POEMA

ATÉ AMANHÃ


agachados na cova da noite
pequeninos e enormes
esperávamos o homem da bicicleta

embrulhados em papel de jornal
ele transportava uma foicinha
e um martelo

mal chegado
um minuto de silêncio conspirativo
e logo o trabalho

sobre o chão húmido e rugoso
ensinava a construir
e a semear
na inteligência dos homens
no coração dos homens
na coragem dos homens

quando partia
e montava a tosca e fiel bicicleta
sabia
que na próxima vez
vinha encontrar a terra semeada de esperanças
e mais uma telha
e mais uma trave
na casa da construção

foi ontem
e amanhã se for preciso

Francisco Gonçalves de Oliveira
(In Os Tempos do Tempo)

8 comentários:

  1. Então... "Até amanhã, camaradas".
    (com ilustração de Rogério Ribeiro) :)

    Belo poema!

    Abraço

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  2. Este não conhecia, é lindo! Aparentemente de fácil interpretação mas metaforicamente riquíssimo.

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  3. Sempre que for preciso... Um Abraço e Boa Semana

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  4. É um até amanhã, Camarada, dito todos os dias....

    Um beijo grande

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  5. Não conhecia. Belo poema.
    Obrigado. Um abraço

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  6. samuel, maria teresa, ludo rex, maria, antuã, antonio lains galaamba, zambujal: francisco gonçalves de oliveira é, como facimente se deduz, um velho resistente antifascista e militante do PCP. «Até amanhã» é, um poema muito belo e muito cheio de uma serena confiança e uma inesgotável disponibilidade de luta.

    Abraços e beijos.

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