MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA
OU
O ITINERÁRIO INELUTÁVEL
Minúcia é o labirinto Muro por muro
pedra contra pedra livro sobre livro
rua após rua escada após escada
se faz e se desfaz o labirinto
Palácio é o labirinto e nele
se multiplicam as salas e cintilam
os quartos de Babel roucos e vermelhos
Passado é o labirinto: seus jardins afloram
e do fundo da memória sobem as escadas
Encruzilhada é o labirinto e antro e gruta
biblioteca rede inventário colmeia -
Itinerário é o labirinto
como o subir de um astro inelutável -
Mas aquele que o percorre não encontra
toiro nenhum solar nem sol nem lua
mas só o vidro sucessivo do vazio
e um brilho de azulejos íman frio
onde os espelhos devoram as imagens
Exauridos pelo labirinto caminhamos
na minúcia da busca na atenção da busca
na luz mutável: de quadrado em quadro
encontramos desvios redes e castelos
torres de vidro corredores de espanto
Mas um dia emergiremos e as cidades
da equidade mostrarão seu branco
sua cal sua aurora seu prodígio
Sophia de Mello Breyner Andresen
Muito lindo este poema.
ResponderEliminarTambém gosto muito da pintura de Helena Vieira da Silva, porque os seus quadros,muito à sua maneira, mostram-nos tudo o que ela nos quer dizer.
Também neste emaranhado de situações que é o nosso dia a dia, seremos capazes de encontrar o futuro por que lutamos.
Um beijo.