POEMA

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Cada manhã
recebemos no telégrafo o pão que nos impõem,
o que em agonia mastigamos vigiando
a dolorosa digestão: passará
nas tripas?

Leveda negro este pão da morte
a que não escaparemosNegrito
sem destruir esse forno de sombras
onde coze
a incurável ferida que rasgará as entranhas da terra.

Que outra coisa comer se é este o pão
que nos fere a gargaNegritonta a cada fome
onde quer que estejamos?

O tempo morde-nos os ossos. A tenaz
aperta-nos a voz sob os detritos.
Que casulo protege da farinha
assassina? Saiamos para a luz, Façamos
de toda a pedra bala
antes que o relâmpago irrompa e a música
seja o leve tombar da poeira radioactiva.


Egito Gonçalves

3 comentários:

  1. "Destruir o forno..."

    Bela ideia! E já agora, acabar com a estirpe de tal "farinha"...

    Abraço.

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  2. Nem sei o que dizer. Este poema é fortíssimo. E o verso "O tempo morde-nos os ossos." é uma imagem belíssima...

    Um beijo grande.

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  3. Tantos países depois de Hiroshima, Nagasaki, Vietnam,Coreia para os quais , ainda hoje, a música é "o cair de poeira radioactiva" !!!!

    Um beijo.

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