POEMA

O BURGUÊS


A gravata de fibra como corda
amarrada à camisa mal suada
um estômago senil que só engorda
arrotando riqueza acumulada.

Uma espécie de polvo com açorda
de comida cem vezes mastigada
de cadeira de braços baixa e gorda
de cómoda com perna torneada.

Um baú de tolice. Uma chatice
com sorriso passado a purpurina
e olhos de pargo olhando de revés.

Para dizer quem é basta o que disse
é uma besta humana que rumina
é um filho da puta é um burguês.


José Carlos Ary dos Santos

5 comentários:

  1. Num dia em que se achou mais pachorrento... :-)))

    Abraço.

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  2. E é um soneto sarcástico e delicioso, como só o Ary sabia fazer...

    Um beijo grande

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  3. É José Carlos Ary dos Santos!!!!!!! Não é necessário usar adjectivos.

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  4. Só se pode mesmo escrever assim quando se tem a capacidade do Ary dos Santos para interpretar.
    Assim andamos muitos, ou andámos, enganados com uma aparência da realidade que não era mais que o reflexo do narcisismo de uma besta.
    Todos os dias nascem serem humanos e morrem muitas bestas, mas morre quem nunca se soube vivo. Que cresça também quem a defenda, não as flácidas panças cheias de despojos de vidas inteiras, cães de coleira colorida!

    A revolução é hoje!

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  5. Para todos: Dia 4, no Coliseu, homenagem ao Ary - espectáculo com Carlos do Carmo.

    Abraços e beijos.

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