POEMA

FEDERICO GARCIA LORCA


Garcia Lorca, irmão:
sou eu, mais uma vez...
Venho negar à humana condição
a humana pequenez
da ingratidão.

Venho e virei enquanto houver poesia,
povo e sonho na Ibéria.
Venho e virei à tua romaria
oferecer-te a miséria
duma oração lusíada e sombria.

Venho, talefe branco da Nevada,
filho novo de Espanha!
Venho, e não digas nada;
Deixa um pobre poeta da montanha
trazer torgas à rosa de Granada!

Indomável cigano
dos caminhos do tempo e da ventura,
sensual e profano,
o teu génio floresce cada ano...
Venho ver-te crescer da sepultura!

Bruxo das trevas onde alguém te quis,
nelas arde a paixão do que escreveste!
Sete palmos de terra, e nenhum diz
que secou a raiz,
que partiste ou morreste!

Uma luz que é o aceno da verdade
abre-se onde os teus versos vão abrindo...
A eternidade,
na pureza da sua claridade,
sobre o teu nome, universal, caindo...

E o peregrino vem,
reza devotamente,
põe no altar o que tem,
e regressa mais livre e mais contente...
Assim faço, também!


Miguel Torga

5 comentários:

  1. "Deixa um pobre poeta da montanha
    trazer torgas à rosa de Granada!"

    Ele não era (nem se achava) um poeta pobre da montanha... mas são doi versos fantásticos!

    Abraço.

    ResponderEliminar
  2. E Lorca continua a crescer da sepultura. Porque é um dos que também caminham ao nosso lado.
    Grande poema!

    Um beijo grande

    ResponderEliminar
  3. e ponhamos tb nesse altar
    o que temos...
    dar para crescer.
    abraço do vale

    ResponderEliminar
  4. Uma tremenda homenagem deste nosso gigante, a um outro não menos colossal poeta.... Lindo!!
    beijo.

    ResponderEliminar