BREL

Deste malfadado dia 9 de Outubro - que no levou o Che e o Brel - apetece-me dizer o mesmo que Vinicius disse do malfadado ano de 1973 que nos levou os três Pablos...

É à memória de BREL - poeta/músico/ cantor maior da ternura, do amor, da crítica certeira a muita coisa criticável - que dedico este post.
Com um poema, é claro...


BREL

Sinto crescer rápidas amendoeiras sobre o coração
e esta tristeza é mais súbita e profunda do que todas as outras
chegando com uma voz carregada de cansaços e de feridas
chamando por Jeff em mim que recuso a solidão
e procuro alguém com quem partilhar a ternura ou conversar um pouco;
essa voz que se me prendeu aos dedos e aos cabelos e me disse
por vezes as coisas mais insuportáveis
outras vezes dirigiu a minha angústia para o mar
e fez sentir-me frágil e perdido e quase deslumbrado
embebedando-me à mesa de um Bar do porto de Amesterdão
vagueando pelos canais em busca desse irmão marinheiro que jaz
de costas numa rua húmida
com a boca fria cheia de palavras inúteis e uma camisa de riscas
cor do céu
onde tu estarás agora desafiando o Coro dos Arcanjos
para que cante as tuas canções enquanto ris das próprias lágrimas

Num pequeno quarto abre-se do teu poster uma rua para o Mundo
e saberás através desse sorriso se acaso não te for possível assistir
que por aqui continuamos a construir fábricas e fábricas de Dinheiro
povoamos o Espaço com cabines envidraçadas à espera de encontrar
a Pedra Redonda do Poder
adoramos Napalm o deus das mil cabeças esfrangalhadas
enquanto no teu País Onde Nunca Chove se tocam ainda trémulas
mãos cobertas de Pérolas de Chuva
reinventando o amor e colocando no Prato Universal
a Chanson des Vieux Amants
num gesto clandestino e admirável de um Lento Suicídio Lírico
e eu como tu repito apalermado
Ne me quittes pas! Ne me quittes pas! Ne me quittes pas!

Joaquim Pessoa

12 comentários:

Justine disse...

Ele não nos deixará, aquela voz inimitável ficará sempre a ecoar nas nossas emoções.

Ana Camarra disse...

Adoro Brell, principalmente o Ne me quite pas e a Valse a mil temps...

beijos

Anónimo disse...

Não levaram nada! Tenho-os aqui no lado esquerdo do peito!

Abraço.

Lúcia disse...

Forte post! Justíssima homenagem. Grande Joaquim Pessoa - que adoro.

samuel disse...

E este raio deste Joaquim... também devia "aparecer" mais.

Anónimo disse...

Deslumbra-me a voz de Brel.
Não o deixo... nunca!

beijo, amigo
Ausenda

Maria disse...

Não tenho como comentar o poema do Joaquim Pessoa. Digo apenas que a net hoje é tanto Brel...

Beijo grande

Anónimo disse...

Nós não deixamos morrer os nossos cantores, nem os nossos poetas!
Abraço

GR disse...

Nunca o deixamos! E ele nunca nos deixou!
Cada um de nós tem Brel no coração, nos bons ou nos maus momentos estamos com Brel.

Belíssimo poema do J. Pessoa (desse tenho saudades)

GR

Fernando Samuel disse...

justine: aquela voz, aqueles poemas...
Um beijo.

ana camarra: e Le plat pays, e... e...
Um beijo.

salvoconduto: e eu também...
Um abraço.

lúcia: lembrar o Brel lembrando o Joaquim Pessoa...
Um beijo.

samuel: é verdade: anda muito «calado»...
Um abraço.

Ausenda: quem poderia deixá-lo?...
Um beijo.

maria: Brel e o Che andam por aí...
Um beijo grande.

poesianopopular: estarão sempre connosco.
Um abraço.

gr: sem dúvida.
Um beijo grande, camarada.

Anónimo disse...

Tantas canções de Brel que se poderiam destacar: Les bourgeois, Les Vieux (que canção, esta!), Les bonbons, Les Bigottes, etc., etc.,etc. Mas também a sua ternura, ironia, sarcasmo, amor pelos outros e a sua postura vertical.
Saudades de Brel e de Che. Ouvi-los e seguir o seu exemplo é o melhor tributo que lhes podemos prestar.
Abraço camarada

Fernando Samuel disse...

aristides: saudades de Brel e de Che: dizes bem - e continuar a luta.

Um abraço, camarada.