POEMA

A VESTE DOS FARISEUS


Era um Cristo sem poder
sem espada sem riqueza
Seus amigos o negavam
antes do galo cantar
A polícia o perseguia
guiada por Fariseus

O poder lavou as mãos
daquele sangue inocente
Crucificai-o depressa
lhe pedia toda a gente
guiada por Fariseus

Foi cuspido e foi julgado
no centro duma cidade
Insultos o perseguiram
e morreu desfigurado

O templo rasgou seus véus
e Pilatos seus vestidos
Rasgaram seu coração
Maria Mãe de João
João Filho de Maria

A treva caiu dos céus
sobre a terra em pleno dia

Nem uma nódoa se via
na veste dos Fariseus


Sophia de Mello Breyner Andresen


6 comentários:

  1. As nódoas dos fariseus são tão fundas, na pele e não nas vestes, que não se vêem a olho nu...

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  2. Conheci (e conheço) alguns destes Cristos...
    Infelizmente, também conheço alguns dos Fariseus.
    Extraordinário poema!

    Abraço.

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  3. Ups!!!
    É Muito Bom!
    tudo o que a Sra escrevia Era.. É!

    beijocasssssss
    vovómaria

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  4. Vou ter que reler toda a obra de Sophia. Não me lembrava deste poema...
    tão bonito!

    Um beijo grande.

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  5. Bonito e excelente poema. Mas os fariseus continuam por aí com "nódoas tão mal disfarçadas" mas com armas bem visíveis contra os Cristos que continuam a lutar.

    Um beijo.

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  6. Justine: e não há tira-nódoas que os limpe...
    Um beijo.

    samuel: andam por aí, uns e outros, na mesma luta de sempre...
    Um abraço.

    vovó: quase tudo... ninguém é perfeito...
    Um beijo amigo.

    Maria: vale sempre a pena reler Sophia.
    Um beijo grande.

    Graciete Rietsch: ó se continuam!...
    Um beijo.

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