RUY BELO

O POETA RUY BELO morreu há trinta anos.
Figura destacada da poesia portuguesa contemporânea, Ruy Belo é autor de oito excelentes livros de poemas que, após a sua morte, foram editado num volume único: «Todos os Poemas».

O Público de hoje - em atitude que daqui se aplaude sinceramente - assinala a data da morte do Poeta com quatro páginas dedicadas ao Autor de «Despeço-me da Terra da Alegria» - divulgando extractos de algumas cartas inéditas de Ruy Belo para vários poetas, entre eles Jorge de Sena e Pedro Támen.

Também através do Público, ficamos a saber que a Casa Fernando Pessoa vai homenagear o Poeta, no próximo mês de Setembro e que da homenagem consta:

- a exibição, na Cinemateca, de quatro filmes relacionados com a poesia de Ruy Belo, ou porque deram nomes a poemas - caso de «Muriel» e «Esplendor na Relva»- ou porque foram protagonizados por actores de que o Poeta fala nos seus poemas - casos de Humphrey Bogart e Marilyn Monroe;
- e uma sessão, na Casa Fernando Pessoa, na qual os poetas Gastão Cruz, Fernando Pinto do Amaral e Pedro Mexia falarão sobre a importância, na poesia de cada um deles, da poesia de Ruy Belo.

O Cravo de Abril assinala este dia 6 de Agosto de 2008, publicando um poema -um belo poema - de Ruy Belo.


A FLOR DA SOLIDÃO

Vivemos convivemos resistimos
cruzámo-nos nas ruas sob as árvores
fizemos porventura algum ruído
traçámos pelo ar tímidos gestos
e no entanto por que palavras dizer
que nosso era um coração solitário
silencioso profundamente silencioso
e afinal o nosso olhar olhava
como os olhos que olham nas florestas
No centro da cidade tumultuosa
no ângulo visível das múltiplas arestas
a flor da solidão crescia dia a dia mais viçosa
Nós tínhamos um nome para isto
mas o tempo dos homens impiedoso
matou-nos quem morria até aqui
E neste coração ambicioso
sozinho como um homem morre cristo
Que nome dar agora ao vazio
que mana irresistível como um rio?
Ele nasce engrossa e vai desaguar
e entre tantos gestos é um mar
Vivemos convivemos resistimos
sem bem saber que em tudo um pouco nós morremos

5 comentários:

  1. Deixo-te um poeminha, que li há uns tempos:

    Para a dedicação de um homem

    Terrível é o homem em quem o senhor
    desmaiou o olhar furtivo das searas
    ou reclinou a cabeça
    ou aquele disposto a virar decisivamente a esquina
    Não há conspiração de folhas que recolha
    a sua despedida. Nem ombro para o seu ombro
    quando caminha pela tarde acima
    A morte é a grande palavra para esse homem
    não há outra que o diga a ele próprio
    É terrível ter o destino
    da onda anónima morta na praia

    Ruy Belo


    Um beijo

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  2. "How does it feel
    How does it feel
    To be on your own
    With no direction home
    Like a complete unknown
    Like a rolling stone?"

    (Bob Dylan)

    Abraço

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  3. É assim mesmo como o Ruy Belo deixou para a posteridade.

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  4. maria: e eu deixo-te um obrigado e um beijo muito grandes.

    samuel: isto anda tudo ligado...
    Abraço.

    justine: beijo grande.

    josé manangão: abraço grande.

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