O presidente da Alemanha, Horst Kohler, demitiu-se na sequência de uma entrevista concedida durante a visita que fez ao contingente militar do seu país no Afeganistão - entrevista no decorrer da qual produziu declarações que puseram em polvorosa as forças dominantes na Alemanha.
Por serem declarações falsas?
Não: por serem verdadeiras.
Disse ele, na referida entrevista, que a razão da presença de forças militares alemãs no Afeganistão não é propriamente «o combate ao terrorismo»: na verdade, estão lá a defender os interesses da Alemanha.
Ou seja: «a Alemanha é um país orientado para o comércio externo e por isso também dependente do comércio externo», pelo que defender o dito «comércio externo» - defendendo as «rotas comerciais» ou impedindo «focos de instabilidade regional» - é uma questão crucial.
É óbvio que dizendo o que disse, o presidente da Alemanha não estava a criticar a presença militar germânica no Afeganistão.
Bem pelo contrário: ele acha, e disse-o sem papas na língua e sem vergonha, que «a protecção do comércio externo constitui um motivo legítimo para uma acção militar».
Só que, para os seus colegas governantes, essa é uma verdade que não deve ser dita em público: é uma verdade para ser dita apenas entre eles e nas reuniões em que vão a despacho com os representantes do grande capital germânico...
Por isso, e para castigo, obrigaram-no: primeiro, a dizer que não tinha dito o que disse; depois, a demitir-se...
Com isto tudo confirmamos o que já sabíamos: que foi ao serviço dos interesses das multinacionais que os militares alemães - e os dos EUA, Grâ-Bretanha, Portugal... - invadiram o Afeganistão e ali permanecem semeando o terror e a morte.
E que é ao serviço dessas mesmas multinacionais que os soldados alemães - e norte-americanos, e britânicos e portugueses... - dão as suas vidas no Afeganistão.
Quanto ao substituto de Kohler vai ser, seguramente, um presidente igual ao Kohler antes da entrevista fatal: um dia destes ouvi-lo-emos dizer que a presença no Afeganistão dos militares alemães - e norte-americanos e britânicos e portugueses... - é uma necessidade imposta pelo terrorismo e pela defesa da democracia, da liberdade e dos direitos humanos...
Enfim, as balelas do costume.
8 comentários:
Todas as guerras são feitas em nome do grande capital. No entanto há os que lutam por um futuro dirente e dão a sua vida na defesa de ideais. Mas esses são....."terroristas".
Um beijo.
Isto é o que se chama 'haver liberdade de expressão'... e viva a democraCIA germânica!
Um beijo grande.
Ao reconhecer a verdade: O compromisso do grande capital com os pontos negros da História, resulta nisso... No afastamento.
Um abraço.
Com esta liberdade germânica nem é necessária a censura.
Os tontos das aldeias ainda podem dizer umas verdades. Os participantes em alguma "serração da velha", também. Agora um presidente? E logo da Alemanha?!!!
Abraço.
Nada que nós não soubessemos.
Mas para os alemãoes,
Quem diz a verdade, também merece castigo!
Bjs,
GR
É dificil fingir sempre!
De vez em quando acontece uma destas - só que a tolerância que eles apregoão...
Abraço
Graciete Rietsch: maneiras de dizer...
Um beijo.
Maria: é a democracia deles...
Um beijo grande.
joão l.henrique: afastar a verdade para que a mentira reine...
Um abraço.
Antuã: sim, para quê a censura?...
Um abraço.
samuel: mentir, sim, mas... devagar...
Um abraço.
GR: para os alemães e não só...
Um beijo.
poesianopopular: há verdade que não são para ser ditas...
Um abraço.
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