A CAÇA ÀS BRUXAS (2)

«OS DEZ DE HOLLYWOOD»


No dia 24 de Novembro de 1947, dez homens do cinema foram ouvidos pela Comissão de Actividades Anti Americanas, onde, para além do fascista MacCarthy, pontificava um então jovem político chamado Richard Nixon.
Assim era dado início ao brutal e sádico processo de perseguição e repressão política que foi um dos mais sombrios momentos da história dos EUA.

«Os Dez de Hollywood» - como ficaram conhecidos - todos nomes grandes do cinema norte-americano, eram: Herbert Biberman e Edward Dmytryk, realizadores; Adrian Scott, produtor; e os argumentistas Lester Cole, Albert Maltz, John Howard Lawson, Samuel Ornitz, Ring Lardner, Alvah Bessie e Dalton Trumbo.

Os interrogatórios a que foram submetidos assentavam na pergunta-chave: «É, ou foi, membro do Partido Comunista dos Estados Unidos da América?» - após o que, os inquiridos eram intimados a denunciar todas as pessoas que estivessem nessa situação e a fornecer informações circunstanciadas sobre a matéria.

«Os Dez de Hollywood» - todos - recusaram responder ao interrogatório.
Foram condenados: oito deles, a penas de onze meses de prisão; os restantes, a penas de seis meses.

Dois casos:

1 - Edward Dmytryk: era membro do Partido Comunista dos EUA.
Após o julgamento conseguiu refugiar-se na Inglaterra, onde, com fracos recursos financeiros, realizou aquele que foi, tanto quanto sei, o primeiro filme abordando a caça às bruxas: «O Preço da Vida» - por muitos considerado a sua obra-prima.
Em 1950 regressou aos EUA, disposto a cumprir os seis meses de prisão a que fora condenado.
Novamente sujeito aos interrogatórios da Comissão, transformou-se num delator, denunciando vários colegas, entre eles 26 camaradas seus.
Depois disso, viu abrirem-se-lhe de par em par as portas da poderosa indústria cinematográfica norte-americana, passando a dispor de orçamentos fabulosos para os seus filmes.
Todavia, Dmytryk perdera o talento e a criatividade revelados nos filmes anteriores.
Era, talvez, a traição a cobrar o seu verdadeiro preço...

2 - Dalton Trumbo: militante comunista. Recusou-se a prestar declarações aos inquisidores e foi condenado a 11 meses de prisão.
Após o cumprimento da pena, alvo de perseguições e ameaças e com todas as portas profissionais fechadas, mudou-se com a família para o México.
Aí escreveu - assinando com pseudónimo ou pedindo a amigos para que assinassem por ele - cerca de trinta argumentos para filmes.
Entre eles os de Spartacus, The Brave One (que viria a ganhar o Óscar para o Melhor Argumento em 1956 - Óscar que, pela primeira e única vez na história do Prémio, não teve ninguém a reclamá-lo: o Autor havia assinado com pseudónimo e estava longe...) e Férias em Roma (também galardoado com o Óscar e que Trumbo só viria a receber, a título póstumo, em 1993).
Em 1973, já a viver nos EUA, escreveu o seu último argumento: o do filme Papillon.
Dalton Trumbo morreu em 1976, em Los Angeles, com 70 anos de idade.
Nunca traíu.

6 comentários:

Maria disse...

"Nunca traíu"!
Devia ser esta a frase que ficasse para sempre colada ao nome de Dalton Trumbo - na história do cinema e no cemitério onde repousa.

Um beijo grande

beta disse...

Sabes Samuel, neste momento ando a lêr o que os que trairam escreveram.
Fui ao lançamento d'"O render dos ideais", do José Manuel Jara e depois de o ouvir e ler, quis conhecer os que trairam.
As suas palavras, os seus percursos, os seus destinos, os seus objectivos, as suas metas.
Então fui ler as várias intervenções dos X,XI,XII,XIII e XIV Congressos.
E encontrei os tais comunistas que nunca deixariam de o ser, os tais camaradas que temiam pelo futuro do Partido, os tais homens que queriam ajudar a reforçar o Partido, os tais militantes fidelissimos que apenas desejavam uma nova via para o socialismo, outros ainda que viam o futuro do Partido ameaçado por quem insistia em ser marxista leninista!!!
Zita Seabra, José Barros Moura, António Mendonça (exactamente, o ministro), Raimundo Narciso, Joaquim Pina Moura,José Luís Judas, Mário Lino e muitos outros, fizeram parte desses comunistas de mão cheia... de coisa nenhuma.
Também eles trairam. Mas pior ainda, trairam-se!!
Hoje são muitos mais os que os desprezam do que os que os admiram.
Muitos subiram pelo PS e com isso têm grandes reformas asseguradas; outro(a)s batizaram-se e travestiram-se; muitos ainda, não conseguindo valer por si, continuam a ser os ex.
Qualquer que seja o percurso seguido, têm todos um pequeno (grande)pormenor em comum: venderam-se!
Uns por mais, outros por menos, mas todos tiveram um preço! Porque a traição tem sempre um preço!

Um abraço

O Puma disse...

Boa memória

Ana Martins disse...

Pois é, há diversas coisas que atravessam muitas facetas do ser humano. Os bons costumam ser bons nas suas diversas actividades, as pessoas de bom carácter são honestas com elas mesmas e com os outros em tudo o que fazem. A maldade, a fraqueza e a traição também têm essa carcterística de transversalidade. Um traidor num aspecto há-de se trair a si mesmo e aos outros em quease todos os aspectos da sua vida.

Aí tens porque não confio em gajos de direita em nenhum aspecto!

samuel disse...

Muitas vezes a verticalidade, embora pague muito caro por existir, "vinga-se" assim... em beleza, criatividade...

Abraço.

Fernando Samuel disse...

Maria: aí está um ideia...
Um beijo grande.

beta: os que referes estão todos bem: financeiramente´é claro, e isso basta-lhes - e foi a dar vivas ao partido que «subiram na vida»...
Um beijo.

O Puma: abraço.

Ana Martins: e é bem provável que tenhas razão...
Um beijo.

samuel: e é uma «vingança» merecida...
Um abraço.