POEMA

ESTA GENTE

Esta gente cujo rosto
às vezes luminoso
e outras vezes tosco

ora me lembra escravos
ora me lembra reis

faz renascer meu gosto
de luta e de combate
contra o abutre e a cobra
o porco e o milhafre

Pois a gente que tem
o rosto desenhado
por paciência e fome
é a gente em quem
um país ocupado
escreve o seu nome

E em frente desta gente
ignorada e pisada
como a pedra do chão
e mais do que a pedra
humilhada e calcada

meu canto se renova
e recomeço a busca
de um país liberto
de uma vida limpa
e de um tempo justo.

Sophia de Mello Breyner Andresen

5 comentários:

  1. Sophia, Sophia...
    porque pariste tu coisa tão vil?


    Agora a sério. A sua poesia é brilhante.
    O seu maior defeito... é mesmo o Miguel Sousa Tavares.


    bjs

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  2. Muita falta faz... não parar de renovar, de recomeçar...

    Abraço

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  3. ....
    "de um país liberto
    de uma vida limpa
    e de um tempo justo"

    A força das palavras de Sophia...
    Obrigada!

    Um beijo

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  4. A força deste poema, contagia.
    A Sophia de Mello Breyner tinha um sorriso meigo como a brisa do mar, mas a força de um tufão nas palavras.

    GR

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  5. Belíssimo. Lê-se, e relê-se e apetece ler de novo, sempre.

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