POEMA

BALADA DAQUELE QUE CANTOU NA TORTURA


E se houvesse que voltar
atrás eu voltaria
Uma voz sobe dos ferros
e fala de um outro dia

Dizem que na sua cela
dois homens tinham entrado
Sussurravam: Capitula
vê-se que estás cansado

Podes viver a vida
acata os nossos conselhos
diz a palavra que livra
e viverás de joelhos

E se houvesse que voltar
atrás eu voltaria
A voz que sobe dos ferros
fala já para o novo dia

Só uma palavra e a porta
abre-se logo e tu sais
Assim o carrasco exorta
sésamo: Não sofras mais

Uma palavra só mentira
o teu destino retém
na doçura das manhãs
pensa pensa pensa bem

E se houvesses que voltar
atrás eu queria ir
A voz que sobe dos ferros
fala aos homens do porvir


Aragon

6 comentários:

  1. Numa palavra vender a Honra e a sua condição de Homem de coluna vertical? NUNCA!!!!!
    Belo poema.

    Um beijo grande.

    ResponderEliminar
  2. Muito bom!
    (e a tradução também)

    Abraço.

    ResponderEliminar
  3. Muito bem, Aragon e obrigado ao colectivo do «Cravo de Abril» pela sua publicação.

    (Jorge)

    ResponderEliminar
  4. "E não falou!!!!"
    Esta fantástica frase aplica-se a tantos seres torturados até à morte
    sem terem sequer feito uma denúncia que porventura lhes salvaria a vida,
    É uma frase de bom cinema de resistência, mas também referente a HERÓIS da vida real.

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  5. Fala aos homens do porvir
    Fala aos homens d´agora
    Daqueles que a sorrir
    Sem vergar se vão embora

    ResponderEliminar
  6. Maria: nunca, seja qual for a situação.
    Um beijo grande.

    samuel: é da Luiza Neto Jorge...
    Um abraço.

    Jorge: um abraço, camarada.

    Graciete Rietsch: nos nossos 90 anos de História temos muitos exemplos desses.
    Um beijo.

    Bolota: muito bem!
    Um abraço.

    ResponderEliminar