POEMA

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Não conheces o caminho,
mas apenas a angústia
do estômago vazio
e as promessas
que jamais se cumprem.
Sabes de cor
o que te dirão amanhã.
Não sei se ainda escutas.
Talvez tenhas uma vaga esperança
e queiras acreditar nos homens.

Não conheces o caminho
mas apenas a angústia
de todas as mentiras:
as dos outros, as tuas.
Tens o estômago vazio
e nem sequer te resta
a coragem de seres livre.

Não conheces o caminho,
mas apenas a angústia
de não confiar nas mãos que se te estendem.
Tens o estômago vazio
e aprendeste
que terás de esvaziar também o cérebro de sonhos.

Não conhecemos o caminho
porque são demasiadas
as estradas falsas
que os homens abriram.
E agora mete-nos medo a miragem...

Mas as fontes estão certas,
chega-me aos ouvidos
o murmúrio da água.
(E do sangue que vai marcando as sepulturas
dos que ousaram ser audazes de mais.)


Félix Cucurull

3 comentários:

  1. Se as fontes estão certas (e estão!) teremos que lá voltar e se for preciso, fazer todo o caminho de novo. Desta vez, já conhecendo algumas das estradas falsas...

    Abraço

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  2. Que maravilha!
    Tenho que procurar livros deste autor.

    O Samuel escreveu bem...

    Um beijo grande

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  3. samuel: e voltaremos tantas vezes quantas as necessárias...
    Um abraço.

    Maria: é um grande catalão...
    Um beijo grande.

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