POEMA

PRISÃO

Canta dentro de mim a confiança
da grande multidão silenciosa
que me rodeia.
Move-se uma epopeia
na rasa solidão do meu destino.
Como um búzio anodino
que na praia ressoa
a pancada da onda que magoa
as penedias,
assim eu tenho melodias
emparedadas no coração.
Pudesse a concha, como um fruto cheio
de fecundas doçuras desejadas,
abrir-se no areal de meio a meio
e libertar as notas abafadas!


Miguel Torga

4 comentários:

  1. Peronto este já conhecia!
    Adoro Miguel Torga e adoro o mar, portanto é quase perfeito.

    "Pudesse a concha, como um fruto cheio
    de fecundas doçuras desejadas,
    abrir-se no areal de meio a meio
    e libertar as notas abafadas!"

    É de génio.

    Obrigado

    Um grande beijo

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  2. Há-de abrir, Torga, há-de abrir!...

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  3. ana camarra: é Torga...
    Um beijo.

    samuel: inevitavelmente...
    um abraço.

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