POEMA

DIFICULDADE DE GOVERNAR


1
Todos os dias os ministros dizem ao povo
como é difícil governar. Sem os ministros
o trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
se o chanceler não fosse tão inteligente.
Sem o ministro da Propaganda mais nenhuma mulher
podia ficar grávida.
Sem o ministro da Guerra nunca mais haveria guerra.
E atrever-se-ia a nascer o sol
sem autorização do Fuhrer?
Não é nada provável e, se o fosse,
nasceria por certo fora do lugar.

2
É também difícil, ao que nos é dito,
dirigir uma fábrica. Sem o patrão
as paredes cairiam e as máquinas enchiam-se de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
ele nunca chegaria ao campo
sem as palavras avisadas do industrial aos camponeses:
quem, senão ele, lhes poderia falar na existência de arados?
E que seria da propriedade rural sem o lavrador?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3
Se governar fosse fácil
não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos
como o do Fuhrer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
e se o camponês soubesse distinguir
um campo de uma fôrma para tortas
não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
É só porque toda a gente é tão estúpida
que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4
Ou será que
governar só é assim tão difícil
porque a exploração e a mentira
são coisas que custam a aprender?


Brecht

10 comentários:

  1. Tão actual e tão presente... Só mesmo a sabedoria de Brecht.
    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Fernando,
    4, hoje é assim, nem sempre o será, quando o conhecimento seja acessivel a todos, quando vivamos o Socialismo, quando oiçamos o Comunismo realizar-se em todos nós.

    A revolução é hoje!

    ResponderEliminar
  3. Ludo Rex: como actual é, por exemplo, o Manifesto...
    Um abraço.

    CRN: esse será o mundo novo...
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  4. Havemos de construir um Mundo Novo.

    ResponderEliminar
  5. Fernando Samuel

    Este conheço de ginjeira, li o primeiro livro dele tinha uns 13 anos, esgotei tudo o que tinha levado para férias peguei no que ia na bagagem do meu pai!´
    Apaixonei-me até hoje!

    beijo Grande

    ResponderEliminar
  6. Quem dera que o desgoverno lesse Brecht.
    Que o lê impossível ficar indiferente!
    Brecht, Sempre!

    GR

    ResponderEliminar
  7. Sempre certeiro, este tal de Brecht!
    bjs

    ResponderEliminar
  8. É um poema recorrente lá no meu sítio. Este Brecht sabia tanto....

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  9. samuel: o preto no branco...
    Um abraço.

    Antuã: lá chegaremos, talvez mais cedo do que tarde.
    Um abraço, camarada.

    Ana Camarra: uma paixão das boas!
    um beijo grande.

    gr: eles ficam indiferentes a tudo: a brecht, à luta dos professores, etc..
    Um beijo.

    Sal: e sempre actual, como se estivesse a escrever hoje...
    Um beijo grande.

    Maria: ó se sabia...
    Um beijo grande.

    ResponderEliminar