POEMA

CENTRO COMERCIAL


Agora a morte é diferente,
facilitaram-nos o desespero, a angústia
tem já ar condicionado. Em vez
dos bancos de jardim, por certo demasiado
rudes, temos enfim lugares amplos
onde apodrecer a miséria simples do corpo.

Que incalculável felicidade a de percorrer
galerias de nada tresandando a limpeza
e segurança. Aí se abandonam jovens
rebanhos sentados sorrindo ao
vazio palpável, ou ferozmente no meio
dele. Revezam-se - mas quase diríamos
que são os mesmos ainda, exaustos
de contentamento. Dêmos pois as boas vindas a
esses heróis do betão consagrado. Só eles nos fazem
acreditar no advento do romantismo cibernético.

É doce a merda que nos sepulta
e o cancro que um dia destes nos matará
há-de ser muito limpo, quase ecológico.


Manuel de Freitas

6 comentários:

  1. Não conhecia este poeta.
    Na verdade, a perda de qualidade de vida é cada vez maior.
    Centros Comerciais?
    Um cancro capitalista que não frequento!

    GR

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  2. continuamos a lutar contra o grnde capital...
    Abraço

    # Ludo Rex

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  3. Fernando,
    que não aceitem viver uma rusga.

    A revolução é hoje!

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  4. A desumanização pode apresentar-se bem "maquilhada"...

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  5. Fernando Samuel

    De facto é assim, alguns andam já mortos e não sabem, e fazem filhos sem nunca fazer amor, envelhecem sem nunca serem jovens, e vivem escravizados com a ilusão de ser livres....
    Com flores de plástico, completamente estereis, numa campa de um material plástico a imitar o marmore.
    Compradas no mesmo Centro Comercial com Praças de fingir, plantas artificiais onde se compra a crédito e á duzia a mais banal da inutilidades.

    Beijos

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  6. GR: é um jovem poeta, creio que nascido aí para os teus lados.
    Um beijo.

    Ludo Rex: até o derrotar definitivamente.
    Um abraço.

    CRN: a rusga faz parte deste tempo/espaço...
    Um abraço.

    samuel: regra geral ela «maquilha-se» bem...
    Um abraço.

    Ana Camarra: o centro comercial é «a caverna» de Saramago...
    Um beijo.

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