POEMA

O MORTO NA PRAÇA DE BEYAZIT

Um morto está deitado,
um jovem de dezoito anos,
ao sol dos dias,
à noite com as estrelas,
na Praça de Beyazit em Istambul.

Um morto está deitado:
segura numa mão o seu livro de estudo,
na outra o sonho interrompido antes de ter começado
em Abril no ano de mil novecentos e sessenta,
na Praça de Beyazit em Istambul.

Um morto está deitado.
Foi abatido,
e a ferida da bala
abre-se-lhe na fronte como um cravo vermelho,
na Praça de Beyazit em Istambul.

Um morto está deitado,
o sangue a cair na terra, gota a gota,
até ao dia em que o meu povo em armas
com cantos de liberdade
vier tomar de assalto a praça grande.

Nazim Hikmet

8 comentários:

  1. "O COMUM DA TERRA
    (ode a Vasco Gonçalves)

    Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
    Quem conheça o sul e a sua transparência
    também sabe que no verão pelas veredas
    da cal a crispação da sombra caminha devagar.
    De tanta palavra que disseste algumas
    se perdiam, outras duram ainda, são lume
    breve arado ceia de pobre roupa remendada.
    Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
    era morada e instrumento de alegria.
    Esse eras tu: inclinação da água. Na margem,
    vento areias mastros lábios, tudo ardia.

    Eugénio de Andrade

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  2. Infelizmente, em todo o lado existe uma destas praças grandes... até dentro dos seres humanos.

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  3. aaria teresa: creio que este belíssimo poema de eugénio de andrade já por aqui passou, por ocasião do aniversário da morte do Companheiro Vasco. Mas não desista...

    samuel: e talvez essas sejam as mais difíceis de libertar...

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  4. Bonito poema de exaltação e incentivo e força para continuarmos a luta!

    Obrigada

    Um beijo grande

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  5. maria: até tomarmos de assalto... o futuro...

    Um beijo grande.

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  6. Pungente e cheio de força e esperança, este grito. Belo também

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  7. o sangue derramado pelos companheiros é a força da Liberdade dos Povos.

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  8. justine: assim como quem diz que o futuro é nosso.

    antuã: até porque «os mortos não os deixamos para trás abandonados»...

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