritor como o editor «não estão preocupados com o destino dos rascunhos» roubados, isto é, não lhes parece que o gatuno avance para «um edição ilegítima» dos textos, ou sequer para a sua «publicação na Internet»...
Daí a tese comum aos dois de que o roubo é «um acto direccionado para prejudicar o trabalho» de MST.
«Tenho inimigos, haverá pessoas que gostariam que eu não escrevesse mais sobre alguns assuntos»: disse MST - ao que parece sem corar...
Também falando com ar sério, e igualmente sem corar, o editor vê no roubo «um atentado censório à liberdade de expressão e criação de um autor»...

Aqui chegado, pensei para mim: tudo isto é estranho, muito, muito estranho...
E por mais voltas que dê à cabeça não consigo entender o que é que levaria um indivíduo ( ou vários) a pensar que roubando parte de dois textos de um determinado autor o impediriam de continuar a escrever sobre alguns assuntos»...
E muito menos entendo que interesse teria o tal indivíduo (ou indivíduos) em impedir MST de continuar a escrever...
E não entendo de todo como é que um gatuno letrado como este parece ser, dá mostras de tão grande iliteracia...

Entretanto, veio-me à memória uma entrevista dada à Visão pelo editor de MST, uns meses após a publicação do romance «Equador».
Nessa entrevista, ele contava-nos que, antes mesmo de o livro estar escrito, já tinha assegurado, através de sábia operação de marketing, que a edição da obra viria a atingir os 100 mil exemplares...
E tudo isto me leva a pensar que, no caso deste roubo, o mais provável é estarmos perante idêntica operação publicitária - e que, se assim for, é caso para dizermos que «estes publicitários são uns exagerados»...

13 comentários:

Anónimo disse...

Caso de polícia? Ou de um perito em aconselhamento sobre prevenção literária?
Deve ser desagrabilíssimo que alguém nos viole, o nosso lugar sagrado, o nosso lar. A mim nunca poderão roubar trabalhos, tenho gravações de reserva.
Será que MST nunca ouviu falar numa pen ou numa disquete?
Para além disso, embora seja muito desagradável, será que ele não tem uma noção básica do que escreveu?
Estaria apenas a recolher dados?
História mal contada a dar para o anedótico e a permitir que se pense: "o que é que ele tem gravado no computador que levou a tal "cobiça"? As respostas são quase infinitas se deixarmos a nossa imaginação voar ao sabor do vento que hoje se tem sentido bastante forte.
Devo estar a ser mazinha mas enfim, de quando em vez, tenho estes pensamentos a dar para o bizarro.

Anónimo disse...

Eles esquecem que os portugueses, não são patetinhas; existem alguns que ainda pensam!
O MST ainda disse -"O ladrão que vá lá a casa e escolha o que quizer, por troca do computador"
Fim da anedota.
abraço

samuel disse...

Se for para me fazer comprar (ou ler) livros do Miguel Sousa Tavares, podem continuar a esforçar-se... estou imunizado.
MST há só um, o do Brasil e mais nenhum!

Abraço

Ana Camarra disse...

Ptonto, eu já li o Equador e o Rio das Flores e até gostei, como gaja achos que o MST tem um ar algo rebelde, muito atraente, adoro a poesia da mãe, pronto ponto final paragrafo.
Daí para a frenté todo pai, boçal, agressivo, calculista e arrogante, é horrivél termos a intimidade desvassada mas cheira a esturro...

beijos

Anónimo disse...

Na mouche!

Anónimo disse...

Pois esta coisa, cheira-me a negócio... Abraço

Crixus disse...

Se o objectivo é fazer ficar com vontade de ler o MST têm de continuar a tentar, pois ainda não fez efeito em mim. Abraço

samuel disse...

...para além de que desde que vi este título no 24 horas, de madrugada, naquele programa que mostra as primeiras páginas dos jornais, já o tinha fisgado para um post, mas esqueci-me de o dizer no primeiro comentário. :)

abraço

Maria disse...

Cheira muito a "queimado". Há por aí um blogue que defende que isto foi vingança por MST ter aplaudido (u)magalhofa na tvi. Não sei. Cá pra mim ele ficou chateado por não terem deixado lá o "azulinho" de brincar...

Um beijo grande

Hilário disse...

Que rico tema para uma telenovela.

Um abraço

Anónimo disse...

Se lhe tivessem roubado umas garrafas de uísque seria mais deprimente.

Anónimo disse...

Ele que vá à feira da ladra pois foi lá que a PJ encontrou o computador roubado que muito provavelmente tinha romances policiais e de terror, mas disto pouco se tem falado: bizarro, não é?

Fernando Samuel disse...

poesianopopular; na verdade, até parece anedota.
um abraço.

samuel: providencial imunização...
Um abraço.

ana camarra: eu também adoro a poesia da mãe...
Um beijo.

salvoconduto: um abraço.

ludo rex: pois parece-me que o teu cheiro está afinado...
Um abraço.

crixus: em mim também não, li o primeiro e chegou.
Um abraço.

samuel: e fizeste um bom post.
Um abraço.

maria: lá que é tudo muito estranho, é...
Um beijo grande.

hilário; aí está uma boa ideia...
Um abraço.

antuã: o uísque talvez não seja tão publicitável...
Um abraço.

cs: bizarro, muito bizarro...
Um abraço.