POEMA

VIAGEM ATRAVÉS DA CAMPANHA DOS 50 MIL CONTOS



Os camaradas de Portimão foram ao mar
por sua conta. Chegaram de madrugada
melhor dizendo: de manhã.

Os camaradas meteram o peixe
em grandes selhas. Escamaram,
estriparam, escalaram,

levaram os caldeirões ao lume
sopraram o lume
levantavam as tampas de quando em quando.

Sabiamente cortaram
sardinhas, lulas, polvo, tamboril,
ruivo, raia, safio.

Os camaradas salgaram, temperaram, provaram
de colher na boca, os olhos longe,
à procura do gosto perfeito dos séculos.

Os camaradas traziam os pratos que as companheiras
repartiam ponderadamente
com a ciência das velhas mães.

Os camaradas vieram servir à mesa
deixavam os pratos, levavam as senhas
perguntavam: está bom ou não está, camarada?

Os camaradas ficaram a fazer as contas.
Os camaradas ficaram a arrumar a casa.

Alguns camaradas adormeceram durante o Canto Livre.


Mário Castrim

5 comentários:

  1. Que luta e labuta tão bonita!
    (estou a adorar estes poemas do Mário Castrim.)
    beijos,
    Sílvia

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  2. Vem o sabor à boca... e tantas coisas à cabeça!

    Abraço.

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  3. Sim, tantas coisas nos vem à lembrança.

    Uma ternura cheia de força, Mário Castrim.

    bjs,

    GR

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  4. Este não sei comentar. Apenas sentir. E sentir muita saudade, e muita força para continuar...

    Um beijo, tão grande. Pela memória.

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  5. smvasconcelos: essa campanha que o Partido organizou ficou cheia de momentos cheio de beleza, como este que o poema do Castrim refere
    Um beijo.

    samuel: uma caldeirada destas, há-de ter tido um sabor único...
    Um abraço.

    GR: e a dar-nos mais vontade de lutar, lutar sempre.
    Um beijo.

    Maria: e que melhor comentário desejaria o Castrim do que esse que fazes?...
    Um beijo grande.

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