Mário Soares e Manuel Alegre marcaram encontro no DN de terça-feira.
Razão: a «crise financeira» e a «esquerda».
Dizem, no essencial, o mesmo, por vezes quase pelas mesmas palavras.
Em ambos os casos, trata-se de textos de desbragada auto-promoção: na brilhante síntese de Alegre, ficamos a saber que, em relação à «crise» como em relação à «esquerda», ambos tiveram «razão antes de tempo» - já que, em devido tempo, previram a «crise» e ensinaram à «esquerda» o que deveria fazer.
Só que ninguém os ouviu - e agora, é isto...
Ouçamo-los, assumindo-se como gurus da «esquerda»:
«Mas onde está a esquerda?» - pergunta Alegre.
E responde: «Talvez algo de novo possa surgir da vitória de Obama».
E Soares: «Obama é sem dúvida uma esperança».
E Alegre: «Uma nova esquerda só poderá nascer de rupturas das diferentes esquerdas consigo mesmas».
E Soares: «É necessário repensar a esquerda (...) se quisermos vencer a crise e substituir o sistema».
Aqui, impôs-se-me uma pausa, de modo a tentar refazer-me do sobressalto que me assaltou face à revolucionária postura soarista: «substituir o sistema», disse ele!
Substituir o sistema capitalista? - perguntei-me.
Soares, dando sinais de me ter ouvido, respondeu: (Sim), «não se trata de destruir o capitalismo financeiro para refundar outro capitalismo», nem «de proceder à mudança necessária para que tudo fique na mesma»; trata-se, isso sim, proclamou Soares, de... «manter a economia de mercado introduzindo-lhe regras éticas e jurídicas»...
Entendi-te: as «regras éticas e jurídicas» são... «a mudança necessária para que tudo fique na mesma»...
Mas a total convergência de ideias (e de preocupações...) entre Soares e Alegre - sobre a «esquerda» e sobre a «crise» - atinge o clímax quando se debruçam sobre... o futuro.
Isto é: a «crise» é grave e comporta perigos graves, entre eles o de poder despertar ideias... más...
E isso preocupa - e de que maneira! - os dois intrépidos críticos do «capitalismo».
Por isso, avisam, previnem e alertam contra essas ideias más.
Diz Soares: «substituir o sistema capitalista», sim, mas nunca por nunca ser «restabelecendo o dogmatismo da cartilha marxista, na leitura que dela fizeram Lenine, Estaline e Mao...».
E diz Alegre: (substituir o sistema capitalista), sim, mas nunca por nunca ser «para a mirífica repetição da revolução russa de 1917».
E tudo isto me leva a pensar que eles estão com medo... de alguma coisa...
E tudo isto confirma que com anticapitalistas destes... o capitalismo pode dormir descansado.
Razão: a «crise financeira» e a «esquerda».
Dizem, no essencial, o mesmo, por vezes quase pelas mesmas palavras.
Em ambos os casos, trata-se de textos de desbragada auto-promoção: na brilhante síntese de Alegre, ficamos a saber que, em relação à «crise» como em relação à «esquerda», ambos tiveram «razão antes de tempo» - já que, em devido tempo, previram a «crise» e ensinaram à «esquerda» o que deveria fazer.
Só que ninguém os ouviu - e agora, é isto...
Ouçamo-los, assumindo-se como gurus da «esquerda»:
«Mas onde está a esquerda?» - pergunta Alegre.
E responde: «Talvez algo de novo possa surgir da vitória de Obama».
E Soares: «Obama é sem dúvida uma esperança».
E Alegre: «Uma nova esquerda só poderá nascer de rupturas das diferentes esquerdas consigo mesmas».
E Soares: «É necessário repensar a esquerda (...) se quisermos vencer a crise e substituir o sistema».
Aqui, impôs-se-me uma pausa, de modo a tentar refazer-me do sobressalto que me assaltou face à revolucionária postura soarista: «substituir o sistema», disse ele!
Substituir o sistema capitalista? - perguntei-me.
Soares, dando sinais de me ter ouvido, respondeu: (Sim), «não se trata de destruir o capitalismo financeiro para refundar outro capitalismo», nem «de proceder à mudança necessária para que tudo fique na mesma»; trata-se, isso sim, proclamou Soares, de... «manter a economia de mercado introduzindo-lhe regras éticas e jurídicas»...
Entendi-te: as «regras éticas e jurídicas» são... «a mudança necessária para que tudo fique na mesma»...
Mas a total convergência de ideias (e de preocupações...) entre Soares e Alegre - sobre a «esquerda» e sobre a «crise» - atinge o clímax quando se debruçam sobre... o futuro.
Isto é: a «crise» é grave e comporta perigos graves, entre eles o de poder despertar ideias... más...
E isso preocupa - e de que maneira! - os dois intrépidos críticos do «capitalismo».
Por isso, avisam, previnem e alertam contra essas ideias más.
Diz Soares: «substituir o sistema capitalista», sim, mas nunca por nunca ser «restabelecendo o dogmatismo da cartilha marxista, na leitura que dela fizeram Lenine, Estaline e Mao...».
E diz Alegre: (substituir o sistema capitalista), sim, mas nunca por nunca ser «para a mirífica repetição da revolução russa de 1917».
E tudo isto me leva a pensar que eles estão com medo... de alguma coisa...
E tudo isto confirma que com anticapitalistas destes... o capitalismo pode dormir descansado.
12 comentários:
Para além de concordar com a tua conclusão, só me lembra aquela frase lapidar do "Leopardo": è preciso que isto mude para ficar tudo na mesma!
Podiam ser mais originais!
beijos
Bem descansado...
Abraço
Claro que estão com medo!... Já vão um e o outro, a caminho da idade em que uma pessoa deve começar a preocupar-se seriamente com aquela coisa maluca da injecção atrás da orelha, que toda a gente sabe que os comunistas dão...
Abraço
Este arrazoado de afirmações fez-me rir à gargalhada ( devia ter chorado...). Não dá para contar aos meus netos, ou dará?
Como se podem dizer tantas palavras e não se dizer nada?
Ou dizer muito no sentir de alguns, pelo menos, deles próprios?
Pela amostra foi uma "excelente" comunicação!
Preencheu tempo, e provavelmente encheu de orgulho os intervenientes ao sentirem que foram de uma "coerência" digna das grandes cabeças que têm.
Desta vez concordo, completamente consigo, na conclusão explícita no último parágrafo.
Um abraço
E que importa a opinião de quem a esperança de vida passou a ser de um dia!
A mim sôa-me ao canto do cisne!
É velho o ditado - com ferros matas, com ferros morres,e, existe gente com a consciência muito pesada.
Quem sabe, se a globalização ainda vai servir ao Socialismo?
E então eles dirão que era essa a intenção.
Abraço
Só tu me fazes ler o que dizem os dois amigos do DN.
Eles não estão sossegados e têm razões para isso...
Um beijo grande
Eles sabem que o sonho!... por isso têm medo. por isso nos calam em nome da democra-cia.
ana camarra: o Lampedusa traduziu, numa frase, uma prática secular.
Um beijo.
ludo rex: direi mesmo mais: bem descansado...
Um abraço.
samuel: então não é que me descobriste o jogo?: ainda ontem estive aqui a preparar as seringas...
Um abraço.
maria teresa: não dizendo nada... dizem tudo o que lhes vai na alma, não é?
Um abraço.
poesianopopular: esta globalização só é má porque é capitalista...
Um abraço.
maria: eles são uma espécie de ventríloquos...
Um beijo grande.
antuã: eles sabem que nós sabemos que... venceremos.
Um abraço.
NEM A CRISE FEZ ESSES SENHORES, REPENSAR UM POUCO NAS BARBARIDADES QUE APREGOAM AOS QUATRO VENTOS!
O MEDO DELES É QUE O POVO TOME CONSCIENCIA DAS MENTIRAS QUE IMPIGIRAM AO LONGO DOS TEMPOS...
Fernando,
Estes dois senhores fizeram parte da corja que elaborou este plano neoliberal que levou este País e a Europa à situação em que está.
Quanto ao medo,´há um velho ditado que diz"Quem tem cu, tem medo".
Um Abraço
Mais uma excelente análise! Só a mim me escapam estas brilhantes entrevistas, (acho que tenho tendência a evitá-las...) Também nunca consegui colocar o Mário Soares a responder-me pela TV ;)
Soares a dizer que Obama é a esperança diz muito do que esta esquerda é na sua essência.
Abraço e continuação
Eles têm medo porque têm consciência das barbaridades que cometeram.
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