POEMA

AO MORRER


Ao morrer, nada mais me importará.
Por antecipação, nem já me importa.
Com consciência, pois, do paradoxo,
é que ouso dizer com bonomia
que até quem se incomode a acompanhar-me
o corpo hirto, inerte,a apodrecer,
ao cemitério sossegado e claro,
o fará com desgosto meu actual.
Nunca gostei de incomodar ninguém.
Mas quem não quero lá, fique isto assente,
são padres, charlatães, capitalistas,
para nem morto suportar ofensas.


Armindo Rodrigues

6 comentários:

  1. Continua a importar-lhe as coisas essenciais!

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  2. E não deve ter tido muitos, não... felizmente! :-)))

    Abraço.

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  3. Este poema é fantástico!
    Também não quero, para que se saiba!

    Um beijo grande.

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  4. Por motivos como esse e outros semelhantes é que Armindo Rodrigues é "um dos meus poetas".

    Um beijo.

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  5. justine: que, no entanto, parecem tão banais...
    Um beijo.

    samuel: felizmente, não teve, mas tomou medidas prévias específicas, por exemplo, num artigo que escreveu para o Diário proibiu expressamente mário soares de ir ao seu funeral...
    Um abraço.

    Maria: e eu também não...
    Um beijo grande.

    smvasconcelos: vale mais prevenir...
    Um beijo.

    Graciete Rietsch: e dos meus...
    Um beijo.

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