POEMA

AO MORRER...


Ao morrer, nada mais me importará.
Por antecipação, nem já me importa.
Com consciência, pois, do paradoxo,
é que ouso dizer com bonomia
que até quem se incomode a acompanhar-me
o corpo hirto, inerte, a apodrecer,
ao cemitério sossegado e claro,
o fará com desgosto meu actual.
Nunca gostei de incomodar ninguém.
Mas quem não quero lá, fique isto assente,
são padres, charlatães, capitalistas,
para nem morto suportar ofensas.

Armindo Rodrigues

4 comentários:

  1. Gosto do distanciamento, da ironia e da particular exclusão :))

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  2. Tão tarde conheci este grande poeta.
    Ajuda-me tanto a resistir!

    GR

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  3. Este era dos tesos, poeticamente falando! claro.
    Manangão

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  4. justine: o Poeta «acautelou» cirurgicamente uma «exclusão»: deixou escrito que proibia o Dr. Mário Soares de ir ao seu funeral...

    gr: ajuda-nos...

    josé manangão: poeticamente e não só: ele foi uma das pessoas com maior coragem física que conheci.

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