POEMA

CONVERSA COM JESÚS MENÉNDEZ


Diz quem o conheceu, que trazia no olhar
toda a tristeza da país, e que era sereno e calado
como alguém que procura que a lua não saia do canavial.
Ia pelos campos, com a febre da terra na fronte,
entre discursos e bandeiras, e até uma carroça lhe servia
de tribuna para defender os nossos direitos, cana lançada
ao caminho.

Nessa época o povo ia com a vida vazia
à procura de um rincão onde semear a semente do amor,
duma Primavera onde florescer. Mas todos os sulcos estavam
secos.
A esperança parecia um chapéu de abas largas rio abaixo.

Então viram-no abrir o peito e oferecê-lo como um pedaço
de terra boa. No Tiempo Muerto a fome nublava o campo,
não se ouviam décimas nos portais das cabanas e os
cantos desapareciam misteriosamente e a miséria batia
as palmas.

Diz quem viu cair seu sangue, que sempre recorda a luz.

Agora o seu sacrifício frutifica. Estão abertas as janelas
do país. Já as canas sonham, a fábrica canta, as carroças
são carroças. Estamos a edificar um futuro forte.
E a revolução é uma fonte
derramando-se diante dos nossos olhos.


Jesús Cos Causse

5 comentários:

  1. "Oferecer o peito como um pedaço de terra boa"... é fantástico!

    ResponderEliminar
  2. Que poema empolgante, que ternura, que força!
    Mais um para esta galeria que construo, pela tua mão...

    ResponderEliminar
  3. Que poema fortíssimo!
    Um apelo à resistência e um chamamento à revolução. Belo, muito belo!

    Um beijo grande

    ResponderEliminar
  4. samuel: que de melhor se pode oferecer?...
    Um abraço.

    Justine: e vamos continuar...
    Um beijo.

    Maria: poema à nossa maneira...
    Um beijo grande.

    Ana Camarra: e com muitas razões, certamente.
    Um beijo.

    ResponderEliminar