POEMA

PRIMEIRO RETRATO DO NATURAL



E
la queria perceber o que se passa.
Queria?

Passa a rua às risadas.
«Uscumunistas?»

Gritam flores da jarra.
Estão inocentes?

O telefone terrinta.
É o destino?

Na bandeja de prata, o sedativo.
Por tomar?

Na sala das porcelanas, a senhora.
Por viver.

*

De sentinela à porcelana
está Inês ou Teresa ou Ana
(Maria, deixa-se ver).
Tem à mão uma bengala
para o que der e vier:
«Se os bolchevistas entrarem,
vão ver, vão ver!
As porcelanas inteiras
é que eles não hão-de ter!»

*

Porcelana implora
Senhora insiste.
Até que a levam prà cama,
pauzinho em riste, zangada.

É uma terrina vazia
que em sonhos se suicida
à bengalada.


Alexandre O'Neill

6 comentários:

  1. Desgraçadamente, toda esta burguesia de fancaria continua entrincheirada na sua ingnorância e medo reaccionários, ameaçando tudo e todos com as porcelanas pirosas da estupidez.

    ResponderEliminar
  2. Ai que até apetece entrar para ver o que acontece(ria)...
    Teimosos, estúpidos e todos os outros nomes não dizíveis aqui.

    Um beijo grande

    ResponderEliminar
  3. Ainda têm muito medo dos comunistas.....

    ResponderEliminar
  4. Os medos perduram... Boa escolha.
    Abraços

    ResponderEliminar
  5. PRIMEIRA ADVERTÊNCIA SÉRIA

    Coaxa o tempo. Zurra quando calha.
    Pipila, o coitadinho. À beira charco, plofa.

    Não te iludas.

    Testaruda, a besta arrancará
    do meandro de túneis
    - para bramir, à luz sem uma prega,
    o tempo.

    Está atento.

    Alexandre O´Neill

    ResponderEliminar