POEMA

O INIMIGO


Grandes olhos frios espiam esta calma
fictícia em que vives. Olhos de inimigo
que chove sobre ti a sua areia,
migalha-te o futuro, cobiça-te os joelhos,
oferece longas jornas de fome, salários
feitos de medo e asco.

Sobre os campos, as fábricas, o inimigo
sopra no teu querer uma paralisia.
Inventa sombras, disfarça a sua imagem;
a linha que o define, fugidia,
em vão a pensarás, em vão teu lápis
tentará aprisionar o seu contorno.

Mas se avanças um passo logo o vês
nesses olhos que tentam fascinar-te.


Egito Gonçalves

5 comentários:

  1. Mesmo assim... é preciso ir avançando um passo... e outro...

    ResponderEliminar
  2. São olhos enganadores, com palavras mascaradas.
    Só alguns se deixam fascinar/aprisionar,
    Mais tarde quando lhe tiram a máscara é, tarde demais.
    Os nossos passos têm ser dados, com toda a firmeza!

    GR

    ResponderEliminar
  3. samuel: passo a passo, lentamente, a pouco e pouco... lá chegaremos...
    Um abraço.

    GR: infelizmente são muitos, ainda, os que se deixam aprisionar...
    Um beijo.

    Ana Camarra: até que um dia...
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  4. Uma pessoa ausenta-se dois dias e quando chega... tem tanta poesia para ler... que bom!
    Há palavras que são eternas, como as deste poema. Obrigada.

    Um beijo grande

    ResponderEliminar