POEMA

JOGO DO LENÇO


Trago no bolso do peito
um lenço de seda fina,
dobrado de certo jeito.
Não sei quem tanto lhe ensina
que quanto faz é bem feito.

Acena nas despedidas,
quando a voz já lá não chega
por distâncias desmedidas.
Depois, no bolso aconchega
as saudades permitidas.

Também o suor salgado,
às vezes, enxuto a medo,
que o lenço é mal empregado.
E quando me feri um dedo,
com ele o trouxe ligado.

Nunca mais chegava ao fim
se as graças todas dissesse
deste meu lenço e de mim,
mas uma coisa acontece
de que não sei porque sim:

Quando os meus olhos molhados
pedem auxílio do lenço,
são pedidos escusados.
E é bem por isso que penso
que os meus olhos, se molhados,
só se enxugam no teu lenço.


José Saramago

6 comentários:

  1. Só se enxugam no teu lenço.
    As lágrimas do meu amar
    Polvilhadas em incenso
    Benzidas com ar de mar

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  2. O "lenço" dos outros parece sempre mais acolhedor...

    Abraço.

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  3. Bolota: gosto.
    Um abraço.

    Graciete Rietsch: e com alguma ironia...
    Um beijo.

    samuel: é reconfortante...
    Um abraço.

    Justine: e com aquele sorriso subentendido...
    Um beijo.

    Maria: é, não é?...
    Um beijo grande.

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