POEMA

A BOMBA


O primeiro sopro arrancou-lhe a roupa;
o imediato levou também a carne.
Ao longo da rua
durante alguns segundos correu o esqueleto.
Mas a rua já não estava,
estava toda no ar;
de lá caíam bocados de prédios, bocados
de crianças, restos de cadilaques...
O esqueleto não compreendia sozinho
aquela situação:
deixou-se tombar sobre algumas pedras radioactivas
e permitiu na queda o extravio de alguns ossos.

(Caso curioso: o coração
pulsou ainda três ou quatro vezes
entre o gradeamento das costelas.)


Egito Gonçalves

6 comentários:

  1. Este poema é FORTÍSSIMO!
    ... e arrepiante, ainda.

    Um beijo grande

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  2. De braço dado a guerra leva consigo, de um lado a morte, do outro o caos.
    Um poema triste!

    GR

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  3. Um último esforço de humanidade... apesar do caos.

    Abraço.

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  4. O que eu tenho andado a perder:)) (outras coisas ganhei, não se pode ter tudo)

    Parabéns pelo novo visual - VIVA!

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  5. Maria: «a guerra é a guerra»...
    Um beijo grande.

    GR: é a guerra...
    Um beijo.

    Ana Camarra: como a guerra...
    Um beijo.

    samuel: a diversificada condição humana...
    Um abraço.

    Justine: perde-se num lado, ganha-se noutro...
    Um beijo.

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