POEMA NUMA ESQUINA DE PARIS
Dezenas e dezenas de pessoas passam ininterruptamente ao longo do passeio.
Umas para lá.
Outras para cá.
Umas para cá.
Outras para lá.
Mas cada uma que passa
tem de fazer na esquina um pequeno rodeio
para não se esbarrar com o par que aí se abraça.
Olhos cerrados, lábios juntos e ardentes,
tentam matar a inesgotável sede.
Através dos seus corpos transparentes
lê-se na esquina da parede:
DANS CETTE PLACE A ÉTÉ TUÉ
MAURICE DUPRÉ
HERÓS DE LA RESISTENCE.
VIVE LA FRANCE.
António Gedeão
5 comentários:
Estranho, mas não me lembrava deste belíssimo poema do Gedeão...
Oferece-nos mais Gedeão, 'tá bem??
:))
justine: tirei-o de uma edição de «Poesias Completas - 1956/1967» (com um excelente prefácio do Jorge de Sena).
A teu pedido, segue-se o «Poema da morte na estrada».
Um beijo.
RECONSTRUÇÃO
As tristes recordações da minha vida perturbam
Mais os outros que as trouxeram, do que a mim deviam,
Por não poderem ser esquecidas, serem confessadas,
Não pelos poltrões, mas pelos netos assim passadas.
Bateram leve, levemente à minha porta perto
E desperto. Ressuscitei os direitos cruzados.
Com o destino dos outros pela face marcados
Que vis vinganças, não as ponham a descoberto.
Quando as crianças empolgam casos antigos assim,
Trazem aos ombros a cruz que tanto lhes diz sim
A que querem abraçar, repulsos, como abertos.
Que vis vinganças não os deixem tão descobertos.
Bateram leve, levemente à minha porta perto
Me acordaram e do longo sono estou desperto.
Manuel José Caria Gonçalves
As observações desconcertantes de Gedeão...
maria teresa: não conhecia este poema - que acho interessante.
Obrigado.
samuel: e, neste caso, num estilo que não é seu estilo tradicional...
Um abraço.
Enviar um comentário