POEMA

AMOSTRA SEM VALOR


Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível;
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para o infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.


António Gedeão

8 comentários:

  1. micro-cosmos de infindáveis mistérios.
    abraço do vale

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  2. Angústias de poeta?

    Um beijo grande.

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  3. Um bom retrato aos que pensam que o centro do mundo é o nosso "eu". Porém, nada somos e nada se faz sem o “nós”.
    Mais um grandioso poema.

    Bjs,

    GR

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  4. Importante é o nosso eu integrado num nós que não contrarie a nossa individualidade. Um eu que conjuntamente com o nós caminhe em direcção a um outro futuro. Um eu sem cedências, mas com convicções.
    É assim que eu interpreto o poema de Gedeão, que me recorda um outro de que transcrevo esta quadra
    "Canta, canta. amigo canta
    Vem cantar a nossa canção
    Tu sozinho não és nada
    Juntos temos o mundo na mão"

    Um grande abraço.

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  5. Estamos num período de nebulosas bastante carregadas.

    Abraço.

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  6. Encaixar palavras que fazem versos que dizem tanto - é só para alguns!
    Tantas vezes que eu transcrevo estes dois versos, "tu sózinho não és nada"
    "juntos temos o mundo na mão"
    uma verdade incontornável, e que muitos teimam em não querer ver!
    Abraço

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  7. Belas palavras. Por muito insignificantes e imperfeitos que possamos ser, «nós» também contamos. Também somos humanidade, também somos «universo».

    Um Abraço.

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  8. Enorme universo.

    Saudações

    Mário

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