EI-LOS!

Têm calendário: aparecem sempre em alturas certas: momentos de fortes lutas dos trabalhadores; anos de congresso; anos de eleições - enfim, quando lhes parece (a eles e sabe-se lá a quem mais) que é a melhor altura...
Também se repetem sempre no que respeita a «argumentos» utilizados.
E na indignidade.
E na desvergonha.

A semana passada foram quatro, no Porto, todos dirigentes do Sindicato dos Professores do Norte: no mesmo dia e à mesma hora anunciaram a sua saída do PCP.
Garantem, no entanto, que não se tratou de «uma posição conjunta, mas de uma mera coincidência»...
«Coincidência» será, também, o momento pelos quatro escolhido: quando a difícil e histórica luta dos professores contra a política de Sócrates se agudiza; quando se desenvolve uma intensa campanha procurando dividir os professores para enfraquecer a sua luta.
E cá está o «argumento» da praxe: «os sindicatos são estruturas independentes quer o PCP goste ou não goste».
Tradução minha: «independentes», para eles, significa: ao serviço dos interesses contrários aos dos trabalhadores que representam.
Como sempre, a notícia foi amplamente divulgada pelos média dominantes - que certamente não darão igual destaque à futura notícia da adesão formal dos quatro (em conjunto ou à vez) ao(s) partido(s) a que, presumivelmente, já pertencem...


Anteontem foi o Presidente da Câmara de Sines.
Em conferência de imprensa, como sempre amplamente divulgada pelos média dominantes, anunciou a sua demissão do PCP.
E cá está o «argumento» da praxe:
«Este partido está impregnado de um conjunto de características típicas de organização dogmática, com disciplina de caserna, que o tornam uma organização estalinizada, com práticas reaccionárias, envolvidas de um discurso pretensamente progressista mas, de facto, retrógrado
».
Tradução minha: neste partido não me safo; não tolero este funcionamento colectivo em que todo o bicho careta quer dar opiniões e ser ouvido; não suporto estes sectários que não me deixam fazer o que quero, como por exemplo mandar às urtigas o projecto autárquico da CDU e apoiar a política regional e nacional do PS, por isso demito-me...

Como sempre acontece, este Presidente, não se demitiu do cargo.
E porquê?
Porque, diz ele, «abandonar o cargo seria sinal de ligeireza e até de cobardia».
Traduzindo: mantendo-me como presidente, estarei em muito melhores condições para, por exemplo, encabeçar a lista do PS às próximas autárquicas.


17 comentários:

  1. Tanta ausência de vergonha!
    De respeito... por si próprio!
    O PS lança a rede, estreita a malha, mas ao contrário da lógica (a chuva cai para baixo, diria o Brecht) é o "peixe miúdo" que é apanhado... até porque se põe a jeito. São uns jeitosos!
    Parabéns pelos (novos) dotes de tradutor!

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  2. Também gostei do rigor da tradução, embora também ache que há aqui um também rigoroso diagnóstico...

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  3. Tradução e diagnóstico certeiros.
    Bom é que saiam. Entretanto, a cada mês, muitas dezenas vêm e entram no Partido. Estes, porque não vêm em busca de prebendas ou lucros pessoais, são melhores e, connosco juntos, são garantia sólida do futuro!
    Saudações fraternas.

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  4. É twmpo de clarififações. Ficamos todos à espera.
    Abraço

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  5. Sempre houve e haverá traidores. A sua vergonha, porém, é igual à de qualquer agente técnico por fax.

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  6. Como se costuma dizer:
    Só faz falta quem cá está!

    Abraço

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  7. As traduções são excelentes, mas os "senhores" têm razão, coitados. É que a história tem a mania de dar razão aos comunistas. Rais parta a História, carago!!!

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  8. Fernando,

    A corrupção é uma lacra.

    A revolução é hoje!

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  9. Há que compreender.
    A Fundação recentemente criada - ao que consta - paga bem e a horas.
    E a vida está tão difícil...
    Rui Silva

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  10. samuel: muitos anos de experiência...
    Um abraço.

    do zambujal: jeitosos e bem desapessoados...
    Um abraço.

    Luisa M.: é possível. Aguardemos.
    Obrigado pela visita.

    júlio filipe: e são esses que contam - o resto é... resto.
    Abraço grande.

    Aristides: eles andam por aí...
    Um abraço.

    Antuã: e habitam todos a mesma casa comum da desvergonha...
    Um abraço.

    João Filipe Rodrigues: nem mais!
    Abração.

    alex campos: por isso eles a reescrevem...
    Um abraço.

    CRN: e são muitos os caminhos por onde ela circula...
    Um abraço.

    Rui Silva: e «eu quero é ganhar o meu»...
    Um abraço.

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  11. Pois, entao é por causa "por exemplo" do PS?
    a isto se aplica o ditado popular: "quem feio o é, bonito lhe parece".
    claro, o PCP por mais saidas que tenha(e isto é mais uma derrota para o PCP) continua a ser, se calhar, "o mar de rosas".
    Pois.

    J.Z.Mattos

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  12. Fernando Samuel

    Aflige-me as pessoas terem um preço.
    Principalmente porque acho que a dignidade não o têm.
    Infelizmente sabemos que existe sempre quem se venda, existe sempre quem se agarre ao poder com uma droga.
    è claro que o timming é este daqui para a frente é ver o strip tease de principios até nada sobrar.

    beijos

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  13. J.Z. Mattos: há aí uma falhazinha no ditado popular... apareça sempre.


    Ana Camarra: a dignidade custa muito a quem a tem; a indignidade dá muito a quem a tem...
    Um beijo.

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  14. "Quem feio ama, bonito lhe parece"

    J.Z.Mattos

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  15. Até me chateia escrever logo aqui por baixo, mas esperemos meia dúzia de meses (ou nem tanto) e veremos as listas...
    Já se esperava mesmo...

    Um beijo grande
    (e tanto para ler, que bom!)

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  16. Maria: talvez nem seis meses...
    Um beijo grande.

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